Ao descobrir que o guitarrista Philippe Tougas dos notáveis Worm fazia parte de uma banda de metal cósmico, não pude deixar de ouvir o álbum mais recente, e ainda bem que o fiz. Foi uma agradável e inesperada surpresa ouvir não apenas um trabalho de guitarra exemplar, , mas também um desempenho notável no baixo, que é surpreendentemente audível. Damon Good é um baixista virtuoso, ora adicionando peso às (já por si pesadas) guitarras, ora criando melodias misteriosas que remetem para toda uma ampla mistura de géneros musicais. Todo o álbum é bastante técnico e progressivo, não abdicando no entanto de melodias ocasionais que são bem vindas pausas para respirar no meio de uma tempestade constante de riffs destrutivos e vocais saídos das profundezas de um buraco negro. “Threads of Unknowing (The Paradigm of Linearity)” abre o álbum sem delongas, sem intro; apenas riffs implacáveis e bateria imparável mudando de tempo constantemente. “Writhing in the Facade of Time” termina com uma curta secção de teclado que poderia ser música ambiente para alienígenas, sendo imediatamente seguida pela imparável “Abyssic Knowledge Bequeathed”, apagando qualquer vestígio de calma que tenha sido ouvido. “Entropic Reflections Continuum” apresenta um solo de guitarra espetacular que ecoa pelos confins do cosmos, seguindo-se de um solo de baixo acelerado e terminando num solo de bateria curto mas eficaz. “At the Periphery of Human Realms (The Immaterial Grave)” é instrumental e mais calma com melodias de guitarras sobrepostas e distorcidas, criando um certo mistério e suspense para a música final do álbum. Com 11 minutos de duração, “Forlorn Portrait: Ruins of an Ageless Slumber” começa de forma implacável destruindo tudo com riff atrás de riff e vocais poderosos. No entanto, vai progressivamente desacelerando e dando origem a melodias calmas, apenas para voltar a toda a carga no último minuto, encerrando assim este cósmico álbum.
Não posso deixar de notar que, à semelhança de bandas como Tomb Mold, Witch Vomit e os já referidos Worm, a capa do álbum dos VoidCeremony é brilhantemente executada, com tons arroxeados e evocando uma paisagem surreal de outra realidade, encaixando-se perfeitamente na temática da música. Talvez seja por mera coincidência, mas as bandas da gravadora 20 Buck Spin têm sempre uma componente gráfica irrepreensível, tanto nos álbuns como no resto do merchandising, o que as torna (pelo menos para mim) muito mais apelativas e interessantes.
Com uma existência de dez anos e com um demo, três EPs e dois álbuns de estúdio lançados, os VoidCeremony definitivamente merecem mais reconhecimento. Este álbum é uma fresca (e pesada) abordagem ao em rápida expansão metal cósmico, distinguindo-se pela sua inovação e qualidade musical num género que se está a tornar rapidamente batido.
Nota: 7.8/10
Review por Simão Madeira