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Entrevista aos Khaima


Da Alemanha surge mais um grande álbum. Khaima é uma fórmula vencedora que segue os passos de bandas como Tool, por exemplo. Entre uma pandemia tão duradoura, os ecos estrondosos e poderosos que surgem de “Owing To The Influence” são algo a ter em conta. Eis o que Sven teve a dizer.

M.I. - Olá a todos! Obrigado por nos concederem esta entrevista. Como é que têm passado e como têm lidado com esta pandemia?

Olá, obrigado por contarem connosco! Por aqui, as coisas estão estranhas e turbulentas ao mesmo tempo. A COVID ainda nos tem presos às suas fortes garras e os ensaios, bem como a parte da composição, estão atualmente interrompidos pelas restrições e pelo distanciamento social. Continuamos a tentar encontrar-nos sempre que nos é permitido. Em geral, não foi assim tão mau na nossa região, uma vez que aqui o confinamento surgiu de forma suficientemente prematura para reduzir os contágios. No entanto, as pessoas estão a perder alguma da seriedade em torno disto.
Parece que quanto menos pessoas forem detetadas com casos graves, mais se questiona os motivos pelos quais estamos a tomar medidas. 
E, bem, sim, estamos a fazer isto porque não queremos que ninguém morra.
Mas é exatamente nestas alturas em que surgem idiotas com as sugestões mais estranhas, autoproclamando-se como os iluminados e os únicos que sabem a verdade. Quão heroico, coincidentemente!
E, além de vermos tantas pessoas com medos existenciais ou de vermos pessoas a morrerem devido ao vírus, é uma pena que a cultura tenha ficado para trás. São estas coisas que por vezes nos distraem destes desastres ou que nos fazem sair e desfrutar da vida. É verdadeiramente uma chamada à realidade que nos faz pensar que pisamos um chão trémulo nos dias de hoje. Parece um aviso algo amigável. Ao olhar para o clima, parece que há mais coisas a caminho. 


M.I. - Para aqueles que não estejam cientes de quem são, gostariam de se apresentar? Como é que os Khaima começaram a sua jornada? Como é que surgiu a ideia para o nome da banda? Falem-nos sobre isso.

É uma longa história de pessoas que cruzam caminhos, apenas porque partilham o mesmo amor pela expressão. E, claro, porque o tentam expressar sob a forma da música.
Conhecíamo-nos de diferentes projetos. Tais projetos acabaram por se separar e voltaram a misturar-se, portanto, aqui estamos nós.
Foi algo magnético com alguns músicos a ligarem-se. Depois, a força fez o resto. 
O Markus (com quem já toquei antes numa banda) procurou outros músicos e, felizmente, conseguiu contactar o Toufik. Eles contactaram-me e pediram para ensaiarmos e, depois de 12 baixistas a entrarem e a saírem, o Jo contactou-nos e agora não o deixamos sair.
Desde então que estou nas teclas, mas na verdade ainda procurámos por alguns malucos por aí para explorarmos alguns sons e foi aí que o Mike e o Andreas apareceram, uma vez que são exatamente este tipo de pessoa, além de que já os conhecia há algum tempo. 
Como é óbvio, pensámos num nome para a banda e seguimos a primavera árabe, que ainda persistia por aí nas notícias. Por isso, Khaima para a população nómada é muito mais do que a sua tradução: “a tenda”! É a reflexão da tenda da vida, um símbolo da humanidade, um símbolo de uma existência exterior. Um local de visita escatológica para o ser humano. 
É apenas a ideia de que podemos estar em casa em qualquer lugar do mundo, em qualquer altura. E é exatamente isso que queremos expressar, dado que a música é uma emoção. Isto é, é algo que faz parte de todos e que nos une.


M.I. - Do que conseguimos perceber, Khaima é uma banda que encontrou as suas raízes em Saarbrücken, Alemanha. Com tantas bandas oriundas da Alemanha nesta indústria, como é que se sentem ao continuarem este legado para o futuro?

Oh, não sabia que éramos famosos por isso (risos).
Mas temos muitas e boas bandas oriundas da Alemanha e espero que possamos partilhar o palco com elas quando as coisas voltarem ao normal.
Por exemplo, os Long Distance Calling, são excelentes. Flares, são incríveis. Deem uma espreitadela, caso ainda não os conheçam. Mas “legado” é um termo grande. Por isso, não queremos seguir as pisadas de ninguém e continuar o seu legado. Espero antes que consigamos construir o nosso próprio legado.


M.I. - Ora, sobre “Owing To The Influence”, este é o vosso primeiro álbum lançado. O que nos podem falar sobre ele?

“Owing To The Influence” refere-se às influências sociais, industriais, políticas e culturais que interagem entre si. Reflete sobre o consumo e sobre o espaço cada maior entre pesquisa e decisões resultantes, entre conhecimento e crença. “A verdade não triunfa, mas os seus oponentes em última instância morrem” (Max Planck). O Antropoceno resiste e cai com a humanidade. A nossa influência é mais poderosa do que nunca, mas a influência sobre nós é ainda maior, tal como a que enfrentamos atualmente.


M.I. - De acordo com os nossos registos, os Khaima já existem desde 2013, mas o álbum de estreia foi lançado 7 anos após a fundação da banda. O que vos fez querer lançar um álbum agora, principalmente durante tal pandemia?

Pareceu ser a altura certa para criar ímpeto e dar algum significado por trás disso. Além de períodos sem espetáculos, não haveria melhor altura para o lançarmos, uma vez que o álbum se trata de uma reflexão das coisas que estão a acontecer e da origem das mesmas a partir da nossa perspetiva. Não se trata apenas da pandemia; é um dos sintomas.


M.I. - Onde foram buscar a inspiração para as faixas de “Owing To The Influence”?

À forma como a comunicação se tem alterado diariamente, por exemplo, parece que a conectividade está a melhorar no mundo inteiro, mas as pessoas estão cada vez mais a dispersar e cada vez mais distantes umas das outras numa perspetiva emocional.
A comunicação perdeu a interação emocional. Estamos a enfrentar uma altura em que a extrema-direita está a conquistar mais e mais apoio no mundo, dividindo a sociedade. Parece mais uma pintura de Pollock com muita porcaria à mistura.


M.I. - Do que conseguimos ver, vocês já foram comparados aos Tool, por exemplo, principalmente devido à natureza progressiva das faixas que lançaram até agora. Como é que reagem a isso?

Oh, bem, podíamos ser comparados a algo pior, não é?
Penso que é natural que nos comparem à música já existente. É isso que proporciona uma base sobre a qual nos podemos focar. Por vezes, as pessoas escrevem de uma forma competitiva, como que se estivéssemos num combate e a pergunta resume-se a quem é que ganha no final.
Além disso, claro que eles são uma influência que partilhamos entre nós e que adoramos. Mas permite-me sugerir que existem muitas coisas que nos tornam únicos, mesmo para aqueles que gostam de combates, e que são suficientes para que todos possamos coexistir.


M.I. - Infelizmente, muitos espetáculos foram cancelados e as digressões regulares estão longe de ser uma realidade. Quando decidiram lançar “Owing To The Influence”, tinham alguma expectativa no que respeita a digressões e à promoção do álbum na estrada?

Bem, isso já tinha sido planeado quando escrevemos estas músicas, mas infelizmente a COVID atingiu-nos praticamente na altura da conclusão das mesmas. Por isso, estávamos muito céticos em relação ao seu lançamento. Mas, na verdade, achámos que isto era exatamente aquilo de que falamos, portanto quisemos ver como é que este trabalho é recebido e se tem potencial para se erguer.


M.I. - Se toda esta confusão do Coronavírus acalmar em breve, podemos esperar alguns espetáculos para Portugal?

Portugal é lindo e, devido ao facto de que vivemos em curta proximidade com o Luxemburgo, temos também alguns amigos portugueses.
Adoraríamos ir até aí e partilhar alguns momentos convosco! Com toda a certeza!


M.I. - Existe algo que gostariam de dizer aos fãs em Portugal?

Mantenham-se em segurança, lavem as mãos e sejam porreiros uns com os outros.


M.I. - Muito obrigado pelo vosso tempo. Foi uma honra. Continuem em força! Estaremos garantidamente atentos aos vossos futuros trabalhos e desejamos que tenham a maior sorte do mundo.

Muito obrigado! A honra é toda nossa! 
Mantenham-se todos em segurança e desejamos tudo de bom para ti, para a tua equipa e para os vossos entes queridos! 

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Entrevista por João Guevara