Em que género podemos inserir os Digamma? Aqui está uma boa pergunta, que não é fácil de responder neste caso. Normalmente os críticos rotulam os projectos musicais de modo a situar o leitor que não conhece a banda, para que o mesmo fique mais familiarizado, mas no fundo, o mais importante é a qualidade da música e isso neste álbum não falta, seja lá qual for o género em que possamos inserir os Digamma.É este um álbum de puro metal? A resposta é não. Há uma multiplicidade de géneros neste 13 temas, que não podemos considerar sequer este um disco de metal. Há músicas com o elemento metal bem vincado como "Two Edged Swo", "African Cowboy" e "O Ódio Libera a Razão", mas mesmo aí se sentem as influências de pop/rock, rock moderno, rock alternativo e funk, presentes em abundância nas outras faixas. Há mesmo um tema que mistura rock com reggae, intitulado "Babylon Love" e que se revela uma experiência muito bem conseguida. Temos também temas claramente pop/rock como "Laivos de Mim" e "Plastic Sun", com mais qualidade para passar nas rádios nacionais do que muita coisa genérica e desinteressante, que se ouve por lá com regularidade.
Nada aqui soa forçado, sente-se ao escutar este trabalho, que a banda inseriu na sua sonoridade tudo aquilo que gosta, o que resultou num disco original e extremamente variado. Essa diversidade pode funcionar a favor da banda, mas pode também ter pontos menos positivos. A dificuldade em catalogar a banda, pode ter sido uma das razões pela qual a mesma não conseguiu arranjar editora, para a edição deste disco. O facto da banda não ser claramente metal, rock, ou pop, também poderá prejudicá-la em termos de concertos. Um promotor de concertos de metal, poderá ter receio de inserir a banda num cartaz de peso, porque a banda é demasiado ecléctica para o comum fã de metal, a menos que este seja um ouvinte de mente aberta. É mesmo para apreciadores de música com mente aberta, com gosto por metal, rock pesado, mas também por outras sonoridades, que este disco é passível de ser devidamente apreciado.
Os Digamma não contam com um simples vocalista, mas sim um verdadeiro cantor, sendo este o melhor elogio que lhe podemos fazer, uma vez que de facto este é uma mais valia para o grupo algarvio. De resto todos são bons músicos, mais preocupados em compor verdadeiros temas do que em virtuosismos, ou dar nas vistas.
A produção do disco está muito bem conseguida, tendo ficado a cargo do guitarrista da banda Miguel Carvalho, que já gravou álbuns de bandas como Mindlock e Prayers of Sanity.
O caminho que os Digamma estão a seguir é legítimo e integro, o de fazerem aquilo que lhes apetece musicalmente, mas para atingirem a merecida notoriedade, talvez necessitem de direccionar mais a sua sonoridade para uma das vertentes praticadas, compondo temas mais focados num determinado género musical, mas evidentemente mantendo alguns dos elementos que lhes dá originalidade. Caso a escolha seja a de se virarem mais para o pop/rock, a aposta em cantarem em português como fizeram no tema "Laivos de Mim" será certamente bem-vinda. Caso o próximo disco seja mais metal, a língua maioritária deverá continuar a ser o inglês, que é o idioma universal do género.
Nota: 8/10
Review por Mário Rodrigues
