About Me

Crematory - "Antiserum" Review


A música guia-nos muitas vezes ao encontro de contra-sensos. Quantas vezes já bati eu o pé ao som de músicas rascas? «Rascas» é uma subjectividade, mas porque é que será que os nossos gostos e até valores musicais são muitas vezes hipnotizados por sons que racionalmente não nos agradam? É a beleza da música no seu estado mais esbelto: o metalhead mais true de todos os trues pode sempre bater o pé à pala de sintetizadores mal-amanhados ou com breaks electrónicos. É esquisito, pois é? O novo álbum dos Crematory podia ser resumido neste parágrafo. 
«Antiserum» é um álbum engraçado. É como se o heavy metal e o trance (?) fossem amigos coloridos. Parece que uma discoteca perdeu parte dos sons da sua playlist e as músicas foram preenchidas com umas guitarradas. Há aqui uma linha tipicamente electrónica de sons catchy que depois de fundida com a voz Felix nos dá resultados algo bizarros, mas viciantes. Há aqui também um espectro Eurovisão que é algo incomodativo, às tantas este parece um álbum feito com uma sede sadia de agradar e isso soa forjado. 
Por incrível que pareça, esta rave metálica oferece-nos mais diversidade do que supostamente se poderia pensar. As faixas são todas de fácil recepção, mas nem por isso são básicas. A toada electrónica torna tudo mais fácil de assimilar, mas a fórmula utilizada não é a da repetição compulsiva como acontece, por exemplo, no house. Aqui temos momentos para «queimar a pipoca», para fazer headbang e ainda há lugar para os cleans de Hechler que encaixam muito bem nesta sonoridade electro-metálica. É um álbum que cresce a cada a audição, disso não haja dúvida. 
«Inside Your Eyes» é uma das faixas mais «techno» aqui e, curiosamente, também é o highlight deste «Antiserum»: estar parado parece quase uma utopia e após duas ou três audições já se torna imperativo trautear a canção dê por onde der (estive a fazê-lo enquanto escrevia esta review). Há aqui uma nébula nórdica nas teclas que resulta de forma esplêndida. Pena que a jukebox não seja toda deste nível. As outras faixas, cada uma à sua maneira, vencem, mas não convencem. Todas oferecem qualquer coisa, mas nem sempre é muito. Outros momentos altos são «Kommt Näher», uma malha com muito power (faz lembrar Scooter nos seus tempos áureos) e cantada em alemão, e ainda a faixa título, que nos oferece um momento emocional a fechar o álbum.

Esta carga electrónica não é propriamente o meu copo de gelado, mas admito que iria mais vezes a discotecas se fosse esta a música a passar lá. Este «Antiserum» é um alvo fácil para a subjectividade do gosto, mas é indiscutivelmente um bom álbum na categoria em que se insere. Se por um lado, em termos racionais não há aqui muita coisa para se gostar, por outro as músicas são tão orelhudas e «dançáveis» que não há resistência possível. É um paradoxo, mas suponho que seja só a música a guiar-nos ao encontro de contra-sensos.

Nota: 6.1/10

Review por Pedro Bento