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Vektor - "Terminal Redux" Review


Existem certos elementos recorrentes que caracterizam as bandas thrash e speed dos anos 80, mas se tivermos que eleger um em particular que tenha contribuído para tornar o metal no que ele é presentemente, então seremos forçados a escolher a ferocidade. A ferocidade de uma “Angel of Death”, de uma “Pleasure to Kill” ou, entre incontáveis outras, de uma “Agent Orange”. Sem essa ferocidade imensurável, talvez as explosões e consagrações do death e black metal entre 1989 e 1995 não tivessem ocorrido de forma tão natural. Contudo, a segunda metade dos 80 foi também prolífica em clássicos que primaram tanto pela violência musical como por um sentido mais apurado de musicalidade, mais técnico, complexo, maduro e, até, prematuro, sendo exemplos perfeitos deste “novo som” álbuns como “Punishment for Decadence”, “Piece of Time”, “Killing Technology” ou “Swallowed in Black”.

Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma - ao fazer uma retrospectiva dos últimos 35 anos, vemos as grandes lendas das décadas passadas reformarem-se para apresentar novos álbuns e digressões, o thrash revivalista ressurge cerca de 2007 e encontra-se bem e de saúde graças a estandartes como Evile, Municipal Waste e Bonded by Blood mas, principalmente, os músicos de hoje em dia criam obras que estão francamente a anos-luz dos álbuns mais técnicos dos anos 80. Não restem dúvidas de que, hoje em dia, qualquer um dos temas clássicos de cima levaria com um redondo “NÃO!” da parte de qualquer major que se preze – apenas os mais criativos/competentes encontram um lugar de destaque no competitivo mundo da música em 2016.

Assim, fui inevitavelmente empurrado na direção dos Vektor e do seu último trabalho, “Terminal Redux”. Tive a possibilidade de ver a actuação da banda há menos de um mês no Vagos Metalfest, e considerei-o o melhor concerto do dia graças ao som sofrível dos Fleshgod Apocalypse e dos Dark Funeral. Oriundos do Arizona, e muito a par dos seus conterrâneos Revocation, os Vektor praticam uma fusão tremendamente agressiva de thrash, speed e death e onde, por vezes, pontuam ainda notas de black metal. Até aqui, nada de novo, não fosse o facto de a proeza individual de cada músico e da erudição das letras e composições fazerem lembrar imediatamente uma mescla entre Nocturnus, Theory in Practice e Nuclear Assault no seu auge, mas com uma sonoridade particular e rejuvenescida. 

Conhecedor dos anteriores trabalhos da banda, decidi não ouvir o álbum até primeiro a observar ao vivo, e em boa hora o fiz – chegado a casa, a primeira coisa que fiz foi meter o disco a tocar, ainda inebriado pela prestação em Aveiro. A primeira interrogação que me assaltou (e que ao vivo passa sempre despercebido) foi a duração do álbum, cerca de 70 minutos. Pareceu-me ser uma jogada arriscada mas, afinal, foi a Earache que meteu as mãos no fogo, e quem conhece o Dan desde os primórdios da editora sabe que isso é sempre um selo de garantia de qualidade. Não obstante, até que ponto é que os Vektor estariam preparados para editar um álbum conceptual épico de 70 minutos com algumas faixas a beirar os 10 e com a última faixa a atingir uns atrevidos 13 sem provocar sono ao ouvinte? Bandas com mais de 20 anos de carreira colocam reservas a este tipo de manobras exactamente pelo risco que representam.

Os Vektor, não. A história de “Terminal Redux” revolve em torno de uma alta patente militar intergaláctica que se torna na personagem nuclear do conto após descobrir um mineral que, tudo indica, pode ser a chave para a imortalidade; de repente, encontramo-nos a ouvir uma versão aterradora de “Cosmos”, capítulo após capítulo. O álbum inicia com “Charging the Void” e os seus robustos 9 minutos de duração, uma prova de fogo facilmente superada quando nos é oferecida uma qualidade musical irrepreensível aliada a uma originalidade que nos assalta, isto após estarmos rendidos apenas ao fim do 1º minuto de música. O duo dinâmico que é o jogo de guitarras e a voz de David DiSanto exprime o que poucas bibliotecas conseguem, e as constantes alterações rítmicas e vocais entre o thrash, o death e um ou outro screech black metal são claros indicadores da distorção espácio-temporal que está para vir. O grande final desta faixa, com coros que lembram louvores aos feitos de um conquistador, é o coroar da vitória da guerra logo no fim da primeira batalha. Cedo nos apercebemos que os Vektor não estão familiarizados com o termo “prisioneiros”.

“Terminal Redux” entra na tática clássica que alterna entre as faixas mais rápidas e as mais lentas, mas sempre longas. Porém, e no caso específico dos Vektor, “longo” não significa de maneira nenhuma aborrecido ou petulante – de facto, e para contar uma história tão rica, cativante e ambiciosa como “Terminal Redux”, acho que os Vektor deveriam ter feito um álbum duplo. Com músicas com o dobro da duração. Os apreciadores mais acérrimos de thrash encontrarão balas perdidas como “Ultimate Artificer” ou “Psychotropia”, ao passo que “Pteropticon”, e “Recharging the Void” farão as delícias dos ouvintes mais exigentes no que toca a exibição técnica, com as eternas batalhas de sabres de luz de guitarras entre DiSanto e Nelson, com o plasma em ebulição que emana do baixo de Frank Chin (ouçam “Ultimate Artificer” com atenção) e com a sempre presente e esmagadora força gravítica dos blast beats e mudanças rítmicas de Blake Anderson. E porque um Big Bang (“Charging the Void”) requer um final com massa directamente proporcional, “Recharging the Void” traz-nos de volta a este universo com a promessa de que a revolução só ainda agora começou. Quando juntamos estes quatro elementos raros no mesmo quadrante galáctico, obtemos o cataclismo cósmico intitulado “Terminal Redux”.

Muito se tem especulado em relação ao revivalismo desmesurado nos dias que correm, devido infelizmente à inevitável sobrepopulação de bandas a tentar aproveitar o filão de ouro enquanto dura. Curiosamente, é graças à sobrepopulação que, por vezes, se encontram anomalias como os Vektor, bandas que nasceram para liderar ao invés de seguir, quais Coroner, Voivod ou Death com a clara e inconfundível pegada futurista que lhes assiste. Nas palavras de DiSanto,

The screenings have been reviewed
The targets have been compiled
We’re coming after you
Swift justice with guile

Tudo me leva a crer que este álbum estará no top 3 de 2016 de muito boa gente sem dificuldade alguma. No meu caso, já está no top 2. Se gostas de metal, isto é para ti.

Nota: 9.2/10

Review por João Correia