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Arjen Lucassen – "Lost in the New Real" Review

E eis que finalmente Arjen Lucassen se mune da confiança e vontade necessárias para lançar um disco, em que ele é a personagem principal no campo vocal, deixando para trás autênticos dream teams de vocalistas que figuraram em discos como Into the Electric Castle, The Human Equation e 01. Desta vez o holandês conta apenas com a ajuda de Wilmer Waarbroek nas vozes secundárias, o habitual Ed Warby, e Rob Snjeider na bateria, e a grande surpresa Rutger Hauer, conhecido actor que figurou em clássicos da 7ª arte como Blade Runner ou Sin City.

Confesso a minha admiração não só pelo músico/compositor, mas também pela sua visão da música, especialmente o denominado prog, favorecendo sempre a liberdade caritativa, sem qualquer pudor em juntar o básico com o complexo, o sombrio com o alegre, ou o pesado com o acústico, evitando longos arpeggios, ou masturbações de ordem técnica muito próprias dos músicos ligados ao prog, seja ele metal ou rock. Com Star One, Ambeon, Guilt Machine, e especialmente Ayreon, Arjen Lucassen foi moldando um som claramente inspirado por todos aqueles que o marcaram, algo que ele nunca fez questão de esconder, mas que pouco a pouco se foi mutando numa sonoridade muito própria, que faça ele o que fizer já é perfeitamente identificável.

Agora em nome próprio, com Lost In The Real World, Arjen Lucassen puxa ainda mais a barreira do convencional, neste caso fazendo uma mixórdia de estilos ainda mais expandida do que anteriormente, o que faz deste disco o seu mais complexo e eclético de sempre, e sem dúvida um péssimo cartão-de-visita para quem quiser explorar o universo desta personagem tão singular. Diga-se em abono da verdade que pela primeira vez, Arjen faz um disco cujo principal propósito serve primeiramente para agradar ao próprio, e só depois ao público, numa atitude egoísta que facilmente se desculpa a quem já nos deu tão boa música.

Como não poderia deixar de ser, Lost In The Real World é também um trabalho conceptual, onde Arjen, recorrendo ao seu alter-ego Mr. L volta a abordar temáticas que lhe são queridas, como o futuro não só da música, como da própria raça humana numa visão apocalíptica e desoladora. Não quer com isto dizer que este disco seja desprovido de qualquer humor, aliás Where Pigs Fly consegue arrancar umas boas gargalhadas muito na onda Pythonesca que Arjen tanto admira. E o que dizer de um tema com o título Pink Beatles in a Purple Zeppelin? De certa forma não seria errado dizer que estes quatro nomes são muito da base daquilo que se ouve em Lost In the Real World.

Numa edição de dois discos, em que o segundo contém temas que não encaixaram no conceito que atravessa o primeiro, e umas quantas versões de extremo bom gosto de clássicos como The Battle Of Evermore (Led Zeppelin), Welcome To The Machine (Pink Floyd) e Veteran Of The Psychic Wars (Blue Öyster Cult), Lost In The Real World é um disco que vale a pena ouvir. Diferente de tudo o que Arjen nos deu até hoje, mas ao mesmo tempo inserido naquilo que é Arjen Lucassen, o músico, o compositor, e acima de tudo o fã.

Nota: 8.3/10

Review por António Salazar Antunes