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Faal - "The Clouds are Burning" Review


“As nuvens estão a arder”… num prenúncio de desolação e de tragédia, num augúrio de um abismo escuro e mórbido, na certeza da escuridão mais vazia do que o fardo que não raras vezes a vida nos obriga a carregar na alma.

Por vezes, as bandas conseguem títulos assim… imensamente representativos do álbum que pretendem identificar... e é esse o caso dos Faal com este álbum.

Formados em 2005 na Holanda, os Faal executam neste seu segundo álbum (sendo que o primeiro, “Abhorrence-Salvation”, data já de 2008) essencialmente Funeral Doom.

O álbum (e a review) seria previsível a partir daqui, sendo que o estilo, com o devido respeito pelos gostos dos nossos leitores, e fora algumas excepções, por vezes é susceptível de se encurralar a si mesmo. Mas a pedra de toque dos Faal, é o dinamismo com que constroem a desolação que anunciam, e que não é comum encontrar no estilo.

Estão aqui presentes algumas das características que identificam plenamente o Funeral Doom: os riffs cadenciados e graves, as músicas longas e vagarosas (4 músicas apenas, perfazem 45 minutos), o tom desolador e pesaroso com que o álbum se vai arrastando.

Porém, encontramos no “The Clouds are Burning” uma maior dinâmica do que é comum no Funeral Doom, e isso traz-lhe curiosamente uma envolvência mais especial… mais apelativa.

Muito por cortesia dos extraordinários e versáteis guturais do seu vocalista, que oram soam profundamente graves, lentos e soletrados, como mais céleres e emotivos… este álbum consegue tocar-nos de um modo inexplicável.

Tal talentoso vocalista, é acompanhado de uma secção rítmica irrepreensível (um pouco menos lenta do que é habitual no estilo, mas definitivamente mais variada e pujante), e de uns teclados suaves e densos, que em momento algum assumem preponderância, mas que constroem uma paisagem desoladora onde se acrescenta por fim o dinamismo brilhante da guitarra, que seja nos dedilhados lentos e melodiosos, seja nos riffs mais descontrolados e emotivos, nos transporta para longe, numa macabra dança fúnebre.

O exemplo perfeito de tudo isto que acabamos de descrever, está plasmado na terceira faixa do álbum: “Tempest”. É que, sem desprimor para as restantes faixas – dado conterem também predicados suficientes para arrancar do mais duro coração, a mais suave tristeza – a verdade é que construíram nesta música, uma descida vertiginosa ao mais desolador e escuro abismo da alma humana.

O álbum no global, ainda carece de um certo “je ne sais quois” para se transformar numa pérola do género… mas creio podemos afirmar com uma certa esperança, que estão destinados grandes feitos aos Faal.

Aguardaremos pois, sem pressas e sem constrangimentos por uma nova e ainda mais aprimorada proposta… enquanto nos vamos mentalizando, nos dias frios e cinzentos que nos esperam, de que a morte é só mais um caminho… e de que o “The Clouds are Burning” é um companheiro ideal para a viagem.

Nota: 8/10

Review por Sérgio Carvalhais Correia