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Reportagem: Resurrection Fest 2019 - Dia 2


A sexta-feira, segundo dia “a sério” do Ressurrection Fest prometia ser o mais poderoso, com Slipknot finalmente em Viveiro, eles que encimaram todas as sondagens sobre que banda o público gostaria de ver por ali. Além disso, ao contrário da noite passada, o clima acompanhou a festa.


O primeiro concerto dos britânicos While She Sleeps após a edição de 'So What?' - um álbum que produziu muitas e muito diferentes reações - aconteceria no Resurrection Fest 2019. E muitos não deixaram de assistir de perto à prestação da banda, fazendo uma excelente moldura humana. Com Lawrence "Loz" Taylor a ser substituído por Scott Kennedy dos Bleed From Within, arrancaram com "You Are We", que colocou toda a plateia – muito jovem, por sinal - a cantar e dançar. "Anti-Social" foi a faixa seguinte, deixando claro que os dois últimos álbuns teriam o maior destaque da setlist. O quinteto de Sheffield tem espaço para crescer até à dimensão de uns Parkway Drive e Architects, não sendo difícil de imaginar músicas como "The Guilty Party" ou "Haunt Me" tocadas de noite plenas de pirotecnia e efeitos. Com os guitarristas Mat Welsh e Sean Long em verdadeiro despique, Kennedy deixou a pele em palco para agradar aos fãs dos While She Sleeps. "Four Walls", o hit "Silence Speaks" e "Hurricane" encerraram a apresentação de quase uma hora.


Enquanto os While She Sleeps actuavam no palco principal, em outros cenários actuavam Santo Rostro, de Jaén, que apresentaram o convidado especial Javy dos Cabeza de Caballo "Forever My Queen", mas o destino de quase todos era o palco secundário, para a rave party dos… Serrabulho!!??
Quem conhece a banda de Carlos Guerra e companhia, sabe como os nortenhos fazem a festa enquanto debitam o seu grindcore, mas os milhares (sim, milhares!!) de espectadores não estavam preparados para o show à parte. Misturando guturais com todos os tipos de ruídos e sons possíveis e imaginários, a banda fez a festa no recinto. Com Carlos Guerra sempre sorridente, os portugueses deram o show mais divertido de todo o Resurrection. Assim que Carlos entra em palco e diz "Nós somos SLIPKNOT", dificilmente vamos poder levar esta gente a sério. Nem eles querem!! Com um Party Death/Grind extremamente bem feito e açucarado com mil piadas, foi no já tradicional “Party Train” que Carlos levou centenas de gente atrás pelo recinto fora, chegando até ao palco principal. "Caguei na Batoneira" foi outro ponto alto, com a banda a pedir um "Ass of Death" (com os participantes a andarem para trás uns contra os outros), assim como a habitual batalha de almofadas e Carlos a fazer crowd surfing. Uma enorme festa made in Portugal…


No palco principal era altura de receber novamente os Trivium, depois da actuação na edição de 2013. Embora o grupo de Matt Heafy já tenha década e meia de actividade, o facto de actuarem às 7 da tarde mostra bem como ainda falta algo para se afirmarem de vez. Os ecos da sua actuação em Lisboa no dia anterior, onde Toy tinha participado em palco, faziam antever um concerto certinho, agradando aos fãs com um alinhamento que arrancou com o tradicional “The Sin and the Sentence”, logo seguido de um excelente "Beyond Oblivion”. “Until the World Goes Cold” e “Down from the Sky” não podiam faltar, e o arranque final com a tripla “Pull Harder on the Strings of Your Martyr”, “Capsizing the Sea” e “In Waves”  deixaram a plateia a pular, e fica a sensação que a banda merece mais tempo e outra posição no cartaz.


Pausa para muitos dos espectadores jantarem antes de enfrentar a maratona final deste dia, e quando os Arch Enemy entraram em palco a multidão que os recebeu era já enorme mas algo apática, o que não deixa de ser surpreendente, face à dureza e entrega da banda. O alinhamento incluiu todos os clássicos, quer da era Gossow como da era White-Gluz, mas o arranque com "Ace Of Spades" na intro foi uma surpresa. "The World Is Yours", "War Eternal" e "The Race" mostram como soam os Enemy com Alissa ao comando do microfone, mas as faixas antigas como "My Apocalypse" mostram como a vocalista se adaptou bem ao som da banda. Com um som mais nítido e forte que Trivium, destaco "You Know Know My Name", "Under Black Flags We March", "Dead Eyes See No Future", "First Day In Hell" ou a música de despedida "Nemesis", aliada a uma excelente atitude em palco de Alissa.


Entre Arch Enemy e a expectativa de Slipknot, o show burlesco dos suecos Avatar tomou conta do palco secundário. Temas como "Hail The Apocalypse" ou "The Eagle Has Landed" foram entoados do princípio ao fim, com os artistas em palco a recirarem um mundo estético que ajuda a alavancar a sua actuação. Sem deslumbvrar, e com um som a espaços sofrível, a banda pecou pela ansiedade em receber Corey Taylor.


Finalmente tinha chegadoa hora de ver o prato principal desta edição do festival. Os mascarados Slipknot foram a banda mais requisitada nas pesquisas nos últimos anos, mas por várias dificuldades nunca foram capazes de pisar o chão de Viveiro. O número de t-shirts do grupo pela plateia era enorme, até desde o primeiro dia, dando um sinal inequívoco de que muitos bilhetes haviam sido vendidos graças à banda de Corey Taylor e Shawn Crahan. Uma tela com o logotipo da banda servia para aumentar os nervos de quem esperou quase uma década para ver a banda em Espanha, com largosmilhares a estarem ali pela primeira vez. Quando "For About To Rock" dos AC/DC ecoou pelo recinto, sabíamos que o ritual ia iniciar-se. "People = Shit" seguido por “(sic)" foi um começo demolidor e até a recepção de "Unsainted" mostrou o desejo de ouvir novidades por parte dos fãs. Obviamente que essa efusiva recepção nada pode comparar ao que aconteceu com os primeiros acordes de temas como "Before I Forget" ou "Psychosocial", que apareceram pelo meio do alinhamento.


O cenário era impressionante, o que mostra que muitas bandas apostam muito tempo e dinheiro na elaboração de uma boa montagem de palco. "The Devil In I" foi um dos momentos mais melódicos da noite, bem como o épico "Vermillion". Com muitos milhares no pit a manifestar já algum cansaço, os riffs de Jim Root e Mick Thompson no single “All Out Life” colocaram todos a abanar a cabeça, o delírio veio com “Duality”, onde vi até algumas lágrimas!! O final chegou com "Spit It Out" e "Surfacing", com Corey a fazer questão de querer gastar a energia de todos. Que fenómeno esta banda e que concerto deram!!


Os suecos Millencolin enfrentaram a difícil situação de coincidir com a grande banda da edição. Por sua má sorte, os seus últimos 20 minutos coincidiram com o início do prato principal da edição: Slipknot. No entanto, deram tudo até o fim, apesar de irem perdendo público ao longo da prestação. O espírito nostálgico do punk da banda é uma delícia para os seus fãs, que não pararam de saltar. Com um setlist animado e uma energia transbordante, a banda de Nikola Sarcevic deixou de lado muitas das faixas do mais recente “SOS” para revisitar todos os clássicos. “Penguins and Polarbears” arrancou o espectáculo, com pontos altos nos inevitáveis “Bullion” e “No Cigar”.


Poucas forças já restavam nos corpos para receber Cradle Of Filth à meia noite e meia. O grande show de Slipknot deixou a grande maioria exaustos e a encaminhar-se para o comforto das tendas. Com Danny Filth muito confortável em palco, a actuação foi quase perfeita, com destaque para "Nynphetamine (Fix)", onde o teclista Lindsay Schoolcraft pôde brilhar, o mesmo acontecendo em “Saffron’s Curse” ou “Her Ghost In The Fog” que encerrou a apresentação.


O palco Chaos foi encerrado com os Converge, com uma apresentação impressionante mas muito prejudicada pela qualidade de som. "Aimless Arrow" e "Rip What You Sow" são faixas que refletem a ideologia da banda e o som cru pareceu agradar a quem ainda estava na disposição de saltar depois da uma da manhã. Mas com as guitarras extremamente altas, e a bateria a abafar a prestação de Jacob Bannon, a banda de Salém dificilmente ficará contente com o concerto. "All We Love We Leave Behind" soou demasiado alto, mas o som melhorou mais para a frente, com “Eagles Become Vultures” ou “I Can Tell You About Pain”, mas era tarde demais, e faltava apenas “Concubine” para nos fazer despedir do recinto até sábado…

Texto e fotos: Vasco Rodrigues
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Agradecimentos: Resurrection Fest