About Me

Entrevista aos Shining


Há bandas e artistas que dispensam apresentações pois os seus nomes ultrapassam todas as fronteiras… é este o caso do mais recente entrevistado da Metal Imperium: Niklas Kvarforth, o enigmático vocalista dos suecos Shining. Este artista bastante conhecido pelas suas loucuras e controvérsias é um caso de bipolaridade que muita tinta tem feito correr… e parece que a tinta continuará a correr…



M.I – Não te parece um pouco confuso haver duas bandas do norte da Europa com o mesmo nome? Este facto já vos causou algum problema?

Confuso? Claro! Um problema? Ambas as bandas enfrentaram pequenos problemas nos últimos anos, principalmente com salas de espectáculo que fazem confusão entre nós, mas tal não nos afecta muito. Há uns tempos, a nossa manager conversou com o vocalista deles para discutir estratégias para evitar que certas coisas acontecessem. Se eles fossem uma banda foleira, para mim seria um problema e teria feito algo, mas não são por isso… Para ser sincero, até aprecio o que eles fazem.


M.I. -  Os Shining atingiram um estatuto de culto devido, basicamente, à irreverência e controvérsia do Niklas. Isto afecta a banda, de algum modo? Os outros membros sentem-se relegados para segundo plano?

Eu não penso que tal seja a razão de estarmos onde estamos. Se não fosse a música brilhante, o pessoal teria deixado de comprar os álbuns há muito tempo. O meu comportamento controverso até tem funcionado como uma desvantagem fazendo com que seja difícil marcar concertos e com que os colaboradores do passado, presente e futuro se sintam bastante cépticos. Portanto a banda teve de engolir os frutos das minhas escolhas, mas os problemas geram inovação e vontade de conquistar os inimigos. Como deves ter reparado, muitos membros abandonaram o barco quando perceberam que estava a afundar-se, mas o line-up corrente tem-se conseguido manter milagrosamente nos últimos dois anos.


M.I. – A maior parte dos vossos álbuns têm letras e títulos em sueco… então qual a razão do vosso grande sucesso?

Sei lá! O que é que tu achas?!


M.I. – O álbum "8 ½ - Feberdrömmar I Vaket Tillstånd" tem recebido críticas fantásticas. Já pensaram o quão difícil será conseguir superá-lo ou simplesmente estais a apreciar o momento e pensareis sobre tal mais tarde?!

Apreciar o momento? Porque diabo é que eu me deveria preocupar com as críticas? Sabendo que estes temas foram escritos e, parcialmente, gravados há mais de uma década, seria tremendamente triste que eu não os conseguisse superar no que concerne à sua composição. Nós sempre tivemos o dom de sermos amados ou odiados por causa dos nossos álbuns, nunca há um meio termo.


M.I. – Costumas preocupar-te com as críticas dos média e dos fãs?

De certa forma costumo, tal como qualquer outro artista neste planeta (independemente do que dizem!). Mas também não lhes presto muita importância. Chama-lhe arrogância se quiseres, mas acredito que é extremamente importante seguires o teu coração independentemente do que os outros pensam ou sentem.


M.I. – Este álbum é uma espécie de celebração do vosso material mais antigo e do vosso progresso…  porque decidiram rearranjar material dos álbuns “Livets Ändhållplats” e “Angst”?

Há 10-12 anos, uma companhia alemã lançou uma bootleg com demos que eu fiz para o Hellhammer antes de entrarmos em estúdio para gravarmos III. Estas gravações espalharam-se como um tumor maligno e, até hoje, não fomos capazes de o parar! Portanto conversamos sobre fazermos um lançamento oficial deste “álbum”… eu disse que nunca lançaria aquelas demos simplesmente com guitarra e bateria porque nunca iria dar, aos nossos fãs mais leais, um lançamento horrível que eles se sentiriam na obrigação de comprar. Por isso, gravámos os sons que faltavam por cima das demos originais e, eu quero acreditar que sim, criamos um álbum especial e único.


M.I. – Tendes convidados extremamente especiais neste álbum… Famine, Attila Csihar, Pehr Larsson, Gaahl e Maniac. Porquê eles em particular? Como é que reagiram ao convite?

A maioria deles já tinha estado envolvido comigo num projecto há alguns anos atrás e que, infelizmente, teve de ser posto na gaveta por várias razões. Foram escolhidos por serem aliados meus e por trazerem sempre algo de novo para o que fazem. Infelizmente, era suposto termos um sexto vocalista a participar no ritual mas, devido ao seu falecimento no ano passado, tal não foi pssível.


M.I. – Já pensaste em fazer um concerto promocional do novo álbum com todos os convidados do mesmo?

Não.


M.I. – Porque é que decidiste cantar no sexto tema e neste em particular?

Porque o sexto tema que ia, originalmente, integrar o álbum estava destinado para  o músico que faleceu e seria errado incluí-lo sem ele, portanto tivemos de ir buscar este lado B das sessões III e usámo-lo como tema final do álbum.


M.I. – Para conseguires criar, de que tipo de atmosfera necessitas?

Depende. Antigamente recorria a métodos poucos ortodoxos para obter inspiração. Hoje em dia, estou praticamente sempre em processo criativo, apesar de nem sempre resultar em música ou letras, mas algo mais em que estou envolvido.



M.I. – És fã de auto mutilação e os fãs sabem-no… os fãs e os voyeurs estão sempre ansiosos pelos vossos concertos. A mutilação já foi alguma vez a causa de cancelamento de espectáculos?


Eu sou a favor do uso de métodos e comportamentos de auto destruição como resultado destas cerimónias. Mas as razões para me cortar em palco são completamente diferentes. Claro que tem de ser feito até um certo ponto para influenciar a audiência mas nunca por causa deles. Gosto de me magoar em palco ou não o faria e não é algo que faço em todos os concertos. Acontece quando tem de acontecer. Já houve ocasiões em que me tentaram impedir de prosseguir com a cerimónia, mas o único local em que, de facto, tivemos mesmo de parar o espectáculo foi em Budapeste, correu tudo tão mal que tivemos de parar e ir para as urgências.


M.I. – O álbum “Redefining Darkness” lançado no ano passado não impressionou muitos fãs mais antigos, por ter uma abordagem mais directa e virada para o rock… os Shining perderam alguma da agressividade que os fãs adoram. Este álbum é uma maneira de se redimirem?

Problema deles! Talvez se devam cingir aos álbuns mais antigos! E, tal como referi anteriormente, nunca faríamos algo só para satisfazer o que algumas pestes querem.


M.I. – A banda já tem muitos concertos e festivais programados para 2014… como é a vida na estrada? O que fazeis para lidar com a frustração e raiva e não vos matardes uns aos outros?

Claro que é complicadíssimo estar na estrada mas é uma necessidade para cativar novos fãs e pagar as contas. Quando estamos no palco, tudo faz sentido. É a merda com que temos de lidar em tournée que nos dá cabo da cabeça!


M.I. – És o único membro do line-up original… será por seres alguma espécie de ditador que assusta os restantes membros? Sentes que a reputação dos Shining depende somente de ti?

Sugiro que perguntes aos outros membros se se sentem assustados ou não, mas não me parece que sintam. Há uma diferença entre respeito e medo, mas sempre avisei o pessoal que entrou na banda das situações que enfrentariam, mas se, no final de contas, eles não conseguem lidar com elas, não é problema meu, pois não?! Posso ter contribuído para a reputação caótica mas sei que não fui o único. E todas as bandas precisam de um ditador para conseguirem sobreviver. A democracia é tão estúpida como comprares um Porsche novinho em folha para a namorada!


M.I. – As tuas atitudes são reflexo da tua personalidade ou costumas usá-las como um meio rápido e eficaz para provocar controvérsia, publicidade gratuita e mais atenção para os Shining?

Diria que o que se vê no palco é o lado obscuro da minha personalidade a ter controlo completo. E, novamente, a “controvérsia” nem sempre resultou em nosso favor. Na verdade, 9 em cada 10 vezes, funciona exactamente ao contrário.


M.I. – Consideras-te um marginal social? Quantos anos tinhas quando percebeste que os teus objectivos e necessidades eram completamente diferentes das dos teus pares?

Apesar de não me considerar um marginal social, sei que o tenho sido desde que me lembro. Acho que não se começa a ver a imagem completa antes dos vinte mas acredito firmemente que a minha presença na Terra foi escrita há muito tempo atrás. Sabendo isto, sempre soube claramente qual era o meu objectivo, apesar de ainda estar longe de conseguir alcançá-lo e saber que não há outro caminho para mim, sigo-o com orgulho e paixão. 


M.I. – O livro “When Prozac no longer helps” tem um título que pode induzir certas pessoas em erro, especialmente os que não são fãs da banda. Como surgiu a ideia do livro?

Não acho que o pessoal for a do nosso universo vá comprar o livro ou até mesmo saber da existência do mesmo já que ele não foi distribuído para terceiros. As cópias estão exclusivamente à venda em www.shininglegions.compara evitar que outras pessoas tenham acesso a ele. O livro é uma mera colecção de letras escritas ao longo dos anos cuja publicação tinha sido planeada há algum tempo e também inclui a tradução dessas letras. Pediram-me milhares e milhares de vezes para as publicar oficialmente. Nunca imaginamos que haveria tanto interesse e ficamos boquiabertos quando a primeira edição se esgotou em seis semanas. A segunda edição saiu há alguns dias e estou bem com ela apesar de ter exigido que só se vendesse através da loja online. Se houver interessados em obter cópias, visitem o site.


M.I. – Porque decidiste numerar todas as cópias do livro com o teu próprio sangue?

Porque me apeteceu. Contudo, pode não ter sido uma grande ideia numerá-los todos de uma só vez, devido à grande quantidade de sangue que as cópias exigiram. Mas foi um projecto muito interessante, sem dúvida!


M.I. – Sendo suicida, como é a tua relação com as editoras? Elas não têm medo que te passes e coloques em perigo o futuro da banda?

(Risos) Bem, esta é uma das questões fundamentais abordadas no filme que o Martin Strandberg está a produzir. Ele entrevista todas as nossas antigas editoras sobre os problemas que tiveram em trabalhar comigo. Como não estou pessoalmente envolvido no projecto, não faço ideia da informação que ele recebeu desse pessoal mas tenho a certeza que não é nada de bom! (Risos)


M.I. – Há cerca de um ano, lançaste um vídeo em que te estavas a masturbar dentro de um banheira… que tipo de reacções recebeste? Porque optaste por fazer um vídeo tão provocador?

A editora pediu-me para fazer algo para fins promocionais e preparei-lhes o vídeo. Foi pura coincidência eu estar a beber com um amigo com quem jogo xadrez de vez em quando e ter recebido mensagens chatas da nossa manager a dizer que o tempo estava a acabar. Bengt, o meu parceiro de xadrez, agarrou na câmara e deixou-me ir para a banheira. Nós já tínhamos feito gravações deste género na banheira em 1996-1997. Claro que o pessoal se queixou do vídeo e, quando nos pediram um segundo vídeo, optei por me divertir a fazer algo completamente diferente. Enviei ao Martin Strandberg a sequência completa que filmei e é bem mais f*dida do que a sequência que apareceu na internet, porque na net tem apenas pequenos excertos do que realmente se passou e a sessão de masturbação é totalmente assustadora. Talvez ele tenha a decência de a colocar no fime ou então como extras num DVD.



M.I. – Alguma das tuas acções pode ser considerada como um pedido de ajuda?


Considerando o facto de ser bipolar, parece-me que a resposta é bastante óbvia.


M.I. – Já tentaste arranjar ajuda ou uma forma de lidar com a mutilação?

Não! Já estive encarcerado várias vezes mas nunca por problemas físicos.


M.I. - Nenhum de vocês é grande fã de metal… então como conseguis criar música tão intensa e obscura?

Se as pessoas não tivessem uma mentalidade tão fechada, deveriam saber que há muitos, mas mesmo muitos, artistas de outros géneros para além do metal, que criam música obscura e talvez mais intensa do que os gigantes do Death Metal alguma vez sonharam criar. A escuridão não tem fronteiras e não se restringe a um só estilo!


M.I. – Deixa uma mensagem final para os nossos leitores!

Certifiquem-se que participarão nas cerimónias que faremos na Europa em Novembro/Dezembro. Prometemo-vos uma  noite de loucura e escuridão perfeitas. Que a auto-destruição se comece a desenvolver!


Entrevista por Sónia Fonseca