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Yes - "Heaven & Earth" Review


Não é fácil resumir a carreira e a influência que os britânicos Yes foram acumulando ao longo de mais de quatro décadas mas a verdade é que, à luz da música de hoje, as mais jovens gerações podem precisar de uma palavra ou outra sobre o assunto. A coisa podia ficar mais ou menos resumida quando dizemos que bandas como os Rush, Dream Theater ou Tool mencionam o seminal grupo de rock progressivo como influência, mas os Yes foram muito mais do que apenas um projecto seguido, no seu caminho musical, por outros. A banda praticamente inventou o prog rock “clássico” como o conhecemos hoje e, mais importante que tudo, depois de criá-lo não se limitou a repetir a fórmula vencedora que tinha em mãos, limando-a, remoldando-a e afinando-a em cada um dos discos que editou, especialmente na década de 70 e primeira metade da de 80.

Por isso, os Yes que actualmente editam «Heaven & Earth», o seu 21.º (!) disco de estúdio, são mais do que um grupo de velhotes de aspecto simpático a quem todos devemos muito e a fazerem harmonias à «Owner Of A Lonely Heart». É certo que os arranjos dos oito temas do disco são formais, clássicos na estrutura e na forma e de abordagem vocal delicada e super-melódica, como é hábito no universo dos Yes. É, aliás, no departamento vocal que está uma das novidades de «Heaven & Earth», depois de Benoît David ter “durado” apenas um álbum e de se saber que o cantor original Jon Anderson dificilmente voltará ao seio da banda por motivos de saúde, que não lhe permitem fazer muitas e longas digressões. O novo recruta, de seu nome Jon Davidson, descoberto nos Glass Hammer e Sky Cries Mary, não sendo tão exuberante como o seu antecessor, cola-se mais ao estilo sensível e expressivo de Anderson, o que não é necessariamente uma coisa má.

Posto isto, os Yes arrancam para mais um trabalho da sua fase de confiança serena e estabilidade criativa. São canções aparentemente simples, de melodia fácil e harmonias modestas, mas com rugas suficientes na sua textura para esconderem pormenores técnicos de classe, reflexos da selvática liberdade criativa de outros tempos, hoje conservada através de uma placidez falsamente mansa, que mantém os solos de guitarra do genial Steve Howe numa espécie de redoma de intemporalidade que se alastra aos outros elementos e à música dos Yes como se a imortalidade fosse a coisa mais comum do mundo. Não é e «Heaven & Earth», embora exija a atenção, insistência e investimento de outras décadas, recompensa o ouvinte com um tipo de sensações que continua a não estar ao alcance de nenhum outro projecto musical contemporâneo.

Nota: 8/10

Review por Fernando Reis