
M.I. – Quem criou o moto “Não é o medo que nos quebra mas os Necrophagia” e o que significa?
É um velho slogan tirado do filme italiano “Anthropophagous” e é um trocadilho literal com o significado do nosso nome. Queríamos prestar homenagem aos filmes que nos inspiraram ao longo dos anos.
M.I. – Após 30 anos de Necrophagia, se não contarmos os que estiveste inactivos, como ainda consegues inspirar-te no horror e gore? Os livros suaves do Marquis de Sade inspiraram-te de algum modo?
É fácil. Nunca fui uma imagem, sou um fanático do horror. Colecciono tudo relacionado com o género: posters, cartões, estátuas, livros, bandas sonoras. Sou um grande fã da escrita do Marquis De Sade, apesar de não ser algo perceptível nas minhas letras. Também adoro o Poe e o Lovecraft, porque são escritores que encaixam facilmente no que nós escrevemos.
M.I. – O álbum tem sido descrito como simples, doentio e pesado e o Killjoy já referiu que “WhiteWorm Cathedral” é o álbum mais direto dos Necrophagia. Porquê? Era suposto ter sido editado na primavera passada… o que provocou o atraso?
“WhiteWorm Cathedral” é muito direto mesmo e foi intencional. Penso que sempre exploramos diferentes formas de inovar e criar o horror através da música. Fizemos muitos temas e interlúdios experimentais que fogem completamente à norma do metal extremo. Desta vez não senti necessidade de o fazer. Queríamos mesmo massacrar o ouvinte. O atraso não foi culpa nossa. Tivemos de regravar todo o álbum e foi um processo demasiado longo e caro. Claro que não esperavamos que tal acontecesse mas o que não te mata, torna-te mais forte. Fizemos o nosso melhor para compensar o atraso.
M.I. – O novo álbum contém 13 temas que lidam com bruxaria e necromancia que é algo que tencionavas trazer para os Necrophagia há já algum tempo. Porquê? O facto do álbum ter 13 temas é coincidência ou está relacionado com a superstição do número?
Bruxaria é algo muito pessoal para mim. Penso que chegou a hora de aceitar essa parte de mim como pessoa. Nunca a vi como uma religião, mas como um ritual de nascimento. A minha mãe era bruxa e teve um impacto enorme nos caminhos que escolhi. Aprendi muito com ela e demorei anos a compreender certas coisas. A necromancia foi sempre um fascínio e é algo a que foi atribuído imensos nomes desde o seu surgimento. Há 13 temas por uma razão, mas não a considero uma superstição, era importante para nós.
M.I. – As capas dos álbuns dos Necrophagia são sempre baseadas no horror mas com um toque divertido. A deste álbum foi criada pelo artista Joel Robinson e tu estás no caixão com a Abigail por trás de ti. Como surgiu a ideia de retratar assim a banda?
As capas sempre foram importantes para nós e esta não é excepção. É pena o conceito da capa não ter a representação adequada, já que foi desenhada para ser uma capa lenticular que teria mostrado Necromancia quando se mexesse a capa de um lado para o outro ou de cima para baixo… ver-se-ia a minha pessoa morta deitada numa campa e os restantes membros fora da campa com um aspecto normal. Na cena seguinte poder-se-ia ver o meu corpo a ser reanimado através de um ritual de magia negra exectuado pela bruxa… ela a decompor-se e os membros da banda a conjurar as forças demoníacas para ajudarem no ritual. O Joel fez um trabalho espectacular ao recriar o conceito mas, ao último minuto, consideraram que era demasiado caro produzir aquele formato. Aind estou muito insatisfeito com ele. E não é a Abigail, é uma bruxa a praticar rituais. A Abigail restá com o resto do pessoal no cemitério.
M.I. – O Michael "Maggot" Schnieder dirigiu o vídeo para o tema título e o Killjoy escreveu o conceito do mesmo usando diferentes ângulos, perspectivas e técnicas. Era suposto ter sido lançado antes do álbum sair mas tal não aconteceu. Quando é que os fãs poderão vê-lo?
Eram esses os planos mas o nosso manager vai fazer uma angariação de fundos de modo a conseguirmos um orçamento decente para fazer um vídeo em condições. Vou ser eu a dirigi-lo e vai ser o vídeo do tema título. Esperamos conseguir lançá-lo lá para o Halloween deste ano.
M.I. – Como é que a banda lida com o facto do Mirai viver no Japão? Trocam material e ideias online ou encontram-se?
O Mirai é um convidado do álbum e fez cerca de 70% dos sintetizadores no mesmo. Ele já se reformou das tournées mas fará alguns concertos muito especiais connosco. Quando ele não estiver presente, não teremos sintetizadores.

Tavez agora as fãs de Necrophagia passem a ter o prazer de ver gajos bons a promover o material da banda em vez de só verem gajas boas. Para ser sincero, o género não teve importância nenhuma quando a Abigail se juntou, porque ela é uma excelente pessoa e tem um estilo muito único que encaixa perfeitamente na banda. Nada mudou e fazemos tudo da mesma maneira. A Abigail e o Scrimm complementam-se perfeitamente nos Necrophagia. A Abigail tem vindo a combater uns problemas nervosos nos pulsos e mão e tal impede-a de tocar durante longos períodos de tempo. Ela tem feito fisioterapia mas talvez venha a precisar de cirurgia… só o tempo o dirá!
M.I. – Já experimentaste actuar, dirigiste o filme “August Underground’s Mordum” tendo os Necrophagia feito parte da banda sonora e também planeaste lançar o Bloodsick Movie com Ryan Nicholson. Como correram essas experiências? Como é que o público reagiu? Tens vontade de as repetir?
Adoro trabalhar com o Fred e a equipa Toe Tag, pois são um grupo talentoso. O filme Bloodsick nunca aconteceu e nem sei se alguma vez verá a luz do dia. Quero dirigir filmes mas quero fazê-lo bem, com orçamentos decentes e produções adequadas. Quero mesmo concentrar-me nisso e tal acontecerá quando os Necrophagia pararem.
M.I. – Quando é que os fãs Portugueses terão o prazer de testemunhar a loucura dos Necrophagia ao vivo?
Estamos a fazer planos para tournée e temos os nossos promotores e agentes a tratar disso. Portugal tem de estar na nossa lista… definitivamente!
M.I. – Killjoy, muito obrigada pelo teu tempo e tudo de bom para os Necrophagia! Deixa uma mensagem aos fãs Portugueses e leitores da Metal Imperium!
Nós nunca mudaremos e nunca abandonaremos o caminho do horror e do gore. Apreciamos todos os anos de apoio. O Fulci vive! Gore Forever!
Entrevista por Sónia Fonseca