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Enochian Theory - "Life… and All it Entrails" Review

Uma rápida pesquisa no Google permite-nos descobrir que Enochian se traduzirá como a linguagem falada por anjos, inspirada nos escritos de John Dee, matemático e astrónomo inglês do seculo XVI. Bom, de teorias nesse âmbito pouco percebo, mas o que sei é que Life….and All It Entrails, terceiro disco dos Enochian Theory, tem momentos que são quase transcendentais.

Embora pouco conhecidos, a verdade é que estes britânicos, constituídos por Shaun Rayment (baixo), Sam Street (bateria), e Ben Harris-Hayes (guitarra, teclados e voz), vão já no seu terceiro de originais de uma carreira que começou em 2005 com a edição do EP Our Lightening Shadow. Praticantes de um híbrido entre rock progressivo e metal, na onda daquilo que Dark Suns, Riverside e Pain of Salvation tão bem executam, ao ouvir este novo disco facilmente se fica com a percepção de que em nada ficam a dever a esses nomes.

Há quem defenda que os melhores discos são aqueles que nos confundem, mas que ao mesmo tempo lançam o isco que nos faz dedicar o tempo que for preciso para o tentar decifrar, se assim for, então Life… and All it Entrails não poderia estar mais próximo dessa teoria. É que se as coisas até começam de forma orelhuda (à falta de melhor termo) com o fantástico tema This Aching Isolation, a partir daí a coisa entra numa espiral de complexidade, que só por volta da terceira ou quarta audição ficamos finalmente com noção do que realmente se passa no disco, e quanto mais temos consciência disso, mais ele nos absorve.

O segredo não estará tanto na arte de bem tocar, mas sim na intensidade e emoção que dão às suas composições, e na maneira como as conseguem estruturar e ordenar de forma a reforçar tais argumentos. Como tal não hesitam em seguir caminhos menos ortodoxos como a premissa da calma depois da tempestade, que por vezes chega mesmo a arrepiar (experimentem ouvir Non Sum Qualis Eram à noite na penumbra, seguido de Distances), ou os crescendos post-rock de Nisi Credideritis, Non Intelligetis e Inversion. Claro que ter uma voz como a de Ben Harris-Hayes também ajuda, pois este senhor não só se mostra como a força motora da banda, como prova ser um enorme vocalista que consegue deambular facilmente por vários registos vocais desde growls, passando por apontamentos mais suaves, ou incursões por notas mais agudas, sempre com uma intensidade e competência assinaláveis. De ressalvar ainda o papel dos instrumentais ao longo do álbum, com propósitos bem definidos, seja para alimentar a atmosfera, ou lá está, para acalmar um pouco os ânimos após descargas mais veementes.

Embora o primeiro tema se destaque claramente dos outros, decididamente este é um disco que vale como um todo, e é desde já uma das grandes surpresas de 2012. Uma excelente proposta para quem gosta de música intensa, complexa e por vezes etérea.

Nota: 9.1/10

Review por António Salazar Antunes