O tema-título instrumental abre este novo disco dos Sleep, tendo por base apenas a distorção e o feedback, seguida de uma mudança de ambiente que termina abruptamente antes de entrarmos em “Marijuanaut’s Theme”, com o peso todo da banda a funcionar como propulsor para a voz de Al Cisneros, a recordar a sua actuação no único álbum dos Shrinebuilder, devido à forma como corta por toda a parede sonora. Por sua vez, Matt Pike contribui com comentários na guitarra pontualmente.
Em “The Sciences” temos a estreia de Jason Roeder dos Neurosis na bateria, novo elemento que se encaixa perfeitamente no som do trio, contribuindo para apontamentos e ornamentos ao som de um disco que não poupa no peso, mas que se consegue manter interessante a cada audição.
Com efeito, os três músicos parecem estar em perfeita sintonia ao longo dos vários temas, como é notável em “Sonic Titan”, o primeiro tema a exceder os dez minutos de duração, que se baseia essencialmente na secção instrumental, em detrimento do recurso à voz (só entra aos seis minutos, precisamente a meio). E aqui os riffs de guitarra assumem o papel central, mais uma vez, sempre com os outros instrumentos a servirem quer em apoio, quer como complemento, inclusive a guitarra no papel de solista (em “Giza Butler”, por exemplo, temos um solo que recorda o som da guitarra de Josh Homme dos Queens of the Stone Age).
E a duração dos temas não é algo que prejudique a audição dos mesmos, sendo que o tempo passa sem aborrecimentos, alíás, a música “absorve” o ouvinte e o encaminha pelas suas diferentes variações. “Antarticans Thawed” é um bom exemplo, em que o feedback do baixo, a marcha da bateria e o crescendo de distorção da guitarra se vão desenvolvendo lentamente, lembrando os Earth, pelo que quando entra a voz a transe sonora já se instalou.
“The Botanist”, o tema instrumental que encerra o disco, envereda por sons que recordam Tool (nas ambiências) ou Mastodon (nos solos de guitarra), o que faz deste tema um dos pontos altos do disco e deixa vontade de ouvir de novo como um todo.
Este é o primeiro LP dos Sleep desde que foi editada a versão definitiva de “Dopesmoker” em 2003 e demonstra que o som desta banda veterana ainda pode evoluir, dado que cada um dos seus membros demonstra uma vontade de ir mais além do peso e repetição do doom ou stoner metal (atente-se na introdução de baixo, sem distorção, de “Giza Butler”, por exemplo).
Nota: 8/10
Review por Raul Avelar