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Crippled Black Phoenix - “Great Escape” Review


A faixa de abertura do novo álbum dos Crippled Black Phoenix, ao longo dos seus três minutos e meio, recorda os minutos de abertura de um filme pós-apocalíptico, com as samples de voz a repetirem-se e a sobreporem-se com o som de sintetizadores omnipresentes, sem crescendos, apenas como música de fundo. 

“To You I Give” segue-se, a recordar os momentos mais calmos dos Gojira, ou até mesmo Pearl Jam na sua estrutura verso-refrão, se bem que com mais peso e ansiedade que estes últimos. As camadas de teclados e guitarras vão sendo acrescentadas e antes que o ouvinte se aperceba, passaram dez minutos de hard rock cativante e soturno.

“Great Escape” é assim um álbum de contrastes de estilos de tema para tema e, como se de um filme (de ficção científica) se tratasse, segue a lógica de uma narrativa contada com princípio, meio e fim. Com efeito, os sintetizadores de “Uncivil War” parecem invocar os sons de bandas sonoras dos anos 70, com a bateria e guitarra semelhantes a uma marcha militar.

De seguida entramos em “Madman”, com a voz de Daniel Anghede a recordar Nick Cave, com uma sonoridade electrónica envolvente e cativante, quase a soar a Eisbrecher nos seus momentos mais pop. A melancolia regressa em “Times, They are A Raging”, a percorrer uma sonoridade post-rock, com a guitarra solo a relembrar David Gilmour.

“Rain Black, Reign Heavy” relembra a melancolia de folk rock dos Wovenhand, mas com uma sonoridade mais diversa com o recurso a trompete, sendo que me recorda os temas de abertura do disco de estreia do contrabaixista português João Hasselberg (“Whatever You’re Seeking Won’t Come in the Form You’re Expecting”), ainda que com um peso de doom rock.

A sonoridade que parece emprestada a filmes de ficção científica dos anos 70 regressa em “Slow Motion Breakdown”, com guitarras a invocar o som apocalíptico de “At the Soundless Dawn” dos Red Sparowes, a trocarem melodias entre si em forma de diálogo (próximo do que os Megadeth fazem). Por sua vez, “Nebulas” recupera a sonoridade mais leve com a voz de Belinda Kordic melancólica e hipnotizante, a relembrar Massive Attack envoltos em instrumentação rock mais clássica.

A título de exemplo, “Las Diabolicas", soa a interlúdio, antes de seguir para o tema-título final, dividido em duas partes. Este último começa num tom melancólico, com a bateria a soar como um feixe de luz que mal se vislumbra, com as vozes quase sem mudança de dinâmica. A segunda parte do tema-título começa com mais groove a relembrar os Porcupine Tree em “The Incident”, sendo que a parte instrumental relembra “Have a Cigar” dos Pink Floyd.

“Great Escape”, no seu todo, consegue abranger várias sonoridades que, ainda que tenham o doom e o prog rock no seu centro, trazem elementos de outros géneros e adaptam-nos a cada tema, tornando o álbum no seu todo numa experiência quase como assistir a um filme com principio, meio e fim. E ao qual me sinto tentado a revisitar vários vezes.

Nota: 9/10

Review por Raúl Avelar