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Entrevista aos The Small Hours


O underground nacional está bem de saúde e recomenda-se. O nome de Portugal já atravessou fronteiras com bandas como Moonspell, Heavenwood, Gaerea, entre outros, e espera-se que as bandas portuguesas continuem a fazer furor cá dentro e lá fora. Os The Small Hours têm tudo para levar o nosso underground mais além, portanto a Metal Imperium esteve à conversa com a banda nortenha para saber mais sobre o seu novo trabalho “Risen from the grave”, os seus planos e objetivos. Venham conhecê-los!

M.I. - Afinal, quem são os The Small Hours? Contem-nos um pouco da vossa história.

The Small Hours começou tal como muitas outras bandas, com um grupo de amigos que se juntam para tocar e evoluírem em conjunto. Começou com o baterista Sérgio Barbosa e os ex-guitarristas Sílvio Leão e Rafael Marujo. Com a entrada do baixista John Shock e o vocalista António Costa, a banda compôs os seus primeiros temas e estreou em 2016. De seguida, deu-se a saída do guitarrista Sílvio Leão e a entrada do Renato Barbosa. Em 2018, John ausentou-se da banda e Mário Ferreira deu alguns concertos como baixista de sessão para o lançamento do EP e, em 2019, saiu o guitarrista Rafael Marujo e entrou Afonso Gomes no seu lugar. Com esta formação lançamos, no passado dia 22 de dezembro, o nosso mais recente single “Risen from the grave”.


M.I. - Porque decidiram chamar-se The Small Hours? Inspiraram-se no tema dos Metallica ou tem outro significado?

Na fase de formação da banda este nome foi colocado pelo ex-guitarrista Rafael Marujo por essa mesma razão, era o cover feito pelos Metallica preferido dele.
Depois da entrada do António na banda, as letras e o conceito da banda começaram a ficar definidos, dando outro significado ao nome da banda. Hoje podemos interpretar “The Small Hours” como o quão irrisórios são os momentos de felicidade em comparação à escuridão que envolve o mundo.


M.I. - Como surgiu a necessidade de criar a banda? Que lacuna tencionam colmatar no underground português?

Todos estamos nesta banda por gostar de tocar e por amor ao género musical que é o Metal. Como cada um de nós tem influências diferentes, mas os mesmos objetivos, decidimos trabalhar num projeto que mistura diferentes influências e que tenta ter uma identidade única. 


M.I. - Como definiriam o som dos The Small Hours? Quais são as bandas que mais vos influenciaram/influenciam?

Passamos por algumas fases de composição e maturação dos nossos temas até chegarmos ao que The Small Hours é atualmente. Falar em bandas especificamente é complicado, pois todos os membros influenciam-se num variado leque delas para aquilo que contribui para a banda. As influências mais notórias nos nossos temas vêm do Doom, Black, Melodic Death e Metal progressivo, portanto decidimos definir o nosso género como Dark Metal.


M.I. - Lembram-se do momento em que se “apaixonaram” por sonoridades mais pesadas? Contem-nos como foi e que impacto isso teve em vocês como pessoas e músicos.

Cada um de nós tem o seu caso. Enquanto o António e o John foram na adolescência por influência de amigos e colegas de escola, já o Renato e o Afonso tiveram o gosto pelo Metal incutido desde crianças pelos pais e, no caso do Sérgio, o seu gosto pela bateria e ter começado nesta banda, levou a gostar cada vez mais do Metal. O que temos todos em comum é que o Metal é o que sempre nos acompanha nas fases boas e menos boas da vida e por isso é que ouvimos e tocamos este género de música. É aquilo que nos faz sentir completos.


M.I. - Que obstáculos/dificuldades é que uma banda portuguesa enfrenta no início da carreira?

O primeiro, quando se começa uma banda, são as despesas, arranjar uma sala para ensaios, equipamentos e encontrar solidez no diálogo e objetivos entre os membros da banda.
Conseguir os primeiros concertos e salas onde tocar é também um desafio para bandas sem contactos ou conhecimentos. Conseguir os primeiros fãs, além dos amigos mais próximos, também é tarefa árdua nos primeiros tempos. E, por último, conseguir os primeiros fundos para os primeiros investimentos, como gravações, videoclipes e merchandising é bastante complicado até se juntarem os primeiros cachets.


M.I. - Em 2016 lançaram o single “Immortal”, em 2017 lançaram “Time” e em 2019 foi a vez do single “Risen from the grave”. Todo o material foi lançado independentemente. Quão difícil e custoso é lançar material por vossa própria conta e risco?

É necessária muita ginástica orçamental, principalmente quando não se tem capacidade para investir muito dinheiro do próprio bolso.
O nosso primeiro single e EP foram produzidos no estúdio do nosso ex-guitarrista e não apresentaram custos significantes para a banda, além do investimento nos equipamentos que tornaram a gravação possível. Começamos a juntar os primeiros cachets de bilheteiras sem nunca tirar para as despesas de viagem ou refeição e, juntamente com um prémio de segundo lugar no festival Tiro ao Rock, fizemos as primeiras t-shirts que foram uma forma de ajudar no início do financiamento para as atividades da banda.
No ano passado decidimos investir os fundos que juntamos numa campanha com mais qualidade, renovando a imagem da banda e com o novo tema “Risen from the grave”, produzido em estúdio profissional e com videoclipe, novo logotipo, artwork e merchandising. Foi lançado a 22 de dezembro com concerto a dia 30 no Roque Bar em Lordelo/Paredes. Infelizmente, vimos a campanha de divulgação deste tema interrompida devido à crise que o mundo passa atualmente.


M.I. - Se pudessem assinar contrato com uma editora nacional ou internacional, quer do underground tipo Napalm ou Nuclear Blast ou mais comercial tipo Sony, qual escolheriam e porquê?

É difícil escolher pois existem muito boas editoras, mas achamos que, por exemplo, Season of Mist tem muitas bandas com as quais nos identificamos bastante. Uma menos conhecida, que também tem crescido bastante, é a Black Lion Records. Só o futuro dirá quando existirá oportunidade de fazer parte de uma grande editora.


M.I. - Como é que o pessoal tem reagido ao vosso material? Tem correspondido às vossas expectativas?

Achamos que temos sido bem recebidos por pessoas que procuram música nova. As pessoas que já seguiam a nossa banda gostaram do novo single e temos feito novos seguidores ultimamente. Claro que estamos longe de ter uma legião de fãs, mas vamos continuar a divulgar a nossa música e prometemos trabalho e dedicação a todos os que nos tem apoiado.


M.I. - No vosso tema “Risen from the Grave” há uma passagem em português. É algo que pretendem fazer com frequência ou foi uma situação pontual?

Essa passagem foi algo que decidimos fazer de diferente, a primeira razão foi artística, pois soava bem com a melodia da música. A outra razão era para que toda a gente compreendesse bem a mensagem deste tema e o sinta como algo que também é seu.
Quanto a tornar a fazer o mesmo, já tocamos ao vivo temas em português ainda não editados, portanto, num futuro trabalho, irão ouvir mais coisas em português vindas de nós.


M.I. - Existe um vídeo para este tema. A filmagem esteve a cargo de quem? Quem decidiu como fazer o vídeo?

O videoclipe foi filmado e editado por Gil Dias e Silvia Micaelo, que tem uma página de fotografia e vídeo chamada SIN. Também fizeram o nosso último photoshoot no verão de 2019.
A ideia principal do vídeo foi tida pelo vocalista e discutida entre todos. As cenas de mutilação simbolizam o sofrimento que cada um de nós tem dentro de si, enquanto que o anjo e demónio a jogar xadrez simbolizam e bem e o mal que cada um pratica nas suas vidas e que, apenas aprendendo com ambas as situações, nos podemos reerguer.


M.I. - Supostamente, os vossos temas abordam o desespero, a perda... porque é que estes assuntos vos inspiram? Quem é o responsável pelas letras? As letras são biográficas?

As letras em maior parte são escritas pelo nosso vocalista e depois partilhadas entre todos e toda a gente dá a sua opinião. Por exemplo, o verso final do tema “Risen from the grave” foi sugerido pelo guitarrista Renato, tendo apenas algumas adaptações depois.
Quanto aos temas das letras, são coisas que já passamos, coisas que vemos quem amamos passar ou então coisas que tememos que aconteçam. Todos nós já perdemos alguém importante na vida e é um sentimento que nos marca para sempre. 


M.I. - O logotipo do vosso EP “Time” é diferente do logotipo que agora apresentam. O que motivou a mudança? 

Sempre fomos uma banda em constante mudança, portanto nos primeiros anos foi muito difícil decidirmo-nos por um logo que nos identificasse, daí termos ficado pelo logo simples que está no nosso EP. Mas com o passar do tempo e a criação de novos temas, o nosso conjunto de influências foi-se definindo e encontramos o designer ideal para o nosso logotipo oficial. Este logo mais recente, que foi revelado ainda antes do novo single, foi criado por Daniel Dantas que conseguiu transpor perfeitamente a nossa visão, ficamos muito contentes com o resultado.


M.I. - Quão complicado e triste é ter novo material e não poder fazer uma promoção adequada do mesmo com concertos? Acham que as entrevistas e participações em programas de rádio colmatam as falhas da falta de concertos?

Tínhamos confirmados para este ano um concerto em Penafiel com Godark, que foi cancelado, e no Milagre Metaleiro Open Air, que foi adiado para 27 a 29 de agosto de 2021. Também tínhamos planos para agendar e procurar mais concertos e tal não é mais possível por tempo indeterminado.
Obviamente, para uma banda como nós que gosta e necessita dos concertos, nada colmata essa falta, mas temos que nos adaptar à situação e temos trabalhado em divulgação online, pelas redes sociais , rádios, entrevistas e até mesmo playlists no Spotify. Também temos divulgado e vendido merchandising a quem nos quer apoiar. 


M.I. - Infelizmente, a cultura em Portugal não obtém muitos apoios. Sabem de alguma medida que facilitasse o acesso dos portugueses à cultura, mas sem lhes mexer nos bolsos?

Toda a cultura em Portugal necessita de muito mais apoio na divulgação, existem excelentes eventos com casas vazias e uma das causas é o facto das pessoas não estarem informadas.
Quanto a esta situação de pandemia, o estado deveria ter especial atenção aos profissionais da área da cultura, pois a maioria trabalha em condições precárias e viram todas a suas atividades canceladas.


M.I. - Esta pandemia teve um grande impacto nas grandes bandas que se queixam que não podem andar em tournée que é a sua maior fonte de rendimento. E que impacto teve em bandas como os The Small Hours?

As coisas na nossa banda ainda estão numa escala muito menor que uma banda que faz tours europeias ou mundiais, mas isso não significa que não tenha tido impacto. Não pudemos agendar mais concertos e, ao que tudo indica, só voltarão para 2021. As vendas de merchandising tiveram que ser numa abordagem mais online e diminuíram bastante. Sem cachets e bilheteiras dos concertos, todos os trabalhos da banda vêm-se afetados, mas continuaremos a trabalhar por criar mais música sempre.


M.I. - Quais os planos para os The Small Hours a curto e a longo prazo?

A curto prazo continuaremos na divulgação do nosso novo single e a trabalhar em temas novos.
Para longo prazo iremos tentar levar a nossa música a mais lugares do país e, claro, gravar e lançar cada vez mais música. De resto, só o futuro o dirá.


M.I. - Como consideram que está a saúde do underground nacional? Diriam que há camaradagem e até amizade na indústria musical nacional ou nem por isso?

A comunidade do Metal no geral sempre foi uma grande família e convivo tanto em festivais como em concertos mais pequenos. Claro que da mesma forma que existem vários tipos de pessoas no mundo, também as há no underground português. Claro que existem grupos ou pessoas menos amigáveis, mas num geral todas as bandas conseguem ter boa receção e encontrar novos amigos, fãs e até outras bandas com quem estabelecer contacto.


M.I. - Se pudessem ir em tournée com duas grandes bandas, quem escolheriam e porquê?

Duas bandas que têm um cruzamento de influências e sonoridade similares às nossas são November’s Doom e Swallow the Sun, mas são apenas dois exemplos pois existem tantas outras que adoramos e se partilhássemos palco seria um sonho para nós. Se incluirmos uma opção nacional, Moonspell e Heavenwood também seriam excelentes para uma tour nacional.


M.I. - Qual é o maior objetivo que pretendem atingir com os The Small Hours?

O maior objetivo, tal como muitas outras bandas, é ter condições para lançar álbuns e fazer tours pelo mundo fora fazendo a música que mais gostamos e passando a nossa mensagem.


M.I. - Obrigada pelo vosso tempo! Por favor, deixem uma mensagem aos leitores da Metal Imperium!

Obrigado nós pela ajuda em divulgar o nosso trabalho. Aos leitores, nunca desistam de lutar e de se tornarem as melhores versões de vocês próprios.
Procurem sempre transformar a vossa dor em arte, seja de que forma for.


Entrevista por Sónia Fonseca