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Entrevista aos Eudaimony


Os Eudaimony têm um alinhamento de luxo e cheio de experiência que inclui Matthias Jell (ex-Dark Fortress), Marcus E. Norman (Naglfar, Bewitched, Havayoth, Ancient Wisdom), Jörg Heemann (Secrets of The Moon) e Peter Honsalek (Nachtreich). Apesar de já existirem há seis anos, só agora se preparam para lançar o álbum de estreia “Futile” pela Cold Dimensions. Matthias conversou com a Metal Imperium para nos elucidar sobre esta banda que causará sensação neste outono!

M.I. – Todos os membros da banda estão, ou já estiveram, envolvidos noutros projectos. Como é que surgiu a ideia de criar os Eudaimony? Foi para poderem explorar novos sons e sentimentos?

Eu e o Marcus já nos conhecemos há algum tempo e respeitamo-nos musicalmente. Ambos somos músicos com mentes muito abertas. Quando eu saí dos Dark Fortress, sentimos que estava na hora de iniciarmos algo em conjunto… mas algo que não pudesse ser comparado com os nossos trabalhos anteriores. Eudaimony é o instrumento perfeito para explorarmos novas sonoridades.


M.I. - A palavra Eudaimony é uma adaptação da palavra grega Eudaimonia, que significa felicidade/bem estar/ crescimento humano? 

É sim. Eu e o Marcus tivemos alguma dificuldade em encontrar o nome perfeito para a banda. Queríamos um nome que encaixasse na desolação da nossa música e que fosse diferente dos nomes típicos de bandas deste género. Inicialmente, só nos lembrávamos de nomes muito batidos e negativos e ficávamos aborrecidos só de pensar neles mas depois eu tive a ideia de escolhermos um nome positivo e Eudaimony foi a escolha perfeita. 


M.I. - Mas não é estranho que uma banda deste género adopte um nome “feliz”? O E virado ao contrário no logótipo é propositado para criar uma contradição com o significado original de Eudaimonia? Felicidade versus desespero?

Para nós a música de Eudaimony é o espelho da vida rotineira nesta sociedade doentia. Segundo Aristóteles, Eudaimonia é o estado mais completo de felicidade na alma humana, um estado inalcançável na terra. E por essa razão invertemos o E no logótipo.


M.I. - Apesar de já existiram há cerca de seis anos, só agora é que vão lançar o vosso álbum de estreia. O que provocou este atraso?

Acho que esta é a hora certa para culpar o sueco da banda já que é ele o responsável pela composição dos temas. (risos) Não, agora a sério, havia muitas cenas a acontecer na banda do Marcus, os Naglfar, que provocaram atrasos nos lançamentos deles… e estava definido que Eudaimony era só um projecto em que nos focaríamos quando houvesse tempo e inspiração. Em 2008, nós assinámos contrato com a editora alemã Prophecy Productions mas depois eles tiveram de nos “libertar” por sermos preguiçosos! (risos) Acho que somos a primeira banda a ser despedida por uma editora antes de termos gravado algum tema. E foram estas as razões do atraso. 


M.I. - Quão diferente seria o vosso álbum de estreia se tivesse sido lançado um ou dois anos depois de a banda se ter juntado?

Simplesmente não haveria álbum nenhum. Só tínhamos 3 ou 4 temas numa versão promocional muito rudimentar, não tínhamos o suficiente para um álbum. Mas, como de costume, boas coisas vêm para os que esperam e eu sinto que tudo correu da melhor maneira porque encontramos a editora perfeita, Cold Dimensions, para a nossa música e o álbum soa exactamente como tínhamos imaginado quando criámos a banda.


M.I. - Porque é que escolheste “Futile” para título do álbum? É alguma referência à sociedade de hoje… fútil e superficial?

Todas as letras lidam com as minhas experiências diárias na sociedade. É tudo sobre a vida e a morte. Quanto mais observo as pessoas que me rodeiam, mais depressa concluo que é inútil tentar encontrar algo de bom na humanidade. No final de contas, a vida é uma corrida contra o tempo porque desde o primeiro momento em que respiramos, estamos a começar a morrer. Portanto, é tudo fútil.


M.I. - Li que consideras que a felicidade na terra é uma ilusão e que a vida em si não tem sentido a não ser na morte. Não acreditas mesmo que é possível ser feliz? És um misantropo?

Depende como se define felicidade. Eu não sou um tipo que nunca se ri ou que tenta ser o pior possível só para me encaixar num certo cliché. Mas acho que há uma grande diferença entre ser feliz durante uns breves momentos ou ser sortudo. Não me considero um misantropo porque a misantropia é odiar a sociedade. Eu não vejo as coisas assim mas sinto-me muito aborrecido com a maioria das pessoas e o seu comportamento.


M.I. - Porque é que a banda decidiu dedicar-se a tópicos deste género?

Nem todos os temas lidam com a futilidade da vida. Em geral, os Eudaimony são o instrumento perfeito para eu canalizar os sentimentos negativos e as memórias tristes.  Por exemplo, a letra de “December’s hearse” é sobre a morte do meu pai quando eu tinha 14 anos. Já foi há muito tempo mas nunca esquecerei o dia em que tal aconteceu. Essa letra é a minha maneira de lhe dizer adeus e de exprimir os meus sentimentos e frustração, principalmente quando há pessoas que me dizem que o tempo cura todas as feridas… contudo, há feridas que nunca curam.


M.I. - Como os Eudaimony têm membros de diferentes países (Suécia e Alemanha), como é que decorreu o processo de escrita e gravação de “Futile”?

Basicamente foi possível porque eu e o Marcus trabalhámos juntos. Eu enviava-lhe as letras e ele compunha as músicas. Eu expliquei-lhe o que queria exprimir com certos temas e ele compôs a música no seu estúdio caseiro. Quando achávamos que um tema estava concluído, enviavamo-lo para o Jörg e o Peter para eles opinarem sobre o mesmo. Só colocamos no álbum os temas que agradavam a todos. Quanto à gravação do álbum, o Marcus e o Peter gravaram os instrumentos nos seus estúdios caseiros, ao passo que eu e o Jörg tivemos de ir a estúdios de gravação perto do local onde vivemos. A mistura e masterização foi feita no German Studio E do produtor Marcus Stock, que toca com os Empyrium e The Vision Bleak.


M.I. – O álbum inclui 8 faixas… em que te inspiras para escrever as letras? Qual o tema mais marcante para ti? 

Tal como já referi anteriormente, o mais especial do álbum para mim é mesmo o “December’s Hearse”, pois traz-me muitas memórias. Também o tema “Portraits” tem uma letra muito importante para mim. Foi uma nova e grande experiência escrever a letra de “Portraits” por ser um tema sobre amor que nunca esteve destinado a ser.


M.I. - Qual o tema que impressionará mais os fãs?

Eu não faço ideia. Aliás, eu até nem sei se temos fãs! (risos) Mas o pessoal que ouviu o álbum apreciou bastante o “December’s Hearse”. Parece que este tema afecta as pessoas de algum modo.


M.I. – O tema “Futile” já está disponível e é muito bom… que reacções têm recebido?

Não recebemos grandes reacções, porque acho que muito pessoal ainda nem ouviu falar de nós. Mas a agitação na nossa página do Facebook tem aumentado e a reacção foi muito positiva.


M.I. – Qual a mensagem da capa? A rapariga parece estar a dormir… ou está morta? Significa que está a dormir quando deveria estar a apreciar a vida?

É simplesmente uma rapariga a dormir. Ela aparece no livrete em diferentes posições. A mensagem é que começamos a morrer a partir do momento em que nascemos. É como se ela estivesse a sonhar com esta vida enquanto a morte está por todo o lado. O conceito será mais fácil de compreender quando vires as imagens do livrete.


M.I. - Convidaste o Mick Moss dos Antimatter para participar no tema “Portraits”. O que é que ele “ofereceu” ao tema? Porquê ele em particular?

A participação dele tornou o tema mais especial. Todos gostamos da sua voz e do trabalho dele com os Antimatter. Para além de ser um tipo muito porreiro. Quando lhe fizemos o pedido, ele gostou muito da ideia. A voz dele encaixa perfeitamente no tema e é uma boa alternativa aos meus gritos nos outros temas do álbum. 


M.I. - Na tua opinião, que qualidades é que um individuo precisa de ter para não ser fútil?

Por ser uma pessoa muito cínica tenho de dizer que é preciso ser cego para não se ser fútil.


M.I. – Qual a maior futilidade de todas?

Procurar o sentido desta vida.


M.I. – Como “supergrupo”, foi difícil encontrar uma editora interessada no som do vosso projecto? Ou têm todas tendência a querer que vocês reproduzam êxitos obtidos com as vossas outras bandas?

Nós até nem procuramos editora. Em 2008, a Prophecy Prdocutions ouviu os nossos temas promocionais no MySpace, contactaram-nos e o resto é história. Depois de eles nos despedirem, eu contactei um amigo meu que costumava cantar na banda de Black Metal, Lunar Aurora. Eu comprei-lhe o último álbum de Lunar Aurora, que tinha sido lançado pela sua pequena editora Cold Dimensions. Ele perguntou se eu ainda tocava e pediu que lhe enviasse um tema. Eu fi-lo e ele ofereceu-nos um contrato. Achamos que é a editora perfeita para nós, especialmente por ser pequena e única. Claro que não podemos esperar grandes orçamentos mas a nossa música não tem interesse nisso. E não há nenhuma pressão já que eles não esperam que toquemos ao vivo nem um novo álbum de dois em dois anos. A filosofia “Faz o que te apetece” é a vigente na Cold Dimensions.


M.I. – Prestas atenção aos problemas políticos /sociais/económicos que afectam o mundo? Que pensas deles?

Presto e não fico nada surpreendido que, globalmente, tudo esteja tão mal. A humanidade tem estado a escavar a sua sepultura e estes acontecimentos são o resultado de tal.


M.I. – Estais ansiosos por tocar ao vivo? Já há planos para tournées e concertos?

Ainda não temos nada planeado e nem sabemos se tal acontecerá algum dia. Seria interessante fazer 2 ou 3 concertos especiais mas teria de haver uma série de cenas que teriam de estar conjugadas… tal como as outras bandas que estariam envolvidas e os custos da viagem estarem pagos. No entanto, penso que não haverá promotores dispostos a pagar tanto dinheiro por uma banda que só lançou um álbum.


M.I. - Quão fácil ou difícil é ser músico?

Eu não vivo da música, portanto é muito fácil. Eu tenho um emprego normal e escrevo quando estou inspirado… sem pressão nenhuma. Penso que os ouvintes são capazes de perceber se a música vem do coração do compositor ou se é apenas algo mecânico que tenta satisfazer as expectativas do género/negócio.


M.I. – Se pudesses voltar atrás no tempo ao teus vinte anos, há alguma decisão que alterasses? Se sim, qual e porquê?

Talvez bebesse menos vodka para me lembrar de mais coisas desses tempos! (risos)


M.I. – O que desejas para os Eudaimony no futuro próximo?

Que o álbum seja tão bem recebido como nós desejamos!


M.I. – Obrigado pelo teu tempo. Espero que os fãs portugueses tenham oportunidade de vos ver ao vivo brevemente!

Obrigado pela entrevista e pelo apoio. Cheerz!


Entrevista por Sónia Fonseca