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Entrevista aos Apocalyptica


Quatro amigos e quatro violoncelos começaram a fazer covers dos Metallica, a sua principal inspiração. Anos depois, um baterista foi adicionado à formação. Mikko Sirén (baterista) falou sobre as suas inspirações, a importância de ser finlandês, a colaboração com Sabaton, o significado do último álbum e muito mais. Vamos levantar-nos e aplaudir este tipo simpático.

M.I. - Olá e bom dia. Estou muito emocionada por fazer esta entrevista contigo. Como estás?

Estou muito bem, obrigado. Agora estamos a ensaiar para a tournée do próximo ano. Estamos a construir o set ao vivo, depois de gravar o último álbum “Cell-0”. Agora precisamos de arranjar um espaço para a vida social, o que é um pouco estranho, mas chegaremos lá.


M.I. - Sim, de facto vocês vão chegar lá. 1993 foi o ano em que tudo começou e ainda continua. Quais são os teus pensamentos sobre isso?

Eu acho inacreditável (risos). Lembro-me que quando era criança, pensava sempre: "Porque é que as bandas terminam?" Eu não conseguia entender, porque pensava: “Isto não faz sentido, conseguem fazer a coisa mais incrível do mundo e têm fãs em todo o mundo, depois decidem separar-se”. Não conseguia entender. Hoje em dia, acho incrível que qualquer banda possa ficar junta por mais de um ano. Acho incrível e maravilhoso ainda estarmos juntos, depois de todos estes anos e realmente gostamos de fazer música. E agora, com a última criação que fizemos, “Cell-0”, estamos super orgulhosos do que fizemos e estamos ansiosos para tocar para os nossos fãs.


M.I. - Sim, sim. Os fãs adoram a ideia de melhorarem com todos os vossos álbuns. Isso é tão bom.

É bom ouvir isso (risos).


M.I. - Em 1996 foi lançado o álbum de estreia chamado "Plays Metallica by Four Cellos" e foi o começo de uma banda que tem muito para nos mostrar. Quão importante são os Metallica para vocês, musicalmente?

Ah, claro! Essa é a essência de tudo, como tudo começou. Por isso é super importante. Os Apocalyptica sempre seguiram em frente, não podemos ficar quietos e não podemos apenas reproduzir o que estamos a fazer. No começo, quando a banda começou a fazer o álbum cover dos Metallica e a fazer o segundo álbum, sentiu: “Não podemos continuar a fazer a mesma coisa. Precisamos seguir em frente!” Então, começaram a escrever as suas próprias músicas, depois começaram a adicionar vocalistas, uma nova equipa instrumental, foi algo que algumas pessoas pensaram que era uma loucura. Eles trouxeram a bateria para a banda, que deveria ser apenas violoncelos, por isso a banda está sempre a evoluir e a avançar. E agora, isso é a única coisa que nos mantém vivos e inspirados, porque sentimos que estamos a fazer algo novo e notável. E, em 2019, por causa da tournée de aniversário do “Plays Metallica”, voltamos às nossas raízes e vimos as reações dos fãs e percebemos o quanto os nossos fãs adoram que façamos este tipo de coisas. E concluímos que: "Talvez o nosso próximo passo à frente seja dar passos em direção onde tudo começou". Então, voltamos às raízes, para avançar... agora, precisamos de ir a algum lugar onde não possamos ficar parados. Não podemos repetir o que já fizemos.


M.I. - Sim. É por isso que as pessoas acharam incrível que Antero (Manninen, também conhecido como Mr. Cool) tenha voltado para o 20.º aniversário do álbum. Foi incrível!!!

Sim, foi muito simpático da parte dele ter voltado. Ele realmente queria fazer isso. Acho que a tournée não teria sido possível sem ele fazer parte dela. Foi realmente importante e foi um bom momento.


M.I. - Sim, de facto. De volta ao violoncelo... muitas pessoas não pensam que o violoncelo possa imitar o som de uma guitarra, e sei de pessoas que ainda não conseguem acreditar. A ideia ainda é nova para os novos fãs ou as pessoas tendem a pensar: “Ah, sim, o violoncelo pode imitar vários sons”! O que achas?

O nosso objectivo não é imitar uma guitarra. Eu acho que há vários tipos de efeitos, mas nós tentamos expandir o expressionismo do violoncelo como um instrumento. Tentamos o som maníaco do violoncelo, o mais clássico, o mais tradicional possível e, depois, passamos de lá, gradualmente, até ao tipo mais extremo, onde achamos que ainda ninguém levou o som do violoncelo. Há semelhanças com sons de guitarra, porque usamos amplificadores de guitarra e tem o mesmo tipo de efeitos que a guitarra usaria, mas nós usamo-los o tempo todo. O nosso objectivo é manter a originalidade do violoncelo, mesmo quando o som estiver realmente distorcido, para que haja algo em que nos foquemos. Se pensarmos no que os instrumentos do passado fizeram, tal como os órgãos, vemos que, no final dos anos 60, quando as bandas de rock da época os começaram a utilizar nos seus álbuns, proporcionaram um desenvolvimento desse instrumento. É isso que tentamos fazer.


M.I. - No vosso álbum “Apocalyptica”, têm dois convidados importantes: Ville Vallo (ex-H.I.M) e Lauri Ylönen (The Rasmus) que cantaram “Bittersweet”. Muitas pessoas associam essa música a vocês e ainda é uma das músicas mais esperadas nos concertos. Concordas?

Sim, concordo. Muita gente, que nem conhecia a nossa banda, encontraram esta música, que tem muitas personagens emocionais, com os quais as pessoas ainda se relacionam.


M.I. - Quando eu estava no vosso concerto no Porto, as pessoas ao meu lado disseram que estavam lá apenas para ouvir “Bittersweet”. Acho que é a música mais conhecida. Na minha perspectiva como espectadora, não como jornalista, vocês têm músicas melhores do que esta.

Sim, é uma música muito respeitada que gostamos de tocar ao vivo, sempre que podemos e fizemos várias versões dela. Fizemos versões instrumentais, fizemos versões com um cantor e dois cantores e sempre que há uma oportunidade de a tocar ao vivo, fazemo-lo.


M.I. - Durante toda a vossa carreira, tiveram convidados especiais de bandas e artistas a solo, que cantaram em inglês e em mais idiomas, como português, alemão e francês. É importante chegar aos fãs de todo o mundo, ao cantar na sua língua nativa?

Eu acho que sim, e, ao cantar em diferentes idiomas, há um apego emocional diferente a uma música. Isso acontece em "Helden", que fizemos juntamente com Till Lindemann (Rammstein). Quando as pessoas ouvem o idioma alemão ou a Nina Hagen canta "Seemann", há um aspecto emocional totalmente diferente. Por exemplo, quando uma pessoa canta em espanhol, português ou francês, todos esses idiomas diferentes que usamos, essa também é uma dimensão gigantesca, a mesma da música vocal clássica. Se uma música é cantada em italiano, inglês ou alemão, há uma vibração diferente na música imediatamente e isso também é uma coisa que queremos incluir na nossa música que... mesmo que uma música cantada em português, que provavelmente não seria exposta a tantas pessoas como uma música cantada em inglês, ainda tem qualidades artísticas que não poderiam ser alcançadas de outra maneira.


M.I. - Sim, principalmente porque o português não é um idioma fácil para as pessoas entenderem e cantarem. Mas vocês tiveram um ótimo convidado, Max Cavalera (ex-Sepultura, Soulfly e Cavalera Conspiracy), que foi uma grande ajuda.

Absolutamente. Ele é um tipo incrível e sempre houve respeito mútuo, porque adoramos os Sepultura e o Max é um apoio para nós e sempre foi muito encorajador. Sempre que nos vê, quer fazer uma tournée connosco e é sempre bom revê-lo.


M.I. - Sim, de facto. Mikko, de onde vem a tua inspiração (musical e liricamente falando)?

A minha inspiração musical é muito variada. Sou um grande amante de música e adoro vários estilos diferentes e acho que, no geral, mesmo inconscientemente, tu te inspiras o tempo todo onde quer que vás. Para o álbum "Cell-0", a minha maior inspiração musical veio de músicas antigas de sintetizadores. Eu apaixonei-me por sintetizadores antigos no ano passado, por todas as bandas pop dos anos 80 que usam sintetizadores, e por esses arranjos específicos. Nos últimos anos, talvez 5, tenho ouvido muito Hip Hop afro-americano e coisas assim. Portanto estas são, talvez, as minhas principais influências.


M.I. - Em 17 de Abril de 2015, “Shadowmaker” foi lançado com o músico americano Frankie Perez. Como o contactaram?

Na verdade, estávamos a ter um tipo de audições fechadas. Nós queríamos ver como seria colaborar com uma pessoa e fazer todas as músicas de um álbum. O mesmo tipo poderia fazer uma tournée connosco. E essa era a necessidade inicial... encontrar um velho cantor e, em seguida, fizemos uma audição fechada, onde pedimos às pessoas, que conheciam pessoas, para enviar demos e a do Frankie era muito única e particular. Gosto das qualidades dele na sua música e ele adora imensos estilos musicais diferentes, do cubano, à música folclórica tradicional, às diferentes músicas espanholas e do metal ao rock progressivo. Ele foi a escolha mais clara para toda a banda.


M.I. - Sim. Eu sigo o Instagram dele e, de facto, é um tipo muito talentoso. Pode cantar muitos géneros musicais. Muito boa escolha para o álbum. Eu presenciei um concerto dessa tournée e foi magnífico, magnífico.

Muito obrigado. É ótimo ouvir isso.


M.I. - A Finlândia, em 2017, comemorou o seu centenário e vocês compuseram uma música das sequências de DNA do povo finlandês, em cooperação com o Visit Finland. O DNA e a história são importantes para o povo finlandês?

O povo finlandês talvez esteja mais... orgulhoso, não é a palavra certa. Agradecemos a nossa posição única no mundo. Não estamos relacionados a muitas outras nações e a nossa linguagem é diferente de todas as outras ao nosso redor. Isso sempre nos deu um certo tipo de marca mística. Estamos orgulhosos disso. Somos reservados, calmos, discretos e gostamos de apreciar a nossa herança e experiência e também a parte do DNA. Também tenho orgulho por a nação finlandesa não ser muito conservadora. Nós, a nação finlandesa, gostamos de avançar. Não queremos ficar presos ao passado. Acho que estaremos mais unidos como humanidade e seguiremos em frente.


M.I. - Sim. O povo finlandês é conhecido por ser reservado, calmo e não fala muito com estranhos.

Sim. Pode dizer-se isso.


M.I. - Essa é a ideia que tenho, mas tu, sendo finlandês, és incrível, és tão amigável. Aproximas-te dos fãs, falas com eles. Isso é incrível para um finlandês. Pensei desde a primeira vez, em 1996, que eras sueco. Essa foi a minha ideia.

(risos) Somos mais agradáveis que os suecos. Concordo. Mas penso que algumas pessoas, que viajam pelo mundo, mudam a sua perspectiva porque têm mais possibilidades de ver mais semelhanças e outras coisas também. É um privilégio viajar e é isso que faz com que sejamos mais abertos e sociais para as pessoas e o que está ao nosso redor. É por isso que a maioria dos membros da nossa banda é extrovertida.


M.I. - Mikko, falemos um pouco sobre o presente e o futuro. Mas primeiro, o presente. Vocês juntaram-se aos Sabaton, no final de Novembro, para uma colaboração. "Angels Calling" é o nome da música. Poderias explicar a ideia e o conceito, por favor?

A coisa toda com os Sabaton, acho que é uma coisa. O que fazemos em tournée com ele, a música que fazemos juntos. Fizemos a capa do single do último álbum e coisas que ainda estão por vir, ao lado dos Sabaton, e somos gratos por eles. Eles disseram que queriam fazer uma tournée. Mas não é apenas uma tournée, é amizade.


M.I. - Qual é o significado por trás do título deste álbum (Cell-0)?

Tentamos concentrar-nos nos problemas ambientais que nos rodeiam e tentamos dizer às pessoas que o nosso planeta está em perigo. O nosso principal objetivo é ter cuidado e tentar preservá-lo para as gerações futuras. Portanto, o nome do álbum é uma chamada de atenção e será lançado a 10 de Janeiro de 2020.


M.I. - “Ashes Of The Modern World” foi lançado no dia 3 de Novembro deste ano. A que se refere o título?

É uma espécie de protesto sobre o que está a acontecer ao nosso redor, no que se refere ao meio ambiente.


M.I. - Qual foi o pensamento para não incluírem vocalistas convidados ou um vocalista principal neste disco?

A ideia era voltar aos nossos dias passados e ver se ainda funcionava. Nós queríamos tocar música instrumental de metal pesado, como antigamente, e ver se os fãs ainda gostavam.


M.I. - Vocês virão a Portugal (Porto e Lisboa)?

Espero que sim, porque temos uma enorme conexão com o povo português e os fãs. Vocês são incríveis. Isso não depende de nós, mas dos promotores. Quero voltar ao vosso país novamente.


M.I. - Muito obrigado. Gostavas de deixar uma mensagem para os nossos leitores e fãs portugueses?

Muito obrigado pelo amor e apoio. Vocês são incríveis e mal posso esperar para voltar. Cheers.

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Entrevista por Raquel Miranda