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Reportagem: Brujeria, Simbiose e Systemik Violence, RCA Lisboa 9 Dezembro 2018


Dezembro é sinónimo de Natal mas também acaba por ser uma época onde as promotoras costumam apostar em nomes sonantes para aproveitar o fenómeno “subsídio de Natal” e encerrar o ano em beleza. Ciente disso, a Hell Xis trouxe a Portugal os Brujeria, um dos grupos de culto do underground internacional e sempre presentes na lista de pedidos ao Pai Natal para ver ao vivo, e que andam pela Europa com suporte dos Ratos de Porão. Para a data de 9 de Dezembro, contudo, o RCA receberia apenas a banda norte-americana, com suporte dos portugueses Systemik Viølence e Simbiose.

A noite iniciou-se algo fria, com a plateia a reagir com pouco empenho aos anarko-punks lisboetas Systemik Viølence, pese embora o trabalho incansável de Iggy Musashi, que de microfone em punho (e até saltando para junto do público) tentava cativar os ainda poucos presentes a juntar-se à festa punk contestatário. Ao intro de “Schizophrenia” dos Sepultura, arrancou a festa com “Vulture Culture” e só terminou 45 minutos depois com um apoteótico “Anarquia-Violência”. Pelo caminho, destaque para “At War With The Scene” ou “Pussy Metal”, que foi aquecendo os poucos que se juntaram perto do palco.

Um pano gigante ao fundo do palco anunciava que era altura de ver os Simbiose, a banda estandarte do movimento crust português, mas foi um pano colocado no lado direito do palco que aqueceu os nossos corações. Com uma foto de Sérgio Curto, a banda lisboeta prestava homenagem ao seu membro recentemente falecido, com a mensagem “Bifes Not Dead” em grandes caracteres. Era também altura de aferir da eficácia de João Lavagantes na guitarra baixo, nesta sua primeira prova de fogo no lugar que era do seu grande amigo. João encaixou na perfeição na banda de Jonhie, numa setlist que apesar de curta para uma banda com mais de duas décadas de história, foi bastante representativa dos sucessos da banda. Destaque para “Ignorância Colectiva”, dedicada aos Ratos de Porão e a um seu fã brasileiro presente na sala apesar de esta ser a única data da tour conjunta em que a banda de João Gordo não actuava (na mesma noite estavam em palco em Córdoba), e “Será Que Há Vida Após A Morte”, dedicada ao Bifes, e que arrancou aplausos a uma plateia que pareceu estar a guardar energias para o cabeça de cartaz. Johnie apelou à adesão do público desde o primeiro segundo, algumas vezes arrancando um tímido mosh pit no centro da sala, especialmente em “Acabou A Crise, Começou A Miséria”, e cerca de 40 minutos depois do seu início, a banda agradeceu aos presentes e deixou o palco.

Os Brujeria não encaixam propriamente no epíteto de superbanda, mas quando temos diante de nós Shane Embury (baixista dos míticos Napalm Death) ou uma baterista com o calibre de Nick Barker, dificilmente podemos pensar que se trata de uma “banda qualquer”. Sempre de cara tapada com bandanas de diversas formas e cores, o quinteto entrou em palco perante enormes aplausos de uma plateia que quase enchia a sala de Alvalade. Passavam 15 minutos das 22 horas quando Juan Brujo e El Sangron abriram as hostilidades com “Cuiden A Los Niños” e a plateia reagiu rapidamente, com a tal energia que tinha sido guardada nas performances anteriores. O duo de anfitriões foi fazendo a festa em cima do palco e incentivando a que a mesma transpusesse barreiras e continuasse plateia adentro.

A banda tem uma mensagem claramente politizada contra a política conservadora norte-americana e um apelo à exaltação e sublevação da comunidade hispânica em geral, e mexicana em particular, distribuída com o peso do death-grind de primeira água, misturado com muito humor e divertimento. Uma forma leve de levar ao seu moinho uma “água” tóxica repleta de problemas socioeconómicos e dramas pessoais.

Destacar alguns temas numa performance que valeu muito pelo seu todo é tarefa ingrata, mas “Colas de Rata” e o ativismo latente em “Trump” foram claramente ases num baralho cheio de cartas altas, distribuídas com enorme precisão por uma banda que gosta, e apoia, o caos em cima de palco. Algum público não se fez rogado e visitou inúmeras vezes o palco, chegando até a tirar selfies com os músicos (!!!).

“Anticastro” mostrou que nem só os EUA são alvo de críticas, terminando a data de Lisboa com “Consejos Narcos, “No Aceptan Imitaciones” e “Matando Guëros”, esta última entoada a plenos pulmões pela sala.

Findo o concerto, e enquanto a equipa de produção desmontava o equipamento, a dupla de vocalistas entoava “Marijuana” em versão karaoke, para gáudio de um público suado e satisfeito.
Venham de lá essas rabanadas!

Por: Vasco Rodrigues - 29 Dezembro 18