About Me

Reportagem: Holocausto Canibal, Shadowsphere, Brutal Brain Damage @ República da Música, Lisboa - 14-03-2014


Noite de gore, grind, “tum-pa-tum-pa” e riffs melódicos na República da Música. A Death Voltures juntou a Shadowsphere nomes que não visitam Lisboa todos os dias; os Holocausto Canibal, do grande Porto, e os Brutal Brain Damage de Ourém, duas bandas que dão sentido á palavra violência, pelo que se esperava uma assistência interessante no capítulo final de uma semana de trabalho e stress acumulado. Não é que a plateia estivesse preenchida por aí além, mas para o habitual em eventos compostos por bandas exclusivamente nacionais, a centena de presentes (quiçá mais), deram um aspecto simpático ao espaço. 


Cerca das 22 horas, os representantes ourienses apresentaram-se em palco para debitar trinta minutos de bailarico apodrecido e obsceno, assente no seu álbum de estreia “Brain Soup” de 2012. Um pouco envergonhado, o público lá se foi movimentando a espaços perante a qualidade do grind ali exposto, ajudado também pelas boas condições sonoras.  O humor em temas como “I Scream Milk” ou “Suicide Jesus”, que as pessoas mostraram conhecer, não podia faltar neste pezinho de dança. Os Brutal Brain Damage podem vir mais vezes a Lisboa que a malta, de certo, não se importará.



Fazíamos então um intervalo na carnificína, para recebermos os principais representantes do death melódico nacional, os Shadowsphere. Estando a caminho dos quinze anos de actividade, e completando-se agora dez anos desde o seu primeiro longa-duração “Darklands”, o colectivo dos arredores de Lisboa não deixou os seus créditos por mãos alheias e deu um concerto cheio de intensidade e sempre a puxar por uma plateia mais ou menos adormecida e amorfa (em média foi assim toda a noite, com alguns rasgos de vida aqui e ali). Habitualmente, os Shadowsphere apresentam covers de bandas clássicas, como por exemplo W. A. S.P., e desta vez não foi diferente, mas com outra escolha. Com Paulo Gonçalves (voz) a enfiar na cabeça a máscara do orgão genital masculino, a que o próprio chamou de “costela do amor”, o concerto terminaria com “Love Gun” dos lendários Kiss, e com Luis Goulão numa guitarra a passear-se pela sala. Muito boa a atitude de banda, sempre a rasgar pano.



Por fim, voltávamos ao talho. Os Holocausto Canibal estão numa forma soberba, e creio que é justo reconhecer que as alterações feitas na formação, muito os ajudaram a ganhar um novo fôlego. Depois de uma pausa nos concertos, com o fim da longa tour do “Gorefilia”, os mestres do grind pornográfico voltaram recentemente aos palcos nacionais, abrindo para Exhumed e Toxic Holocaust, no Porto, e visitando agora Lisboa, dois anos depois da última vinda à capital nacional. Pessoalmente, já os devo ter visto quatro ou cinco vezes desde que se apresentaram com novidades, e tenho a dizer que a violência com que nos violam a audição está cada vez mais aprimorada, mais bruta, e só salas muito resistentes é que suportam esta parede de som, sem que tudo fique virado ao contrário. O sintomático “Fascínio Paradoxal” foi o mote para a sessão de esquartejamento, violação romântica e putrefacção totais, com a banda a disparar de imediato “Lactofilia Destalhada”, “Prepúcio Obliterado” e “Mutilada em 10 segundos” para, finalmente, uma roda em condições se abrir. O quinteto apresentou-se bem disposto, agradado e agradecido por tocar em Lisboa, e desfilou a sua técnica e exército visceral ao longo de uma hora, com as habituais “Punição Anal”, “Violada pela Moto-Serra”, “Gore & Gajas” ou “Empalamento”, entre muitas outras. A pedido de muitas famílias, “Amizade Fálica” fechou o conjunto de originais, com a banda a precisar de trinta segundos para se recordar do tema. “Zombie Apocalypse” dos Mortician e “Raping the Earth” dos Extreme Noise Terror, colocaram a cereja no topo de um bolo feito de restos e líquidos humanos.


Texto por Carlos Fonte
Fotografia por Tiago Barbas
Agradecimentos: Death Voltures