Após ter ouvido diversas vezes o single/vídeo que precedeu a edição deste álbum, “Arcana Imperii”, foi com surpresa que ouvi o tema que abre o mais recente disco de Ihsahn. Ora, “Lend me the eyes of the Millenia” é um tema dissonante cujo desconforto, causado pelos sintetizadores, se torna quase gritante, mas que me apanhou desprevenido dada a forma como “Arcana Imperii” se apresenta como um tema de metal extremo pouco óbvio na sua sonoridade, sim, mas linear e de fácil percepção.
Por outras palavras, “Àmr” é um disco que oferece diversidade, lembrando-me, por exemplo, “Atoma” dos Dark Tranquility em “Sámr”, mas que oscila para uma sonoridade mais imersiva de bateria, piano e guitarra com efeitos que recordam a sonoridade dos Massive Attack.
Estando a maior parte da instrumentação nas mãos do vocalista, há que sublinhar que a bateria de Tobias Andersen é um dos pontos altos do disco, dada a forma como consegue emitir nuance e peso, consoante o que cada tema parece pedir. Há ainda que destacar o solo de guitarra de Fredrick Akesson em “Arcana Imperii”, como uma intervenção que eleva a secção instrumental a outro nível de sonoridade e intensidade.
A voz de Ihsan entoa letras contemplativas, tanto em registo limpo, como em registo ríspido mais perto da voz típica do black metal, o género para o qual contribuiu ao longo dos anos noventa como vocalista dos seminais, Emperor. Afirmo isto para sublinhar a dicção do vocalista que permite compreender o contexto no qual criou as letras para estes temas.
Na verdade, parece que cada um dos temas deste álbum ocupa um espaço sonoro distinto, como se estivéssemos perante uma compilação de contos literários com um tema em comum, é esta a forma como as composições de Ihsan fluem entre si. Como exemplo, note-se a transição natural entre temas tão distintos como são “Where You Are Lost and I Belong” (num registo doom metal) e “In Rites of Passage” (que mistura groove metal com elementos de black metal e música electrónica).
Review por Raúl Avelar