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Anneke van Giersbergen – "Everything is Changing" Review

Por vezes fica difícil manter um julgamento objectivo em relação a um artista. Tal sucede maioritariamente quando a música desse mesmo artista tem uma influencia tão significativa em nós, ou quando o seu contributo é tão preponderante para um estilo, que olhamos para ele com uma reverência apenas reservada a deuses ou a reis. Quando estes dois factores se unem numa só personalidade, então por mais que se tente não há palavras que justifiquem fielmente o que representa o artista para quem quer dissertar sobre ele. Mas vale sempre a pena fazer um esforço, ainda para mais quando Everything is Changing, o novo álbum de Anneke van Giersebergen, assim o merece.

Para quem não conhece a pessoa em causa, digamos que foi sem duvida uma das maiores responsáveis, juntamente com Liv Kristine na altura nos Theatre of Tragedy e Kari Rueslatten dos the 3rd and the Mortal, pelo fenómeno a que hoje chamamos de Female Fronted Metal Bands. Por meados da década de 90, através de álbuns como Mandylion e Nighttime Birds, Anneke e os the Gathering abriram as portas e mentalidades para que hoje em dia uma Sharon den Adel, uma Christina Scabbia e até mesmo uma Tarja Turunen possam ser adoradas por milhares. A sua brilhante carreira com os The Gathering levou, no entanto a um triste desfecho em 2007, mal gerido por ambas as partes, com a saída da vocalista na ânsia de procurar outros desafios.

Agora em nome próprio, Everything is Changing é para começar, um aumento de qualidade comparativamente aos anteriores trabalhos sob o nome de Agua de Annique. É também um disco mais diverso, intenso, completo, e muito mais revelador das reais potencialidades de Anneke. Alternativo? Rock? Pop? Indie-rock? Não interessa. Everything is Changing é essencialmente um divagar pelos diferentes estados de espírito da holandesa. Sentimos a felicidade contagiante de Feel Alive ou Hope, Pray, Dance, Play, a simplicidade introspectiva de Circles e da faixa titulo, a energia de You Want To Be Free e Slow Me Down, a força de Too Late e My Boy (um saboroso piscar de olhos aos Muse), a inquietação no atmosférico I Wake Up, e a súplica em Stay. Isto tudo culminando com o genial 1000 Miles Away From Home, que vem capturar na perfeição o espírito de A Noise Severe. Mas todos os temas falam a mesma linguagem, a da paixão, da beleza, da verdade, e do total compromisso espiritual com a música. Estas são as regras de Anneke. Provavelmente não lhe irão encher os bolsos, mas de certo a irão fazer sentir orgulhosa com ela própria.

A produção assegurada pelo nosso Daniel Cardoso, nos Ultrasound Studios em Braga, assenta que nem uma luva ao disco. Explícita, mas não plástica, sóbria e envolvente. Por agora a bola está do lado de Anneke, resta saber como será a resposta do “outro lado” lá por volta de Setembro.

Nota: 9/10

Review por António Antunes