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Reportagem: The Aristocrats @ RCA Club, Lisboa - 18/01/2016


Foi ao virar a esquina que se desdobrou uma enorme fila para entrar no RCA entre os fans de progressivo de bilhete na mão e as dezenas de almas expectantes à espera de uma entrada fortuita, apanhados de surpresa pela lotação esgotada na estreia em Portugal dos The Aristocrats. Surpresa sim, mas também algo que se entende ao olhar para o reportório de cada uma das componentes deste tripé musical.  Guthrie Guvan, um dos guitarristas mais seguidos da actualidade pelo seu trabalho a solo e pela contribuição ao vivo (e não só) para o projecto a solo de Steven Wilson, onde é acompanhado pelo fantástico baterista Marco Minnemann, sendo estes dois completados pelo baixista integrante da banda Dethklok e membro da digressão de Steve Vai, o norte-americano Bryan Beller. Mesmo que o trio não tenha um estatuto de banda de culto (ainda! Porque caminha para lá a passos largos), a experiência e talento das suas partes explica a fantástica afluência. Sem distracções, nem demoras, os “Tres Caballeros” como se intitulam no seu último registo, iniciaram com o técnico tema “Stupid 7”, música de abertura deste disco que deu mote para mais três composições do seu novo trabalho. Foi aqui que se marcou a toada do que seria a interecção da banda com o público, em que cada compositor explicaria a história por trás de cada instrumental, começando Guvan a explanar o passado da personagem cleptomaníaca que vivia na mente dele retratada em “Jack’s Black”, seguido da experiência de Bryan no Texas quando riscou o carro à “Texas Crazypants”. Tal como a capa à la “mexican cowboy”, do último disco, os novos temas misturam a habitual fusão de prog-jazz com um som bluesy típico de um filme de western spaghetti, uma mistura deliciosa bem temperada com a total descontracção e bom humor do trio. Era simplesmente fenomenal a maneira como Guvan deslizava em escalas fluídas sem um virtuosismo rígido e com um sentimento muito próprio, bem acompanhado pelo groove do baixo de Bellar, sem esquecer a esquizofrenia extrovertida de Marco que ora tocava com baquetas, ora com as mãos, nos pratos, nos timbalões, em placas de vidro, enfim no que apanhava.

 
Com uma referência ao filme “A Serious Man” dos irmãos Coen, o trio explicou que sempre que viajavam acabavam por haver mal-entendidos com base na diversidade cultural dos intervenientes do conto, ao que estes faziam o gesto do filme para representar a “Culture Clash”, um bater de mãos semelhante ao do pugilista a entrar em combate. E assim com o tema-título do seu segundo registo, onde até um excerto extremamente dissonante da “Sweet Child of Mine” se ouviu, em tom de troça, foi feita a primeira das três visitas ao passado do grupo, também com “Flatlands” do álbum homónimo. A última visita foi “Desert Tornado”, música em que vimos Marco a tornar-se num autêntico furacão humano, a fazer um solo de bateria que durou mais de 5 minutos e que garanto, como muito pouca gente viu alguma vez na vida. Foi um autêntico malabarismo de ritmo e de truques de habilidade, uma demonstração de como girar as baquetas da forma mais original possível ao mesmo tempo que estas roçavam nas suas peças instrumentais.

Depois, de caírem os olhos aos presentes seguiu-se a última rajada de temas dos “Tres Caballeros” com espaço para uma gargalhada geral ao se fazer ouvir os animais de borracha que acompanham os músicos na sua tour, na apresentação de "Pig's Day Off"  e uma homenagem a “Breaking Bad” com a banda-sonora proposta pelo conjunto à cena em que Walter White faz rebolar um bidon com um milhões de dólares pelo deserto na forma da “Smuggler’s Corridor”. Esta última acabou o concerto com um combate de coros entre os dois géneros do público, o que provou ao trio a pouca afluência feminina ao evento, o que frizou a banda com muito pesar ser uma constante. Foi debaixo de uma ovação imensa de fazer tremer os alicerces do RCA que os The Aristocrats se despediram, agradecendo a lotação esgotada à sua primeira visita a terras lusas e declarando que iriam voltar. E pois que voltem, muitas vezes! 

Fotografia por Ana Carolina
Texto por Bruno Farinha
Agradecimentos: Clap/Box