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Reportagem: Low Torque, Jackie D, Moe's Implosion, Stonerust @ RCA Club, Lisboa - 13/02/2015


Dia de festa no RCA Club, pois tratava-se, nada mais, nada menos, do que o lançamento do novo disco dos Low Torque, intitulado "Croatoan", cuja concepção está repleta de figuras mitológicas que foram, de certa forma, homenageadas com o bom stoner da banda de Palmela. Como os Low Torque não queriam fazer a festa sozinhos, convidaram ainda os metaleiros Stonerust e os rockers Moe´s Implosion e Jackie D, para além de outros convidados especiais, apostando assim numa agradável variedade.


Perante uma sala semi-cheia, os primeiros convidados foram os Stonerust que nos trouxeram o seu metal com influências de thrash e stoner. Apesar de aparecer em palco um pouco como surpresa, focada ainda em afinar os seus instrumentos, e depois de um pequeno contratempo com uma das guitarras, a banda segue com a sua actuação, às 22 horas em ponto, decidida a ultrapassar essa dificuldade inicial. E nada como ultrapassar isso, de forma irónica, ao som da trovejante "Something Meant To Be". Seguem-se umas merecidas palmas e, de imediato, um tema em português, desta feita "Sangue Seco". O vocalista Bruno Vale fixa a plateia e  transfigura-se num misto de raiva e exaltação, disparando os versos sanguinários da música, em todas as direcções, originando, no fim, a primeira grande ovação da noite. O mesmo aproveita a deixa para dizer que é uma honra estar ali, e agradece o convite dos Low Torque. Depois disso, a banda de Cascais prossegue com "Deep Emptiness", um tema mais rápido e com algumas pinceladas de stoner. Mais uma breve pausa para, desta vez, o Bruno Vale dedicar, a todos as bandas presentes, "From Yesterday Comes Pride", tema que serve de incentivo a todos aqueles que fazem da música a sua forma de vida, e que é composto por uma métrica veloz e, no final, um solo de guitarra diabólico. Como até então, o ambiente estava demasiado limpinho - segundo Bruno Vale - e com o objectivo de o tornar mais sujo, seguiu-se exactamente "Sujo", um tema lusófono mais melódico, que faz parte do próximo EP da banda, intitulado "Nothing Left Inside", a ser lançado no próximo mês de Março. Não havendo tempo para mais, e como não podia deixar de ser, a banda encerrou a sua actuação com o avassalador "Men & Pig", não sendo o vocalista, desta vez, o único a usar a famosa máscara de porco, já que a sua crew, composta por quatro elementos, também o fez, respeitando, a rigor, a época carnavalesca. A banda despediu-se debaixo de um enorme aplauso, fazendo esquecer o início meio conturbado, e acabou por deitar por terra qualquer superstição que se podia imaginar relativa à sexta-feira 13. Além disso, teve o mérito de aquecer uma sala despida, deixando os presentes empolgados para as próximas actuações. Por falar em empolgamento, esperamos ansiosamente pelo novo trabalho da banda que está prestes a sair.


Diante de uma atmosfera mais transcendente e de um palco onde não cabia mais nenhum instrumento, pedal de efeito e afim, qual nave espacial, estávamos agora prontos para uma hora ou, neste caso, meia hora de bom rock alternativo com os Moe's Implosion. A banda do Montijo trazia na bagagem o seu mais recente álbum "Savage", lançado no passado mês de Outubro, e foi com as suas primeiras músicas, nomeadamente "Savage" e "Fassbender", que deu início à sua coesa actuação. Após alguns aplausos e os devidos agradecimentos aos Low Torque pelo convite, aceitámos o pedido do vocalista João Sancho para chegarmos à frente e abanarmos o pescoço, pois estava na altura de embarcarmos numa viagem até ao álbum anterior, "Light Pollution", lançado em 2011, com a poderosa "Mastodonte" e "103 FM", que arrancaram finalmente uma grande e merecida ovação. Enquanto o vocalista se refazia do choque sonoro, deitado no chão entre gemidos psicadélicos, voltávamos ao último álbum com "The Storm", um tema inicialmente calmo, mas por pouco tempo. Antes de chegarmos ao fim com mais uma malha do "Light Pollution", intitulada "Doctor", houve tempo para agradecer às bandas e à organização. A banda despediu-se com um hilariante "Obrigado, pessoal" em delay, debaixo de uma enorme ovação, surpreendendo os mais distraídos com a sua sonoridade. Além disso, provaram a par dos Low Torque, e  com um novo álbum que mistura na perfeição ritmos dançantes e pesados, que também há boa música e boas bandas nos subúrbios.

Para terceira actuação da noite, tínhamos os Jackie D. com o seu punk rock alternativo cheio de garra. Com o intuito de divulgar o seu álbum de estreia, "Symphonies From The City", lançado no ano passado, a banda de Lisboa apresentou-se obviamente pelo nome, ou seja, com o tema "Jackie", avisando: "Here Comes Jackie"! O famigerado Rui Correia, também vocalista de Grankapo, pediu seguidamente para as pessoas dançarem um bocadinho ao som de "Middle Finger", primeiro tema do álbum. Sempre comunicativo, o possuído Rui Correia aka Fuck incentivava o público a correr para aquecer, desta vez ao som de "Nameless Solution", mas antes disso a oportunidade para agradecer a presença do público e pedir uma salva de palmas para os anfitriões Low Torque. Seguiu-se um tema novo, de seu nome "My Fantasy", acompanhado das poderosas "Leave Me Alone" e "Hello Death". A seguir, os Jackie D. interpretaram o seu 1º e 2º single, respectivamente o conhecido "Rat Race" e "This City", dedicado à cidade de Lisboa. Sempre com a fasquia alta, a banda aproveitou para agradecer aos outros conjuntos e pedir uma salva de palmas a todos, e findou a sua actuação com o mote Carpe Diem, fazendo os presentes sentirem a "Adrenaline", substância orgânica que parece imperar na banda, como se pode comprovar através dos seus temas, e ainda bem.


À medida que os motores ribombavam de fúria, todos se preparavam para receber a alta rotação dos Low Torque e do seu novo álbum "Croatoan". A banda iniciou o seu concerto, quando faltavam 10 minutos para a 1h, perante uma sala mais composta, com um solo de bateria que anunciava a primeira malha do novo álbum, ou seja, "Storm Hag". Sem dar tréguas àqueles que vibravam ao som do stoner, a actuação prosseguiu com dois temas do álbum anterior, lançado em 2012, sendo esses os velozes "Karmageddon" e "Moving Forward". Antes de voltarmos ao novo álbum, o vocalista Marco Resende aproveitou para agradecer a comparência do público e pediu um enorme aplauso para as restantes bandas. Seguiram-se "Bell Witch" e "Sasquatch", este o primeiro tema do novo álbum, que mereceram uma boa ovação por parte do público. Para primeiro convidado especial da noite, tínhamos James Thunder ou Tiago Simões dos sludgers Dollar Llama para participar no tema "I Versus Me", mas infelizmente o mesmo não estava presente, levando Marco Resende a tomar as rédeas desta malha. Mais um tema, neste caso o último do novo álbum, para pôr à prova os excelentes dotes vocais do Marco, desta feita "The Wendigo", antes de contarmos com mais um convidado especial, desta vez Gonçalo Kotowicz dos The Quartet of Woah! para o tema Vampires!. Enquanto o público marcava freneticamente o ritmo com as palmas, o dueto dava cartas e, no final, em sinal de  agradecimento, Marco pediu "uma salva de palmas para a banda deste senhor!". Do palco surgiu a questão sobre quem é que já tinha ouvido a próxima música e como começava, o qual foi respondido, por alguém no meio do público, com balidos. Exactamente, balidos. Isso significava que o próximo tema era "El Chupacabra", esse dizimador de rebanhos. De forma a dizimar os espectadores, a banda continuou com o tema que dá nome ao álbum, arrancando uma forte reacção do público, e agradeceu por isso. Continuámos com a arrebatadora Jersey Devil e mais um convidado conhecido no mundo da música como Tó Pica. O guitarrista de RAMP e Sacred Sin deu uma perninha, ou melhor, um braçinho no tema "Hating Haters" para gáudio dos presentes. Seguiu-se outro convidado, neste caso David Pais dos Ashes e One Hundred And Twenty, que colaborou no tema "Headstone", onde faltou a harmónica, mas não faltaram as palmas no final. A noite prosseguia a todo o gás com mais um tema novo, nomeadamente "Baron Samedi", que conta com um solo inicial de guitarra, capaz de ressucitar os mortos, ao bom jeito da lenda haitiana. Antes de passarmos a mais um tema, o cansaço da banda já era notório, mas tal como referiu Marco Resende, "rock é rock", aproveitando então essa curta pausa para pedir um forte aplauso a todas as bandas. O tema seguinte era "Stingy Jack", e para despedida, "Rougarou", ambos do último álbum, mas apesar da reacção apoteótica e do ar cansado, mas visivelmente emocionado dos membros da banda, o público queria mais uma malha, tendo sido feita a sua vontade. Depois de chamarem todos à frente, inclusive os convidados, os Low Torque acabaram como começaram, ou seja, com "Storm Hag", dobrando a apoteose da plateia. No geral, uma excelente actuação e presença destes palmelenses, que nos apresentaram um álbum para ficar cravado, com certeza, na memória colectiva do panorama musical português.


Texto por Bruno Porta Nova
Fotografias por Steven Sequeira
Agradecimentos: Low Torque