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Funeral Mist – “Deiform” Review

Para os devotos de black metal, o passado dezembro trouxe o solstício de Inverno, as chamas de regeneração para um novo ano e trouxe o inesperado “Deiform”, cortesia da editora de culto Norma Evangelium Diaboli (NoEvDia). Este é o quarto álbum do projeto a solo de Daniel Rostén, que é, nada mais, nada menos, Arioch ou mais popularmente, Mortuus, o best-in-business vocalista dos Marduk. Para quem, por azar, não conheça Funeral Mist, não, este não é mais um side-project sem qualquer interesse. É, sim, uma das melhores one-man-band de black metal; para muitos, e arrisca-se dizer, atualmente mais relevante que Marduk. - Algo que jamais pode ser dito de ânimo leve! – Esse elevado estatuto deve-se a uma discografia invejável, por ser impecável, que combina as raízes do black metal sueco com empreendimentos inovadores, especialmente ao nível da voz e da guitarra, e com um cunho próprio que faz o som de Funeral Mist ser reconhecido imediatamente. “Deiform” não é exceção.

Contrariamente aos longos interregnos entre os álbuns anteriores, “Deiform” foi lançado apenas 3 anos depois de “Hekatomb”, gerando receio de que houvessem demasiadas semelhanças entre ambos, pensamentos esses rapidamente dissipados à primeira escuta. A faixa inaugural «Twilight of the Flesh» recebe-nos com um sample de canto gregoriano de 4 minutos, celebrando um ritual de iniciação para a experiência brutalmente visceral e inconformista que é o álbum. “Deiform”, tal como os lançamentos prévios de Funeral Mist, faz-nos cativos do incrível trabalho de guitarra, desde as mais rápidas incursões, como acontece em «Apokalyptikon», à lentamente ardente «Deiform». Por outro lado, na secção rítmica, por entre muitos e frenéticos blast-beats, encontramos um baixo com os qual dificilmente se contém um sorriso sinistro, do que é bom exemplo «In Here»,. Em boa verdade, trata-se de uma obra de tal integridade, que torna difícil escolher uma melhor faixa. Se o ambiente espiritual do início nos faz esquecer a realidade material que nos rodeia, o miolo sangrento assim nos mantém e o encerramento «Into Ashes» é uma manifestação tremenda que, com uma única badalada de sino, nos devolve subitamente à dimensão mundana.

Quando atrás se refere inovação, não é esta da orientação avant-garde que geralmente bebe de diferentes estilos musicais. O estilo do álbum é indubitavelmente black metal, mesmo na presença dos vários samples esculturalmente embutidos em diversas faixas, como acontece em «Children of the Urn». Trata-se de uma inovação conferida pelas afirmações de nível compositivo e do incrível instrumento vocal de D Rostén, que continua a impulsionar o estilo sem romper com as suas profanas tradições. O texto promocional cedido pela NoEvDia anunciava uma abordagem completamente diferente na produção e, de facto, assim é. Contrastando com “Hekatomb”, temos aqui um som deveras cru e punitivo, especialmente na bateria, o que pôde gerar, para alguns, sérias reservas sobre o álbum. Mas black metal é desconforto, é rebelião, e “Deiform” faz-nos reapreciar o estilo em toda a sua plenitude, sendo por isso um dos melhores álbuns do estilo de 2021, merecendo totalmente um lugar entre nas nossas primeiras reviews de 2022.


Nota: 8.5/10


Review por Luna