Phil Anselmo é um vocalista versátil em termos de estilos desde o groove metal dos Pantera ao quase folk de En Minor, passando pelos Down e Super Joint (Ritual ou não). Scour é uma banda cuja sonoridade se pode simplesmente descrever como “extrema”, sendo Gold, o seu álbum de estreia.
Porquê “extrema”? Aqui podemos recolher várias facetas do metal: do quase grindcore em “Cross”, que abre o disco, ao black metal em “Blades”, o tema seguinte (incrível tremolo picking por parte dos guitarristas e curiosos apontamentos de bateria a ter em conta). A voz de Phil Anselmo está irreconhecível logo desde o primeiro grito que abre o disco, mudando de registo dentro do mesmo tema. Os riffs são marcadamente black metal em “Infusorium” e a voz oscila entre o rasgado e o grave gutural.
“Ornaments” é um interlúdio desconcertante com piano e narração num tom extremamente grave, mas serve como uma pausa de todo o caos que o precede. Trata-se de um momento mais calmo mas desconfortável que prepara o ouvinte para a segunda metade do disco. Segue-se-lhe “Coin”, abrasivo e com uma bateria pesada e rápida, cortesia de Adam Jarvis. O riff de guitarra é igualmente pesado e o equilíbrio entre os dois guitarristas, Derek Engemann e Mark Kloeppel, na distribuição de riffs que culmina num solo aos dois minutos e meio é atingido de forma sublime.
Gold é um disco que reúne em si elementos de vários sub-géneros de metal, com grande enfoque no black metal, e fá-lo com mestria e bom gosto. Poderia beneficiar de maior variação, mas momentos como “Ornaments” mostram que os Scour sabem dosear a violência sem a tornar aborrecida. “Evil” é um bom exemplo da forma como a banda consegue equilibrar várias referências sonoras sem perder de vista a busca por um som próprio (Hypocrisy e Immortal são duas que aqui encontro); por sua vez, a voz em “Hell” aproxima-se da de Nocturno Culto (Darkthrone). No entanto, temas como “Devil” ou “Invoke” não se conseguem destacar dos demais temas do álbum, devido a falta de dinamismo.
Por isso, sim, existe um equilíbrio sonoro ao longo dos temas, mas nem sempre isso se traduz em variedade entre eles, pelo que interlúdios como “Ornaments” e “Contaminated”, com um piano e efeitos sonoros desconcertantes, ajudam a manter a atmosfera negra e misteriosa do álbum, permitindo ao ouvinte ter momentos para “respirar”. No caso de outro interlúdio, desta vez com letra, em “Angels” temos uma secção de cordas dissonantes que cria uma atmosfera desagradável, preparando-nos para a recta final do álbum.
Ao longo dos seus 37 minutos, Gold é um álbum agressivo e desconcertante, ideal para fãs de metal extremo, independentemente do sub-género que prefiram (o tema-título é puro death metal, por exemplo). O tema que encerra o álbum, “Serve” segue a mesma linha dos temas anteriores, terminando Gold numa nota desoladora e demolidora. Concluindo, trata-se de um álbum abrangente, mas que poderia ir mais longe em termos sonoros, pelo que temos que esperar para ver o que poderá trazer o futuro dos Scour. Até um próximo lançamento, Gold serve como um excelente tiro de partida.
Nota: 8/10
Review por Raúl Avelar