Depois de lançar um álbum quase universalmente adorado como "Hunted", os Khemmis tinham pela frente a difícil tarefa de produzir um sucessor digno de se sentar à mesma mesa da sua segunda obra. "Desolation" é o terceiro álbum da banda desde 2015, evidenciando a capacidade criativa deste quarteto, cujo som tem evoluído em cada projeto lançado de maneira consistente, introduzindo cada vez mais melodia e influências claras de Heavy Metal dos anos 80 ao seu Doom original. A combinação resultante é um som interessante e que entretém o ouvinte, alternando entre passagens melódicas e refrões grandiosos, para riffs esmagadores acompanhados por vocais guturais, que marcam presença em diversos momentos do álbum.
"Desolation" começa com a faixa "Bloodletting" a dar-nos uma introdução semelhante à do álbum anterior, um riff característico de Doom Metal apoiado por uma melodia de guitarra, uma antevisão da combinação de elementos mencionada anteriormente. O vocalista Phil Pendergast entra a demonstrar a sua evolução atrás do microfone: ora acompanhando a guitarra em refrões dramáticos, ora avançando de forma mais contida pela narrativa da letra, sem perder a intensidade e emoção. Na segunda metade da música, o ouvinte é surpreendido numa mudança abrupta de tom. As melodias à 80’s são interrompidas por um riff espetacular que culmina num exímio solo de guitarra prolongando-se quase até ao final da faixa, sendo rematado pelos vocais de Ben Hutcherson desta vez, quase que a rugir, exibindo o seu estilo vocal mais agressivo.
Quase imediatamente somos levados para a próxima música, "Isolation", cujo riff de introdução galopante parece algo saído dos Iron Maiden no seu auge, prometendo ficar no nosso ouvido durante uns tempos. O mesmo pode ser dito do refrão, um dos momentos mais catchy do álbum, justificando a escolha desta faixa como single. "Desolation" é memorável neste sentido, ao longo do álbum podem ser encontradas várias instâncias que agarram a nossa atenção, demonstrando a habilidade dos Khemmis de criar estes momentos cativantes, não comprometendo, no entanto, a coerência do álbum como um todo.
Enquanto avançamos por este projeto, a banda raramente baixa a intensidade, proporcionando momentos atrás de momentos que deixam o ouvinte sempre na expectativa, sem saber o que esperar. "Flesh to Nothing" é uma faixa muito mais sombria do que as duas primeiras, evidenciando as raízes Doom Metal do quarteto, que se sentem muito também nas faixas seguintes, com destaque para o final da faixa "Maw of Time", exibindo vocais guturais que dão lugar a um momento protagonizado pela bateria num martelar constante.
A encerrar o álbum, "From Ruin" é a música com maior duração, permitindo à banda acrescentar ideias ainda não exploradas. Aqui o ouvinte testemunha alguns dos momentos mais melancólicos, sombrios e dramáticos de "Desolation", como uma curta secção liderada por Phil e guitarras sem distorção que permite ao ouvinte um minuto de descanso, antes de ser levado para zonas mais pesadas. Os paralelos entre esta faixa e a faixa de conclusão do álbum anterior são fáceis de detetar, embora numa comparação direta esta fique aquém de "Hunted", que conta com um clímax mais satisfatório e memorável.
"Desolation" é um álbum fortíssimo, com uma escassez de fraquezas a apontar. Tem o infortúnio de ter sido lançado após um projeto da qualidade de "Hunted", o que pode ter deixado alguns com expectativas impossíveis de satisfazer, mas esta obra tem qualidade mais do que suficiente para entrar na corrida para um dos álbums de Heavy Metal do ano. Não obstante o afastamento dos Khemmis das suas raízes mais pesadas, este lançamento demonstra um bom equilíbrio entre as ideias velhas e novas influências, resultando num produto que fala por si.
Review por João Castro