About Me

Schammasch - "Hearts of No Light" Review


Fiquei menos assustado ao perceber que não teria de enfrentar mais um triplo álbum dos Schammasch. Este “Hearts of no Light” marca 67 minutos nos quais estão incluídas algumas peças ambientais que, juntas, deverão perfazer cerca de 18 minutos, na forma de “A Brigde Ablaze” e “Innermost, Lowermost Abyss” e não afetam a fluidez do seu material mais “ortodoxo” em que reproduzem o seu característico black metal.

O que distingue este projeto de tantos outros, para além do experimentalismo sem restrições, de que iremos tratar mais à frente, é a forma como empregam técnicas reminiscentes a Deathspell Omega, Blut Aus Nord e Triptykon, reproduzindo ambiências idênticas, e o fazem mantendo-se acessíveis e até melódicos. Talvez soe estranho. Tomemos por exemplo a faixa “Ego Sum Omega”, com várias pistas de guitarra sobrepostas, várias camadas de profundidade, mas que, com algumas linhas melódicas e trabalho vocal versátil, mantem a coesão e guia o ouvinte, com curiosidade, até ao culminar grandioso, reforçado com alguns samples para grande efeito, provocando assim impacto profundo e deixando marcas. “Hearts of no Light” cativa à primeira audição, mas alerta de seguida que um maior investimento e comprometimento serão necessários para desvendar todos os seus segredos.

Seria injusto tratar as peças que compõe este trabalho de forma diferente visto que todas têm algo de particular para oferecer, cada uma tem princípio, meio e fim e é passível de ser apreciada de forma isolada. “Ego Sum Omega” entendo como sendo o recorte mais típico de black metal presente no álbum, com inúmeros apontamentos melódicos, riffs a abusar do tremolo e final assombroso - mas quem conhece este agora quinteto imagina certamente que, uma faixa típica deles não se fica por algo linear e previsível. A inclusão de diversas ideias é evidente, ainda mais, a partir de “Rays Like Razors”, com uma progressão final maquinal, decadente, invocativa de uns Blut Aus Nord. A minha favorita, “I Burn Within”, interrompe uma sequência de melodias melancólicas com um curto segmento de piano e voz cantada de inspiração oitocentista, à là Porta Nigra, com contributo de Aldrahn (Dodheimsgard/Thorns), que, quando termina, parece intensificar a modulação pós-rock que segue e progride para novo ataque de black metal. “A Paradigm of Beauty” é uma história à parte, nesta faixa os Schammasch quebram todas as correntes e mergulham numa combinação de pós-rock/metal de uns Cult of Luna e post-punk de The Cult, envoltos pelo mesmo manto de obscuridade que cobre as restantes composições, e fazem-no com naturalidade e convicção, incluindo solos, refrão catchy e não, não estou a brincar – é dos melhores momentos do álbum. Importante também mencionar que segmentos de piano são contributo da pianista clássica convidada, Lillian Liu.

 “Hearts of no Light” é mais um trabalho audaz e exigente dos Schammasch. É também o mais fluido da sua impecável discografia. Penso que será um ótimo ponto de partida para quem ainda não teve contacto com a banda, ideal para quem procura a atmosfera filosófica de uns DsO mas com menos caos e maior acessibilidade e progressismo.

Nota: 9.3/10

Review por David Sá Silva