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Reportagem: Hell Of A Weekend @ Cine Teatro de Corroios - 5 e 6 de Maio


Um fim de semana dos diabos foi realmente aquilo que o Hell of a Weekend proporcionou a todos aqueles que se deslocaram ao Cine Teatro do Ginásio Clube de Corroios para contemplarem grandes bandas como Madball, Ignite, Onslaught ou Destruction, não esquecendo outras tantas que enriqueceram um cartaz de dois dias como H2O, Crowbar, Besta ou Grankapo.

Num primeiro dia dedicado ao punk e ao hardcore, as festividades começaram com o hardcore dos Just, uma banda proveniente da vizinha Corunha. Embora com pouca afluência, os Just não se fizeram rogados e deram a conhecer a sua potente sonoridade - sonoridade que pisca o olho ao deathcore - com temas como "Don´t Forget". Com uma atitude em palco muito bem-vinda ao nosso país, a banda espanhola despediu-se com o tema "Welcome" e fez da sua atuação uma ótima surpresa.

Já com um espaço mais preenchido, os Artigo 21 subiram ao palco e foram capazes de oferecer mais uma dose de punk rock à boa maneira lusitana. Temas como "Ser Capaz" ou "Utopia" fizeram parte de uma atuação bem descontraída, para gáudio dos fãs do género praticado por este filhos prodigiosos do punk rock nacional.

Do outro lado do continente proveio a segunda banda estrangeira da tarde, desta feita os croatas Katran. Pela primeira vez em Portugal, este quarteto prontificou-se a extrair das suas mais breadas entranhas o mais pesado hardcore, já bastante instituído pelos Balcãs e arredores. Malhas como a mediática "Consumer" ou "In Control" constituíram uma agradável estreia, deixando boas indicações perante o público português.

Família do hardcore reunida para mais uma atuação arrebatadora dos Grankapo que, mesmo em Corroios, estavam a tocar em casa. A dança fez-se com as já conhecidas "Feel My Hate", "We'll Never Die", a mais recente "Won´t Fall Down", entre outras, onde o contributo enérgico dos seguidores revelou-se fundamental para um desempenho coeso da banda lisboeta. E como é da praxe, terminámos a viva voz com: Grankapo!

Casa cheia e ao rubro para receber a primeira banda de culto da noite. Os H20 subiram ao palco para uma hora do melhor hardcore que se faz em Nova Iorque. Mais rápidos que tudo, o quinteto desdobrou-se em vários temas conhecidos como "Faster Than The World", "Guilty by Association", que contou obviamente com a ajuda de Freddy Cricien dos Madball, ou "Nothing to Prove". Perante um público notoriamente em êxtase e com 20 anos de história, os H20 não têm de facto mais nada para provar.

Não pertencente à brigada nova-iorquina, mas também com muitos anos de vida e muito hardcore, seguiram-se os Ignite para continuarem na mesma toada de circle-pits e stage-dives, muito devido a clássicos como "Embrace" ou a temas mais recentes como "This Is A War", dedicado ao atual presidente dos EUA, ou "My Judgement Day". Houve ainda tempo para algumas versões, a saber "Screaming For Change", dos conterrâneos Uniform Choice, e "Sunday Bloody Sunday" dos U2, que não fez felizmente ninguém sangrar, mas que fez certamente toda a gente suar. Um concerto onde a qualidade foi gritante, provando também que podemos continuar a contar com os Ignite para gritos de mudança.

Nada como acabar a noite com mais um regresso bastante aguardado dos Madball, banda estandarte, entre outras, do estilo nova iorquino, cujo som mais agressivo é sinal de uma atuação de loucos, repleta de circle-pits e stage-dives. E por falar em estilo nova-iorquino, tivemos como exemplo "DNA", "It's My Life", versão dos Agnostic Front, "Nuestra Familia" ou ainda "Pride (Times Are Changing)", que contou com a participação de Poli Correia, vocalista dos Devil In Me, entre outros projetos. No geral, estivemos perante mais um excelente concerto onde imperou o sentimento de irmandade, garantindo, acima de tudo, que o hardcore continua vivo e bem vivo. 

Num segundo dia mais dedicado ao metal, fazia sentido começar com uma banda de metal. Curiosamente, a banda escolhida começou também a dar recentemente os seus primeiros passos e até já conta com um álbum, lançado em março, intitulado "The Event Horizon". A banda em questão são os Steelfall que nos trazem um metalcore melódico bastante potente, cujo destaque vai para o tema "The Fall Of Man", que prova que estamos perante uma sonoridade fresca. Veremos mais atentamente que novos horizontes têm os Steelfall para nos mostrar.

Desviámo-nos um pouco do percurso do metal e prosseguimos por trilhos mais desérticos com os Son Of Cain. Mais uma vez, entregámo-nos com todo o gosto a uma espiral de heavy rock e deixámo-nos levar ao som de temas já bastantes conhecidos como "Old Man" ou "Hit The Road", temas esses que já revelam muito da identidade excecional deste projeto.

Ainda na senda do rock e da luz, contámos com o projeto dos irmãos Correia, cujas influências de rock progressivo e stoner rock deram origem a algo único e visceral, traduzindo-se em temas como "Ghost Love" ou "Down By The Lake", tema orelhudo que resulta tremendamente ao vivo. Estando este ato consumado, aguardamos ansiosamente pelo segundo ato.

De volta ao metal, tivemos em palco os Destroyers Of All que nos apresentaram um bom punhado de fragmentos sonoros que se alojaram nos nossos ouvidos com toda a força. Desde "From Ashes Reborn" até "Hate Through Violence", malhas retiradas do seu último trabalho, à exceção de “Into The Fire”, a destruição foi levada a cabo com mestria. Coimbra tem certamente mais encanto com os Destroyers Of All.

Foi com prazer que assistimos a mais um ritual da Besta e que nos deixámos exorcizar por estes filhos do grind que proporcionaram mais um recital de peso ao som de "Portugal Em Chamas", "O Fedor Da Tua Mente" ou "Planeta Terra Cancerígeno", temas que apelam sempre ao lado negro e nefasto do ser humano. Já nós apelamos pelo novo e breve capítulo da Besta. 

O punk também foi bem representado na segunda noite, através dos veteranos Anti-Nowhere League, cujo desempenho transportou o público para remotas paragens mais britânicas cheias de caos, fumo e vícios. A Liga fez-se ouvir com os hinos "I Hate People", "Pig Iron", "Streets of London", "Fucked Up & Wasted", entre outros, e garantiu principalmente uma atuação que quebrou as barreiras do tempo, onde a liderança de Animal ou Nick Culmer revela-se fundamental para além de ser agradavelmente obscena. So What?!

De regresso a Corroios e três álbuns depois, os Crowbar apresentaram-se no Hell of a Weekend na máxima força com o intuito de promoverem mais um trabalho seu, desta feita "The Serpent Only Lies", lançado no final do ano passado, e de onde pudemos ouvir por exemplo a potente "Plasmic and Pure". Mas outras se seguiram como "High Rate Extinction", de modo a perfilarem mais um excelente desempenho de umas das melhores e mais duradouras bandas do universo sludge. E verdade seja dita, estão mais pesados do que nunca! 

Os Destruction foram os últimos a serem adicionados ao cartaz, o que acabou por ser uma escolha acertada, pois a banda alemã fez jus ao seu nome e limitou-se a destruir pescoços ao som do thrash da velha guarda. O ataque cerrado começou com, claro está, "Under Attack" e nunca mais abrandou o ritmo. Com tantos anos de devastação, é óbvio que tivemos de embarcar numa viagem no tempo não muito longínquo com "The Butcher Strikes Back" ou "Nailed to the Cross" que deixou toda a gente de ouvidos bem pregados à sonoridade deste power trio. Mas mais longe fomos quando a banda se despediu com "Bestial Invasion", perfazendo mais uma atuação infernal.

Tudo a postos para uma última investida por parte dos Onslaught, que depois de terem visitado o nosso país em 2015, regressaram para mais de uma hora de violência sonora. Desta vez, estávamos perante um alinhamento especial, já que se tratava da comemoração dos 35 anos do segundo álbum da banda, "The Force". Sendo assim, numa primeira parte do concerto, pudemos escutar e vibrar com o álbum tocado na íntegra, onde temas como "Let There Be Death" ou "Thrash Till the Death" fustigaram os corpos já massacrados dos fãs. O massacre não ficou por aqui, uma vez que os britânicos continuaram a disparar o seu thrash ao som dos também conhecidos "66 Fucking 6" ou "Onslaught (Power from Hell)", havendo ainda tempo para um encore com o tema "Angels of Death", um tema certamente mais velho que alguns fãs presentes no Cine Teatro do Ginásio Clube de Corroios, que não deixaram de ovacionar merecidamente uma das bandas mais carismáticas do thrash metal europeu. 

Texto por Bruno Porta Nova
Agradecimentos: HellXis