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Reportagem: Resurrection Fest 2019 - Dia 1


Quem vai ao Resurrection sabe que estar de olho na meteorologia é tão necessário como no plano de concertos. E a quinta-feira amanheceu com mais nuvens que sol, mas nada que poderia antecipar o que teríamos mais para a noite... Viveiro fervilhava de gente e as esplanadas cheias anteviam casa mais que cheia para a despedida de Slayer em Espanha.


Enquanto os Cabeza de Caballo iniciavam concertos no Desert Stage, mesmo ao lado da entrada do recinto, o meu primeiro destino foi regressar ao palco secundário, onde no dia antes se tinha dado pontapé de saída ao festival, para assistir ao thrash metal dos Trallery. A banda de Maiorca que começou a sua actividade como tributo a Metallica veio mostrar os temas do seu disco de 2016 “Spiritless”, com destaque para “Scavenger’s Crow”.


Uma corrida até à primeira fila do palco principal permitiu acompanhar desde o início a prestação dos nipónicos Crystal Lake. No ano passado tivemos o prazer de presencial uma actuação demolidora da banda de Ryo no palco dedicado ao punk/hardcore, foi no palco principal que toda a sua mestria pôde ser vivenciada. Com uma plateia já bem composta para a hora, deram um espectáculo dinâmico e muito bem preparado, culminando com Ryo a fazer crowd surfing.


Um dos factos mais interessantes do Resu é atrair um público eclético e, ao mesmo tempo, trazer bandas que possam agradar a todos. Isso fica claro quando temos as madrilenas stoner rock Bones of Minerva a tocar ao mesmo tempo que o hardcore dos parisienses Kause 4 Konflict gera a confusão em frente ao palco, mas o meu destino é o palco principal, onde os igualmente franceses Gojira se preparam para actuar. Embora tivessem a tocar durante a tarde, ofereceu um grande show de fumos e fogo sob uma chuva mais intensa que ainda não movimentava o público. Como sempre, ótimo show ao vivo, com enorme entrega, algo que também tem a ver com serem dos mais repetentes no festival. Regressos ao passado como Backbone, seguidas de músicas conhecidas como Flying Whales (a soar de forma espetacular, som nítido, perfeito com um ritmo penetrante e cativante), o seu hit L'enfant Sauvage, “Silvera” acompanhada de explosões e chamas, e finalizar com músicas do seu último álbum, como The Shooting Star, fizeram delícia da plateia e um excelente aperitivo para o que viria a seguir.


Enquanto a chuva continuava incessantemente, era hora de ver Toundra no Palco Ritual, enquanto esperava por Slayer e me protegia da chuva. O quarteto de Madrid tocou quase todo o seu último álbum e, apesar de serem um dos poucos grupos que não têm voz principal, conseguem varrer o palco com uma atmosfera única e que a chuva ajudou a tornar ainda mais mística.


Tudo pronto para nos despedirmos de Slayer, mas um imprevisto atrasou o festival inteiro em cerca de uma hora: da montanha sobranceira a Viveiro chegaram diversas trovoadas, uma verdadeira tempestade eléctrica com relâmpagos a fustigar o céu carregado de negro. Teria Satanás decidido vir despedir-se ele próprio dos seus embaixadores?? No início, o público aguentava o dilúvio como podia (e aqui temos que dar uma enorme salva de palmas à organização, que de repente ofereceu milhares de tapa-chuvas vermelhos do patrocinador do evento), mas passados alguns minutos percebemos que o evento ia mesmo ser adiado, com avisos em diversas línguas a avisar que devíamos procurar abrigo e para nos afastarmos das grades metálicas. Também aqui super profissionalismo do pessoal de segurança, que impediu o pânico. Algum tempo depois, apesar de continuar a chuva, a tempestade diminuiu e o festival pôde continuar com total segurança e normalidade, sem o risco de ser cancelado.

Foi uma épica despedida a Slayer debaixo de chuva, e eles mesmos se sentiram muito gratos ao público por ficar à espera por eles. O fogo generalizado em cima de palco foi aquecendo a plateia enquanto Araya e King libertavam clássico atrás de clássico. “Repentless” e “World Painted Blood” iniciaram o desfile, logo seguidos de “Postmortem”, “Born of Fire” ou “Seasons of the Abyss”. Grande momento final com “Rainning Blood”, “Dead Skin Mask” e “Angel of Death” a criarem uma atmosfera especial num espectáculo que será, a partir de agora, irrepetível.


Enquanto esperávamos por Parkway Drive, os Terror estavam a destruir o Chaos Stage, entretendo os amantes do hardcore da melhor maneira depois que a chuva finalmente conseguiu parar. Os californianos têm sempre excelentes prestações ao vivo, e são repetentes no Resurrection.


Os Parkway Drive tiveram honras de encerrar o primeiro dia a sério do Resurrection. Começaram muito mais tarde do que o esperado por causa da tempestade e isso notou-se. Actuar depois de Slayer seria sempre complicado mas as coisas até começaram bem. Com o palco escurecido, a banda saiu a pé da zona Pandemonium cercados por encapuzados com tochas, entrando em palco pelo meio do público. "Wishing Wells" arrancou o espectáculo, que usou e abusou de pirotecnia e fumos, com Winston McCall sempre a tentar puxar por um público ainda encharcado e sobretudo cansado, a desejar regressar ao conforto da tenda. As músicas de “Reverence”, o recente disco da banda, foram muito bem recebidas pelos fãs, que não pararam nunca de cantar e saltar, especialmente com “Prey” ou “Dedicated”. A dada altura várias plataformas verticais fazem subir um quarteto de cordas para “Writings on the Wall”, antes da banda visitar “IRE” com as favoritas do público “Vice Grip”, “Crushed” ou “Bottom Feeder”. As antigas “Carrion” e “Karma” não podiam faltar mas foi uma actuação com muitos altos e baixos, e onde por vezes se percebeu que a própria banda não estava realmente ali.


Corrida por entre os milhares que debandava do recinto após os Parkway Drive para ver The Adicts no Chaos Stage. Sempre gostei da música e da sua estética Laranja Mecânica, mas ter Monkey em frente a mim a cantar “The Joker of the Pack” foi muito especial. Não importa o tempo ou o cansaço, "Horrorshow", "Chinese Takeaway" ou o grande "Viva La Revolution", fazem com que seja impossível não dançar. Não existem mais grupos como este!! Punk’s not Dead!!

Texto e fotos: Vasco Rodrigues
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Agradecimentos: Resurrection Fest