"O rock morreu", dizem os entendidos sentados no seu sofá, longe das agruras do Inverno e de comando na mão a ver a cerimónia dos Grammy Awards na MTV, esse canal barómetro das tendências musicais.
Felizmente, aqueles que não se conformam e persistem em achar que o rock - em todas as suas vertentes - está longe de bater as botas, e acreditam que o underground é o verdadeiro escaparate do que há ou está para vir, saem de casa e quase enchem o Popular Alvalade na matiné do passado domingo 26 de janeiro. E perguntam vocês como é possível uma centena de pessoas estar presente para ver quatro bandas que apenas têm um punhado de faixas para apresentar ao vivo. A resposta deram estes representantes da nova geração do hardcore nacional em palco.
Num evento organizado pela Bait Records, uma editora com pouco mais de um ano de vida e composta por jovens com vontade de fazer acontecer, a celebração arrancou com CVNT, alter-ego do Bruno Ribeiro.De passa-montanhas a cobrir a identidade, e a manipular um controlador ligado ao portátil , CVNT andou por sonoridades entre o noisecore e o trap metal, com produções que mostram um talentoso beatmaker, apesar da jovem idade.
A sala bem composta foi mostrando agrado enquanto puxava por ele e seguia atentamente a performance, que terminaria com "This one's for you, darling".
A banda que se seguia fazia a sua estreia em palco e só pelo calibre do intro dava para perceber que a coisa ia ser séria. Com "Firma 2" do rapper do Monte Abraão Pika a rebentar nas colunas, e a plateia a reagir cantando a letra, os dados estavam lançados para os Viciously Hateful mostrarem trinta minutos de beatdown em palco e crowd killing na sala. A banda da Linha de Sintra nunca pareceu estar a tocar o seu primeiro concerto, com o tradicional beatdown hardcore - de ritmo tendencialmente lento carregado de breakdowns e riffs agressivos - a ser debitado com muita segurança. Com dois vocalistas de timbres diferentes, o Pedro mais melódico e o Estoura mais gutural/grind, o sexteto meteu o Popular em caos, tendo ficado no ouvido a faixa "Trust No One". Com um EP na calha mais para a frente no ano, foi interessante ver a versão da "Death by my Side" dos britânicos Desolated, expoente máximo do género, especialmente pela presença na bateria da Patrícia "Hexiia". Algo também digno de nota, e que foi transversal a todas as bandas da tarde, é a camaradagem entre todos, e que se estende ao público, com o microfone a ser variadas vezes partilhado entre espectadores, membros de outras bandas e convidados especiais.
Os Stay Away regressavam a estar sob o meu radar, depois de os ter visto no Sabotage a abrir a estreia dos Devil in Me na sala do Cais do Sodré, em que eles próprios se estreavam em palco. A banda da zona centro promove o EP "The End is Near" e mostrou estar perfeitamente à vontade entre amigos. Contando com Steal Your Crown como referência musical, Domy juntou-se a eles em palco, bem como todos os vocalistas das restantes bandas no cartaz, numa enorme demonstração de união no hardcore nacional. Tal como tinha acontecido no Sabotage um mês atrás, "Overcome" dos Terror foi ponto alto de uma actuação que não teve pontos baixos, e que terminou com "Blinded by Hate", com um Edgar de tronco nú a agradecer a todos os que decidiram encher a sala do Popular. 
Os cabeças de cartaz da festa da Bait Records vinham do Algueirão, Mem Martins, e davam pelo nome de Beneath Shortcuts. Aquela que é a primeira banda assinada pela editora iniciou o concerto com "DIS", faixa do EP de estreia "Green Turns Black" de 2017 e o mosh foi imediato. O quinteto pratica hardcore salpicado de riffs próximos do metal e "Fight" foi das que mais me ficou no ouvido. Aqui não há floreados desnecessários, apenas "straight to our face" hardcore bem feito e apelativo.Do EP apenas "Man Down" voltou para o representar, com "Power" a fechar a atuação entre palavras de agradecimento e promessa de novidades futuras. Venham elas e depressa!!!
Texto por Vasco Rodrigues
Fotografia por Sabena Costa
Agradecimentos: Bait Records
