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Entrevista aos Moonshade


Formados em 2010, no Norte de Portugal, os Moonshade lançaram em Outubro de 2018 o seu álbum de estreia, "Sun Dethroned". Falámos com o grupo de Death Metal melódico e ficámos a conhecer um pouco mais sobre o projeto.

M.I. - Quem são os Moonshade?

Antes de mais, um enorme obrigado à Metal Imperium pelo interesse e por nos darem a oportunidade de falar um pouco sobre o passado, presente e futuro dos Moonshade. Somos uma banda de metal sediada no Porto, fundada em 2010, pelo nosso atual guitarrista Pedro Quelhas e pelo Cristiano Brito, nosso antigo baterista. Contamos com uma demo, um EP e um álbum que estamos a promover actualmente, o “Sun Dethroned”, que saiu no final do ano passado pela editora espanhola Art Gates Records, onde nos juntamos a um excelente plantel de bandas emergentes como Noctem, Mind Driller e [IN MUTE], entre outros. Os nossos últimos dois lançamentos permitiram-nos causar um maior impacto na cena underground ibérica, tendo proporcionado a possibilidade de fazermos a nossa primeira digressão fora do país, bem como passar pelos maiores palcos do país dentro do género - como por exemplo o Vagos Open Air, Laurus Nobilis ou o Moita Metal Fest. Além de partilharmos o palco com as melhores bandas que o underground lusitano tem para oferecer, tivemos também o prazer de fazer o mesmo com grandes nomes da música pesada, como Amorphis, Omnium Gatherum, Within Temptation ou Decapitated, entre outros. Tem sido interessante, no mínimo!


M.I. - Como caracterizam vossa banda?

O som que temos praticado até hoje enquadra-se algures entre o death metal melódico que no início dos anos 90 foi popularizado por várias bandas escandinavas. Misturamos isso com outras vertentes mais pesadas, com destaque para o doom - que já é um cliente habitual nos nossos temas - bem como outras influências mais recentes e experimentais que farão parte de lançamentos futuros. Atualmente, estamos cada vez mais a desenvolver a identidade sónica que criamos, bem como experimentar com sonoridades diferentes. O Sun Dethroned já existe e, modéstia à parte, foi muito bem recebido - não precisamos de outro exatamente igual.


M.I. - Para quem ainda não conhece o vosso álbum Sun Dethroned, o que podem os ouvintes esperar deste álbum?

Em termos de som, sentimos que representa um passo seguro na procura por uma identidade cada vez mais própria, onde pegamos na base do Death Metal melódico e partimos daí para a exploração de sonoridades distintas. Tematicamente, trata-se de um álbum conceptual que consiste na personificação dos conceitos discutivelmente abstractos de Bem e Mal, sob a forma dos deuses Lenore e God Of Nothingness, este último representado na capa do disco.  A Lenore representa tudo o que temos de positivo – empatia, serenidade, paz, amor – enquanto o God Of Nothingness representa emoções mais cáusticas como a raiva, a tristeza e o ódio. Estas emoções mais “negativas” podem ser utilizadas a nosso favor, quando em harmonia com as restantes. Dito isto, temática central do álbum consiste em expor o que acontece quando esse equilíbrio deixa de existir. O que acontece quando a Lenore morre? Essencialmente, passamos de deuses por direito próprio a deuses de nada, no caminho da autodestruição. 


M.I. - Como tem sido o acolhimento por parte do público deste álbum? Correspondeu às vossas expectativas?

A recepção da crítica especializada foi, de um modo geral, excelente. Quanto à opinião geral do público, os fãs entram em contacto com o “Sun Dethroned” identificam-se com as temáticas e com o som. Sem entrar em detalhes técnicos, a primeira tiragem do disco, que já foi maior do que o habitual para um primeiro lançamento, encontra-se perigosamente perto de esgotar. Apesar do álbum já ter mais de um ano, os números nas plataformas de streaming continuam a aumentar, contrariando a norma habitual da descida a pique após os primeiros meses de lançamento. O mesmo também é ouvido por todo o mundo, sendo que a grande maioria das nossas vendas e streams vêm de fora do país. Dito isto, é fantástico ver que o Sun Dethroned possui uma linguagem global que acima de tudo fica na memória, ao invés de ser apenas “mais um” que é sumariamente descartado pelos ouvintes após par de meses. Sentimo-nos incrivelmente lisonjeados por tudo isto e esperamos conseguir levar o nosso som a cada vez mais pessoas.


M.I. - Como surgem as composições dos temas, quer em termos líricos quer musicais?

As nossas composições surgem, por norma, de uma colaboração intensa entre os quatro membros da banda, sendo que todos têm voz e usam a mesma para opinar sobre todos os instrumentos e decisões criativas. Tudo começa com uma ideia desenvolvida em casa, que depois é forjada em conjunto de forma a criar um tema do qual todos se sintam orgulhosos. Agradar a quatro pessoas com gostos distintos nem sempre é fácil, mas isso só torna o resultado mais gratificante quando temos a noção perfeita de que o resultado final é uma representação fiel daquilo que somos enquanto banda. Quando ouvem Moonshade, o Ricardo, o Daniel, o Pedro e o Nuno deixam de existir. Existe, só e apenas, Moonshade.


M.I.- Os Moonshade tiveram uma tour de apresentação do "Sun Dethroned". Como foi a experiencia de vivenciar uma tour?

Foi a nossa primeira experiência de alta densidade de concertos, sendo que foi praticamente um por dia. Tivemos a sorte de estar na excelsa companhia dos Apotheus, que contribuíram imenso com a sua postura exemplar, profissional, e acima de tudo imensamente divertida. Globalmente, tratou-se de uma jornada igualmente exigente e gratificante, onde fizemos imensos novos fãs, visitamos locais inéditos para nós, e aprendemos imenso enquanto músicos. Estas incursões por esse mundo fora seguramente terão continuidade. Aliás, por nós era já!


M.I. - Quem assiste aos concertos esquece-se que uma tour exige um jogo de cintura complexo por parte dos seus membros. Como foi gerir a carreira profissional, vida pessoal e a tour?

Em tudo aquilo que foi a Dethroning Stars Tour, esse jogo de cintura foi uma das partes mais complexas de gerir. Sendo que não vivemos da banda, a vontade de ir em tour obrigou os membros da banda a tirar férias dos seus empregos, férias essas que foram passadas maioritariamente dentro de uma carrinha e a acartar centenas de quilos de material. Ajuda imenso termos caras-metades que nos apoiam incondicionalmente, fazendo vista grossa à quantidade de tempo que passamos fora de casa. Merecem um enorme agradecimento da nossa parte!


M.I. -  Como caracterizam o ambiente no metal português, quer por parte do público quer dos próprios colegas de palco? 

Do ponto de vista da ambição, constatamos com enorme orgulho e apreço que esta nova onda de bandas nacionais de metal faz cada vez mais os possíveis e impossíveis para se lançar na cena internacional, tanto a nível da procura por promotoras e editoras além-fronteiras, como dos próprios espetáculos ao vivo. Temos exemplos de bandas como Gaerea, Analepsy, Dark Oath e Redemptus, entre muitos outros. Ao aliar a sua extrema qualidade musical a uma capacidade de trabalho acima da média, tornam-se exemplos para todos, nós incluídos. Se todos tivermos este tipo de paixão e força, mais virão.


M.I. - Próximos concertos?

Durante o ano de 2020 faremos sobretudo festivais – tanto nacionais como internacionais –, sendo que o plano posterior será regressar à cave para finalizar os trabalhos para aquele que será o nosso segundo álbum de longa duração. Neste momento, o único concerto acerca do qual estamos autorizados a falar abertamente é o Laurus Nobilis, em Famalicão, num cartaz onde já contam nomes como As I Lay Dying, Lacuna Coil e Orphaned Land, entre muitos outros. Mas vamos dando novidades!

Entrevista por Ana Carneiro