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Entrevista aos Falloch

Inovadores para uns, fracasso para outros. Hype para uns, genial para outros. É assim que os Falloch têm sido confrontados no mundo do metal, mas a evolução, persistência e gosto pelo que fazem tem estado do lado da banda. Com todas essas positividades, os Falloch lançaram o segundo álbum “This Island, Our Funeral” e as próximas linhas são o resultado da conversa que tivemos com eles, recaindo principalmente neste novo trabalho.


M.I. - Achas que o novo álbum “This Island, Our Funeral” é mais negro e complexo do que o primeiro disco que lançaram? Pelo menos senti isso…

Definitivamente é mais negro, mas quanto ao ser mais complexo já depende do que queres dizer com isso. No que toca a todas as camadas instrumentais é muito mais simples do que o álbum de estreia, já que o foco para este disco foi criar um som como uma banda real. Sobre a estrutura, os temas são talvez mais complexos desta vez, mas ao mesmo tempo “For Life” é o tema mais directo que temos. Se é mais ou menos complexo, isso não é o mais importante. Penso que alguma música simples soa brilhantemente, mas ao mesmo tempo algo mais complexo e abstracto pode soar igualmente brilhante; depende daquilo que gostas e do teu estado de espírito.


M.I. - Contudo, este álbum mantém a direcção post-rock/metal sem esquecer o shoegaze. Pensas que, actualmente, esses dois géneros andam de mão dada?

Não tenho a certeza, não presto muita atenção a géneros. Geralmente, se a música for facilmente definida é provável que se torne bem entediante. Não descreveria este álbum como tendo algo de shoegaze, e a direcção post-rock não surge de nenhum desejo para fazer o dito post-rock; é mais uma consequência de se gostar de música atmosférica e tentar incorporar atmosfera na música que eu crio. No geral, apenas faço música que quero ouvir e criar, e qualquer que seja o género que surja cabe às pessoas decidir.


M.I. - Quão importante é a terra no vosso conceito? E quão importante é o facto de escolherem a vossa terra para ser o local do vosso funeral?

Este álbum é sobre o nosso lar, as nossas vidas e é uma reflexão directa do sítio onde estávamos quando a banda estava a escrever e a gravar o álbum. Penso que as pessoas deviam olhar para este disco mais como a morte da banda em relação àquilo que éramos no início. Claro que há alguns vestígios daquilo que éramos quando começámos, mas isso está a desaparecer e estamos a mudar; as coisas estão a acontecer, há um mundo para ser visto.


M.I. - Pode dizer-se que o uso de instrumentos acústicos é a ligação necessária para expressar o facto de cantarem sobre a vossa terra? Para além das letras, claro…

Instrumentos acústicos soam mais quentes e mais naturais do que instrumentos eléctricos. Criam um som mais terreno, mas não foi um processo pensado quando estávamos a trabalhar nos arranjos dos temas, nem se pensou onde se iriam colocar os instrumentos acústicos ou eléctricos. Quando trabalhamos com música, uma vez que se começa, é a própria música que dita a direcção e não é um conceito primordial de como a música deve ser. Às vezes começa-se um tema e acaba por soar completamente diferente daquilo que inicialmente se imaginou. A maior parte das letras não são sobre a terra; sinto que se se há algo liricamente importante, tem a ver com a Terra como um todo, mais do que uma ‘terra’ individual, embora nos tenhamos inspirado no país onde crescemos, mas há muitas coisas interessantes a acontecer por todo o mundo para nos influenciarmos apenas no que está a acontecer num pequeno canto.


M.I. - Com o novo álbum, encontramos passagens nostálgicas e tristes como nos temas “For Ùir” ou “Sanctuary”. Pensas que é o sentimento correcto para tocar e cantar sobre assuntos terrenos?

Não sinto que o álbum seja muito nostálgico, mas não quero dizer que não o devas sentir assim quando o ouves. Penso que é difícil falar sobre sentimentos com a música, porque é tão pessoal e todos ouvem as coisas de forma diferente, e aquilo que sentes relaciona-se muito com aquilo que está a acontecer na tua vida.


M.I. - Não pude deixar de notar que os Falloch são alvo de reviews muito boas, mas também de más… O que não é o meu caso, já que gostei muito do álbum. Tens alguma explicação para isso? Se é que te importas…

Sim, apanhamos com uma grande variedade de reviews. As pessoas gostam de coisas diferentes e nós não nos enquadramos num género particular. Somos revistos por pessoas que talvez tenham ouvido dizer que tocamos folk metal ou black metal – e são elementos tão pequenos no nosso som – que é quase irrelevante mencionar esses géneros quando se fala de nós. Por isso, talvez as pessoas pensem que somos algo que afinal não somos, mas eu não sei mesmo o que é que outras pessoas estão a pensar! Continuaremos a fazer a música que nos faz feliz e se as pessoas gostam, fantástico.


M.I. - O nome da banda vem das Cataratas de Falloch, na Escócia. Podes descrever essa paisagem? E por que razão escolheram esse nome para a banda?

São umas quedas de água isoladas que ficam a norte de Loch Lomond. Encontrar um nome para uma banda é irritante como tudo. Escolhemos Falloch, porque se relaciona com a música que queríamos criar naquela altura.


M.I. - Começaram como uma banda de dois elementos em 2010. Por que é que evoluíram para uma banda de quatro elementos?

Queríamos começar a dar concertos já que eu sinto que uma boa banda ao vivo é provavelmente o aspecto mais importante de se estar numa banda. Gravar um álbum é um desafio e dá muito trabalho, mas dar concertos com um alto nível de intensidade e emoção é o maior desafio que encontro, e sempre quis sair da zona de conforto com a música. Não me quero sentar e fazer apenas algo porque é simples, quero sentir algo daquilo que faço e a única forma de fazer isso é ter constantemente novas experiências e colocar-me em situações em que não sei qual vai ser o resultado.


M.I. - De acordo com o vosso histórico das digressões, apenas saíram do Reino Unido por umas duas vezes entre 2011 e 2013. Não gostavas de mudar isso? Há alguma razão particular para tocarem apenas dentro do Reino Unido?

Por acaso, concluímos uma digressão Europeia de três semanas, vamos tocar num festival na Noruega, em Fevereiro, e vamos dar mais concertos fora do Reino Unido. Podíamos ter tocado mais vezes fora de fronteiras entre 2011 e 2013, mas nessa altura que íamos começar com concertos tivemos uma mudança de formação e, por isso, estivemos seis meses sem tocar. Depois de a formação da banda ter ficado completa, a prioridade principal era acabar o segundo álbum e apenas demos alguns concertos só para ver como é que as novas músicas funcionavam.


M.I. - O mundo do metal colocou os olhos na Escócia especialmente quando os power metaleiros Alestorm lançaram o primeiro álbum em 2008. Depois disso, temos tido grandes projectos como Saor e Falloch vindo do vosso país e estão a ter mais atenção. Achas que a Escócia é um país a ser promovido e descoberto no que toca ao metal?

Penso que não há muito metal a sair da Escócia, porque não há muito metal a acontecer por cá. Claro que que há uma pequena cena aqui e ali, mas não é assim tão popular e não é algo que esteja em primeiro plano nas mentes das pessoas quando pensamos sobre a Escócia e a música.


Entrevista por Diogo Ferreira