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Acrassicauda - "Gilgamesh" Review


Não é todos os dias que ficamos a conhecer uma banda de heavy metal oriunda do Iraque. Devido a isso e ao documentário “Heavy Metal in Baghdad”, os Acrassicauda tornaram-se algo famosos e ganharam inclusive um bilhete dourado para fazerem uma tour nos Estados Unidos, tudo isto às cavalitas de um bom EP de quatro músicas. A expectativa em torno do primeiro álbum a sério dos iraquianos era muita por estes dias, mas a verdade é que o álbum está longe de ser bom.

Embora a banda se mantenha agarrada às suas origens (Gilgamesh é o nome de um rei da Mesopotâmia, actual Iraque e Kuwait), a furiosidade e a capacidade de surpreender a cada música ficaram no primeiro trabalho dos iraquianos. O contacto com a realidade musical americana teve claramente influência na forma como este “Gilgamesh” foi construído, mas isto não justifica tudo. Os iraquianos continuam com riffs razoáveis, mantêm aquela vibe arábica e tentam misturar o thrash metal com elementos culturais específicos (à la Sepultura), mas há algo que não resulta no meio disto tudo. Tudo o que a banda faz de bom é sufocado pelo que mudou e está pior: as vozes estão horríveis, a aproximação a sonoridades mais próximas do nu metal e do metalcore não é feliz e não há nada que soe realmente honesto ao longo de 12 travessias pelo deserto.

É também certo que este álbum foi feito para vender o máximo possível. A canção “Requiem for a Reverie” parece saída de um álbum de Nickelback. Outras como “Elements” ou “Amongst Kings and Men” têm uma veia mais hardcore, que não era notória de todo na banda em “Only the Dead See the End of the War”. Há também alguns traços de Marilyn Manson e de outras bandas alternativas como Dope, Crossfade ou Otep, o que é uma péssima notícia para a sonoridade dos Acrassicauda. Por seu turno, temos aqui duas malhas que agigantam este álbum e que mostram que tudo isto pode não ter sido um erro de casting. “Quest for Eternity” é o melhor momento do disco. Sem ser propriamente rápida, esta é uma canção mexida, que nunca cai no aborrecimento, apesar do refrão melodramático, e que fazia antecipar um álbum mais interessante. “Unity” é uma canção engraçada, que possui um riff inicial esfusiante e algumas variações de acalmia e barulheira que resultam bem, ao contrário de quase tudo neste álbum.

“Gilgamesh” é uma grande desilusão para aqueles que acompanhavam e gostavam dos “Metallica do Iraque”. Com uma produção mais limpa, os Acrassicauda deixam a dúvida se a banda realmente pode oferecer alguma coisa de significativo à música (os elementos culturais não chegam e não resultam na sonoridade dos thrashers) ou se tudo não passou de fogo-de-vista. Há aqui uma vontade explícita de tornar os iraquianos nos novos Sepultura, algo que parece uma miragem do deserto tal é a diferença de talento e inspiração musical. Como única banda realmente importante do Iraque, os Acrassicauda deverão mostrar nos próximos anos se é realmente possível fazer-se bom heavy metal numa parte do globo tão massacrada e que raramente tem coisas boas para oferecer.

Nota: 3.3/10

Review por Pedro Bento