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Cretin - “Stranger” Review


Cretin, uma banda com história ou a história de uma banda? Este é o desafio que tenho em mãos para vos responder.
Se inicialmente pudessem ser considerados como mais uma banda de grindcore, com a especial vocação em seguir as pisadas dos Repulsion, logo cedo, tudo entrou numa espiral de mudança abrupta, devido à passagem do seu vocalista e guitarrista, Dan Martinez, por um processo de mudança de género sexual e obviamente de identidade. Entretanto, para trás, ficou o primeiro aviso à navegação em forma de longa duração e de nome “Freakery”. Um disco fortíssimo, sujo e com um humor negro muito apurado, sem que a maior parte de nós, comuns mortais, sequer imaginasse as reais motivações por detrás dele. Estávamos no ano de 2006. A partir deste lançamento, Marissa Martinez tornou-se a “nova” cara da banda, numa história de contornos épicos, sincera e cujos sentimentos têm potencial de no futuro dar direito a série ou mesmo autobiografia cinematográfica. No final, fica uma certeza, a paixão pelo grindcore sai reforçada!

Mas vamos à Música, reforço a maiúscula porque é disso que “Stranger” trata, um disco enorme de grindcore da velha escola feito nos actuais tempos, onde à composição de raíz punk, crust e grind, tendo por inspiração os sempre magnéticos Repulsion, adiciona elementos e passagens que nos trazem uns Terrorizer, no seu melhor momento de “World Downfall”, à memória e até uns momentos à lá Macabre, mas acima de tudo, os Cretin estão ainda mais Cretin. Há crescimento, expansão, logo evolução, reforçada pela partilha, na escrita musical, entre Marissa Martinez e Matthew Widener, este último que já nos tinha brindado com o seu excelente projecto Liberteer. Outro ponto chave deste álbum é o vozeirão da Marissa, que não perdeu o seu poder e até está mais encorpada e raivosa, como se houvesse a necessidade de purgar o corpo de antigos demónios.

“Stranger” é, sem dúvida, um disco de uma banda com história e define os Cretin como uma força do grindcore mundial. Mas, ainda que a nossa questão inicialtenha sido respondida, há que, também, tocar no aspecto das letras, cada uma delas representa uma peça de um puzzle que justifica, para mim, esta ausência de 8 anos dos registos oficiais, partes de um todo, cada uma das histórias funde-se com a música e torna tudo muito mais coeso, desde o primeiro “It”, passando por “We live in a cave”, o próprio “Stranger”, o “Mary is coming”, “Honey and venom”, “Freakery” e “Husband” são símbolos de uma vontade que move montanhas e que deverá ser considerada para o futuro. “Stranger” representa a Phoenix que vive no interior de todos nós e que nos ajuda a renascer para a vida nas condições mais adversas, apenas espero que, agora, não demorem muito mais tempo até ao próximo trabalho.

Nota: 9.6/10

Review por Pedro Pedra