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Reportagem: Marilyn Manson e Amazonica @ Campo Pequeno, Lisboa – 27/06/2018


Este era um concerto há muito aguardado por fãs “miúdos e graúdos”. O regresso do emblemático Marilyn Manson a Portugal levou uma multidão de negro até ao Campo Pequeno, no qual se viu um pouco de tudo – corpetes, PVC, correntes, caras pintadas de preto e branco, sapatos plataforma, chapéus cheios de excentricidade, uma verdadeira parafernália alternativa. Os fãs vestiram-se a rigor para uma noite que prometia aquecer. À saída do concerto, o público parecia dividido. 

A primeira parte do evento esteve a cargo da britânica Dirty Harry, que subiu ao palco com o seu projeto Amazonica. Esta atuação consistiu, essencialmente, num DJ Set – um desfilar de temas de nomes como Nine Inch Nails, Deftones, Nirvana, The Prodigy, Rage Against The Machine, Cypress Hill, System Of A Down. Podemos continuar: Led Zeppelin, The Doors, AC/DC, Pantera…. Já deu certamente para compreender. A parte boa? Poder relembrar alguns temas icónicos. É impossível ouvir “Chop Suey!”, “Smells Like Teen Spirit”, “Back In Black”, “Killing In The Name”, entre tantos outros, sem cantarolar o refrão de cada uma delas. A parte má? Ver alguns desses temas icónicos serem esventrados por entre cortes e misturas desnecessárias. Sem contar com a saudação inicial, aquando da entrada em palco, Dirty Harry apenas comunicou e tentou incentivar o público no tema “Walk”, dos Pantera. Posto isto, o que podemos retirar desta atuação é que tinha sido melhor (muito melhor) ouvir um ou vários artistas a atuar verdadeiramente no palco. Amazonica é um projeto que não parece vir acrescentar nada de novo (ou de bom) ao panorama musical.  

Mas o que importava mesmo era o que vinha a seguir. O público mostrava-se expectante e muitos dos que tinham levado roupa mais sóbria aproveitaram para adquirir t-shirts do músico. Eis que o fumo começa a levantar-se no palco, ao som de “Ziggy Stardust”, de David Bowie, e ergue-se um primeiro cartaz no público. Dizia “I Will Kill 4U”, referência a um dos temas da banda. Foi com “Irresponsible Hate Anthem” que a banda iniciou o espetáculo, entre um misterioso “nevoeiro” e uma capa, envergada por Manson, que impunha respeito; porém, não foi o melhor dos inícios, dado que mal se conseguia perceber a voz do músico. Antes do segundo tema, “Angel With The Scabbed Wings”, Manson mencionou que o público português era dos mais ruidosos – facto que pareceu agradar à plateia e que foi mote para gritarem ainda mais alto. Seguiu-se “Deep Six”, que terminou com uma dança teatral de Manson, mas com um público ainda um pouco entorpecido.  Algo que mudou completamente com “This Is The New Shit”, tema que fez surgir as primeiras tentativas de mosh e que levou Manson a abraçar um urso de peluche e a deitar-se no chão. Foi aqui que Manson passou a estar mais expansivo na sua teatralidade – foram muitas as vezes que rastejou no chão, que se ajoelhou, que mandou o microfone ao chão, provocando ruídos que espelhavam um pouco o caos que era aquele palco. Pobre do técnico que teve como missão apanhar o microfone – Manson não lhe facilitou a tarefa. Manson mostrou muito bem porque é que o nome da banda tem o seu nome – o trono, metaforicamente falando, é dele. E quem se senta no trono tem quem adore todos os seus movimentos, e quem não lhes ache assim tanta piada. 

Seguiram-se “Disposable Teens” e “mOBSCENE", bastante aplaudidas. “Heaven Upside Down”, o mais recente registo da banda, foi contemplado pela primeira vez em “Kill4Me”. Aquele cartaz que inicialmente foi levantado por uma fã? Pois bem, o cartaz foi levado ao palco pela própria fã, que lá permaneceu a dançar, ao lado de outras fãs que foram convidadas a subir. Um momento de excentricidade – de um lado do palco, Manson questionava “Matarás por mim?”; no outro, o grupo de fãs roçava-se entre si, estando uma delas em topless, apenas com os mamilos cobertos. Olhando para aquele cenário, a memória teimava em levar-nos até alguns dos videoclips mais extravagantes da banda. Porém, os tempos são outros (a idade também), e Manson não pareceu olhar para aquele cenário (improvisado, certo?) com especial efusividade. Depois disto, surgiu “The Dope Show”, não sem antes ouvirmos um pequeno excerto de “I Don’t Like The Drugs (But The Drugs Like Me)”, com Manson a fumar e a envergar um fato de penas (um de muitos que usou ao longo da noite, que estavam cuidadosamente pendurados atrás de todo o aparato). “Sweet Dreams (Are Made Of This) é uma das covers mais emblemáticas de sempre e foi o tema que fez o público levantar-se da bancada. “Say10” foi o segundo e último tema do novo álbum contemplado nesta noite e o público tinha a letra na ponta da língua. 

Houve uma constante ao longo de toda a atuação que poderá ter condicionado a energia desta noite: as longas paragens entre cada tema. Se tinham a ver com a mudança de roupa, com o cansaço de Manson ou com outro fator qualquer, só a banda o poderá dizer. O certo é que, tema após tema, o poder que se espera numa atuação de Marilyn Manson foi-se desvanecendo. Nem sequer foi completamente claro o que foi ou não foi encore, devido a este motivo. 

“Antichrist Superstar” elevou Manson no palco, como é habitual; a recente cover “Cry Little Sister” foi algo morna; “The Beautiful People” veio acordar o público, sendo um dos temas que mais fez mexer o Campo Pequeno; e, inesperadamente, Manson lança balões pretos ao ar, ao som de “Coma White”, abraça a bandeira de Portugal e termina uma atuação que podia muito bem ter mais um par ou dois de temas. “Já acabou?”, “Mas ele ainda vem, não é?”, ouvia-se na bancada. Não, não veio. Fica a sensação de missão cumprida – Manson regressou e conseguiu nota positiva, mas talvez com muitos valores abaixo face àquilo que já mostrou noutros tempos. 


Texto por Sara Delgado
Fotografias por Nuno Conceição / Everything Is New
Agradecimentos: Everything Is New