Este era um concerto há muito aguardado por fãs “miúdos e graúdos”. O regresso do emblemático Marilyn Manson a Portugal levou uma multidão de negro até ao Campo Pequeno, no qual se viu um pouco de tudo – corpetes, PVC, correntes, caras pintadas de preto e branco, sapatos plataforma, chapéus cheios de excentricidade, uma verdadeira parafernália alternativa. Os fãs vestiram-se a rigor para uma noite que prometia aquecer. À saída do concerto, o público parecia dividido.

Mas o que importava mesmo era o que vinha a seguir. O público mostrava-se expectante e muitos dos que tinham levado roupa mais sóbria aproveitaram para adquirir t-shirts do músico. Eis que o fumo começa a levantar-se no palco, ao som de “Ziggy Stardust”, de David Bowie, e ergue-se um primeiro cartaz no público. Dizia “I Will Kill 4U”, referência a um dos temas da banda. Foi com “Irresponsible Hate Anthem” que a banda iniciou o espetáculo, entre um misterioso “nevoeiro” e uma capa, envergada por Manson, que impunha respeito; porém, não foi o melhor dos inícios, dado que mal se conseguia perceber a voz do músico. Antes do segundo tema, “Angel With The Scabbed Wings”, Manson mencionou que o público português era dos mais ruidosos – facto que pareceu agradar à plateia e que foi mote para gritarem ainda mais alto. Seguiu-se “Deep Six”, que terminou com uma dança teatral de Manson, mas com um público ainda um pouco entorpecido. Algo que mudou completamente com “This Is The New Shit”, tema que fez surgir as primeiras tentativas de mosh e que levou Manson a abraçar um urso de peluche e a deitar-se no chão. Foi aqui que Manson passou a estar mais expansivo na sua teatralidade – foram muitas as vezes que rastejou no chão, que se ajoelhou, que mandou o microfone ao chão, provocando ruídos que espelhavam um pouco o caos que era aquele palco. Pobre do técnico que teve como missão apanhar o microfone – Manson não lhe facilitou a tarefa. Manson mostrou muito bem porque é que o nome da banda tem o seu nome – o trono, metaforicamente falando, é dele. E quem se senta no trono tem quem adore todos os seus movimentos, e quem não lhes ache assim tanta piada.

Houve uma constante ao longo de toda a atuação que poderá ter condicionado a energia desta noite: as longas paragens entre cada tema. Se tinham a ver com a mudança de roupa, com o cansaço de Manson ou com outro fator qualquer, só a banda o poderá dizer. O certo é que, tema após tema, o poder que se espera numa atuação de Marilyn Manson foi-se desvanecendo. Nem sequer foi completamente claro o que foi ou não foi encore, devido a este motivo.
“Antichrist Superstar” elevou Manson no palco, como é habitual; a recente cover “Cry Little Sister” foi algo morna; “The Beautiful People” veio acordar o público, sendo um dos temas que mais fez mexer o Campo Pequeno; e, inesperadamente, Manson lança balões pretos ao ar, ao som de “Coma White”, abraça a bandeira de Portugal e termina uma atuação que podia muito bem ter mais um par ou dois de temas. “Já acabou?”, “Mas ele ainda vem, não é?”, ouvia-se na bancada. Não, não veio. Fica a sensação de missão cumprida – Manson regressou e conseguiu nota positiva, mas talvez com muitos valores abaixo face àquilo que já mostrou noutros tempos.
Texto por Sara Delgado
Fotografias por Nuno Conceição / Everything Is New
Fotografias por Nuno Conceição / Everything Is New
Agradecimentos: Everything Is New