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Entrevista aos Paganland


Os Paganland são um grupo ucraniano, com fortes opiniões políticas, um enorme amor pela sua pátria e cultura e…sem medo de dizer o que pensam.
A primeira demo da banda, Gods Of Golden Circle, saiu em 1998. No entanto, o primeiro álbum (Wind of Freedom) apenas viu a luz do dia em 2013, em parte, devido à ausência do país de um dos fundadores. Seguiu-se Fatherland, em 2015 e From the Carpathian Land, em 2016. Pelo meio, foram lançados dois singles, um EP e um álbum ao vivo, este último pela comemoração dos 20 anos da banda.  Já em 2020, Galizier é o quarto longa-duração da banda e uma espécie de tributo a esta zona da Ucrânia. Tivemos a oportunidade de ver algumas das nossas questões respondidas pelo baterista Lycane e pelo guitarrista Eerie Cold, elementos de uma pérola oculta do Leste Europeu que merece ser descoberta.

M.I. - Para quem não vos conhece, como caracterizam o vosso grupo? Para o nosso público em Portugal, como explicam o vosso som?

L .: - Olá. Todos nós somos fãs de black metal. Então, na nossa música, há muita influência desse género. Mas tentamos acrescentar alguns dos nossos temas folclóricos e pagãos nativos. Todas as nossas letras são sobre a natureza e a história da Ucrânia. E opomo-nos às religiões "tradicionais" impostas, que vêm de fora.


M.I. - Como se juntaram? O que faziam antes de formar os Paganland?

E.C .: - Entrei para os Paganland em maio de 2015. Eu e o Lycane, que já tocava nos Paganland, estávamos a ensaiar com a nossa outra banda, os Atra Mors, no mesmo local de Paganland, de modo que não foi uma escolha difícil ou uma procura pela banda.
L .: - Sim, havia outros membros da banda na sua própria banda. Entrei para os Paganland em 2014, quando deixei a Crimeia por causa da anexação pela Rússia. Antes de Paganland, já tocava com os Nahemoth e algumas outras bandas locais de metal da Crimeia. Quem está aqui desde o início é o Ruen mas, atualmente, ele está a preparar-se para fazer parte do exército ucraniano. Ele é o núcleo ideológico dos Paganland. Estamos perto dele em espírito.


M.I. - Qual é a história por detrás do nome? Quem pensou nisso e o que significa?

L .: - Devias perguntar ao Ruen, mas ele está ocupado agora. É simples - a Pagan Land é a nossa terra, com nossas tradições pagãs, antigos deuses eslavos, a natureza, a história heroica, sem influência judaica, sem igrejas cristãs ou muçulmanas e outros elementos destrutivos.


M.I. - Os vossos álbuns sempre foram curtos - apenas um excede os 40 minutos. Galizier é o mais curto, com pouco mais de meia hora... Existe alguma razão para os álbuns serem tão curtos ou é inconsciente?

E.C .: - Talvez seja porque a tendência global seja de tornar os álbuns mais curtos e deixar os fãs com fome de coisas novas.
L .: - Tocamos música rápida, esse é o motivo. Por exemplo, alguns álbuns do Slayer não excedem os 40 minutos. Na minha opinião, os álbuns de uma hora (e mais) encaixam-se no doom metal e Black Metal atmosférico.


M.I. - Sobre o Galizier... adicionaram uma forte componente militarista... Do que se trata? O que abordam liricamente?

E.C .: - Metade do álbum é sobre a divisão "Galizia" (Nota: divisão de infantaria das Waffen-SS durante a Segunda Guerra Mundial. O quartel-general ficava na região ucraniana da Galícia e era formada por voluntários ucranianos desta região, chefiados por oficiais alemães e austríacos)... Uma canção é sobre o exército ucraniano e duas sobre a natureza local e a sua beleza.
L .: - São momentos da história da Ucrânia que muitos não querem mencionar. A história é distorcida pelo nosso inimigo e pela propaganda inimiga. Apenas lembramos as pessoas da verdade.


M.I. - E a capa!!... No mundo sensível e politicamente correto de hoje, não têm medo de serem mal interpretados pela imagem e pelo que ela denota?

E.C .: - Quanto a mim, é a melhor capa de Paganland! Ela já ofendeu um grande número de escória, mesmo os autoproclamados "nacionalistas", sem falar dos Antifa (* Nota: O movimento Antifa é um conglomerado de grupos de esquerda. A principal característica dos grupos antifa é sua oposição a fascismo pelo uso da violência) na Ucrânia, por isso esperamos que seja o mesmo no exterior. Desejo que um dos administradores da MetalSucks (Nota: o site americano de notícias sobre música heavy metal, fundado por Axl Rosenberg e Vince Neilstein, ambos judeus) se engasgem com matza (Nota: semelhante ao pão sem fermento, é um substituto para o pão durante o feriado da Páscoa judaica) durante a crítica ao nosso álbum.
L .: - É difícil, mas verdade. A nossa capa é desconcertante para muitas pessoas. Infelizmente, muitas pessoas veem apenas estereótipos e rótulos. "Os fascistas do futuro serão chamados anti-fascistas": esta frase não pertence a Churchill, mas parece-me que reflete a essência da realidade.


M.I. - Estão satisfeitos com a forma como Galizier saiu? Ou, ouvindo agora, fariam alguma alteração?

E.C .: - Estamos muito satisfeitos com o trabalho realizado pela nossa editora – pela rapidez e qualidade. Ouvindo agora, há apenas um desejo... continuar. Quero dizer, desenvolver as ideias já trazidas para este álbum.
L .: - Concordo totalmente com E.C.


M.I. - A vossa formação mudou muito ao longo dos anos, em todos os instrumentos, incluindo vozes. Como é que isso influenciou o vosso som?

E.C .: - Influenciou completamente o som. Cada mudança de formação traz pessoas diferentes com instrumentos diferentes, estilo e nível de técnica diferentes.
L .: - Todos os nossos álbuns têm sons e músicas diferentes, porque tínhamos uma formação diferente.


M.I. - A banda separou-se entre 2007 e 2013... Desentendimentos pessoais ou diferenças criativas? Como é que isso mudou o futuro de Paganland?

L .: - Não, o motivo foi que o Ruen estava na Itália, acho eu. Havia outras prioridades.


M.I. - Considerando o relacionamento da Ucrânia com a Rússia e a sua história recente, é difícil não abordar questões políticas na vossa música?

E.C .: - Correção: não história recente, mas dos últimos 1000 anos. E alguns historiadores dizem que vai até muito antes. Mas isto é uma entrevista, não uma lição de história. Portanto, é natural que o ucraniano sóbrio e consciente não goste dos russos e do espírito russo. Porra, eles até roubaram o nome "Rússia" das terras ucranianas! Por isso, vamos chamar esse país de "Moscóvia", como deveria ser.
L .: - É difícil, mas como E.C. disse,  é algo contínuo, durou mil anos. Os russos são uma horda de bárbaros.


M.I. - Sendo da Ucrânia, como acham que a música ucraniana e o metal ucraniano são aceites no mundo?

E.C .: - Há um monte de bandas e artistas ucranianos populares no exterior. Podes, perfeitamente, encontrar alguém com uma t-shirt de Nokturnal Mortum, nalgum sítio de Inglaterra ou da Noruega. É bem aceite, se for bem promovido.
L .: - Normalmente, as nossas bandas locais autopromovem-se. Não temos grandes editoras ou agências de promoção para os géneros de metal.


M.I. - A Ucrânia não é o primeiro país quando pensamos no metal europeu... O que falta para alcançar o mesmo nível de reconhecimento que o metal escandinavo ou alemão?

E.C .: - Falta muita coisa: dinheiro, porque se tocares nalgum lugar na Ucrânia, tocas à borla, porque os promotores não têm como pagar por causa de alugueres caros ou porque as pessoas têm falta de dinheiro. Ou, então, é melhor ir comprar um hambúrguer no McDonald's do que ir a um concerto. Mas a principal razão são aqueles idiotas que votam em mentirosos, ladrões, idiotas e nas pessoas que "constroem" a economia e... é um pouco complicado.
L .: - A maioria é que decide o padrão de vida. Somos um país pós-soviético com todos os problemas que se seguiram ao passado comunista. O metal na Europa desenvolveu-se nos anos 70-80 e, naquela época, aqui, tínhamos uma cortina de ferro. Mesmo agora, não podemos comprar o equipamento de estúdio que já estava disponível para os restantes europeus há 20 anos.


M.I. - Como está o metal na Ucrânia agora? Existem muitas bandas boas? Fazem-se muitos concertos?

E.C .: - Bem, é difícil chamar esse sapo morto de "cena", talvez apenas se estivermos a falar de Kharkiv. Eles têm algo como a "cena de black metal". Claro que existem grandes bandas na Ucrânia, como Nokturnal Mortum, Lutomysl, Lucifugum (até 2004), Gromm, Drudkh e outras. Basta verificar o metalarchives.com e descobrir. Falando sobre concertos – com o coronavírus, nada de concertos. Tudo será cancelado ou adiado. Pelo menos, todos os concertos de abril já foram cancelados.
L .: - Temos muitas bandas e músicos talentosos. Muitos deles fazem da música um passatempo. No nosso país, não se pode ganhar dinheiro com o metal. A maioria dos concertos são realizados em Kiev, Kharkiv e Lviv. Nas outras cidades não há organizadores ou promotores. Muitos concertos, nós fazemo-los sozinhos, de músicos para músicos.


M.I. - O que ouvem? Quais são as melhores bandas, atualmente?

E.C .: - Depende do humor. Eu posso ouvir Katatonia num dia e, no dia seguinte, Nebelwerfer. Existem tantas bandas boas em estilos diferentes, que nem sei por onde começar mas, definitivamente, não são bandas atmosféricas de black metal. Atualmente, existe um projeto atmoblack em todas as aldeias. A mesma cena chata e triste.
L .: - O que mais oiço é o black metal dos anos 90: Emperor, Satyricon, Dissection, etc… Mas tenho a mente aberta para algumas músicas novas. Agora em quarentena, oiço algumas coisas de synthwave e retrowave. Das bandas mais recentes, gostei muito do álbum Pitfalls (2019) dos noruegueses Leprous e dos nossos ucranianos Hellhate, com  Æðè, Ãîñïîäè! (2020).


M.I. - Após 20 anos, qual a maior lição aprendida? E o que dizem a alguém que quer começar uma banda?

L .: - Não oiçam ninguém. Façam apenas o que quiserem.


M.I. - Se pudessem escolher uma banda com quem partilhar o palco, quem escolheriam?  

E.C .: - Mayhem, definitivamente. Eu estava no concerto deles, em janeiro, em Kiev. Porra, foi muito porreiro. Tanta energia vinda do palco, não via algo parecido há anos.
L .: - Eu já toquei com muitas bandas - Immortal, Shining, 1349, Marduk, Skyforger, Inferno. Agora, escolheria The Kovenant, mas acho que eles nunca se reunirão de novo. Que pena. A banda era boa.


M.I. - Planos para uma digressão? Alguma hipótese de vos ver em Portugal?

E.C .: - Se a logística for boa e as datas confortáveis, porque não? Mas atualmente um dos nossos membros está nas fileiras das forças militares ucranianas.
L .: - Ainda não estamos a planear nada. Vamos ver como os eventos atuais se desenvolvem.


M.I. - Conhecem alguma banda portuguesa de metal? Qual a vossa opinião sobre o metal latino / mediterrânico?

E.C .: - Conheço apenas Moonspell, mas nunca fui fã.
L .: - Sim, em Portugal também conheço Moonspell e sou fã! Os álbuns Wolfheart e Irreligious são os meus favoritos. Eles estiveram na Crimeia em 2008, no festival MHM. Eu estava lá e muito bêbado. Mas consegui dar um CD ao Miguel Gaspar com as minhas músicas. Não tenho dúvidas de que ele atirou aquilo ao lixo imediatamente, mas deu-me as baquetas! Foi engraçado - eles tiveram de dar uma conferência de imprensa, mas os fãs que estavam bêbados, interrompiam gritando “Moonspell! Moonspell! Moonspell!" Sobre o metal latino / mediterrânico, conheço algumas bandas de Espanha (Noctem), Itália (Graveworm, Lord Vampyr, etc.), da Grécia (Rotting Christ, Varathron etc.), França (Peste Noir, Blut Aus Nord, Amesoeurs, Alcest etc).


M.I. - Últimas palavras para os nossos leitores?

E.C .: - Leiam bons livros e comprem armas. Quem sabe, talvez daqui a poucos meses, seja a única maneira de se alimentarem!
L .: - Não fiquem doentes, não sejam burros, apoiem as vossas bandas de metal locais. Obrigado pelas perguntas e boa sorte para tua carreira.

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Entrevista por Ivan Santos