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Slipknot - “We Are Not Your Kind” Review


“The Time of the Nine Has Begun”. Podemos refletir sobre a importância, o peso e a forma como os Slipknot têm vindo a tornar-se cada vez mais uma banda de renome, continuando a encher estádios/arenas e a fazer tours mundiais. Ao longo do percurso da banda, os membros já experienciaram algumas situações infelizes, como a morte de Paul Gray (antigo baixista e um dos membros iniciais), o conflito com Joey Jordison (antigo baterista) e a saída inesperada de Chris Fehn. Contudo, os Slipknot reconstruiram-se, recrutando três novos músicos, um deles sendo conhecido como Tortilla Man, cuja identidade ainda se mantém anónima. Estes novos membros trouxeram uma nova visão para a banda e, apesar de todos partilharem o mesmo estilo em comum dos Slipknot, podemos sentir que desta vez a banda renasceu para modificar tudo e dar ao mundo a mensagem “Nós somos os Slipknot e não vamos embora tão cedo mas, quando formos, vocês irão lembrar-se de nós”. Na verdade, o álbum está realmente muito diferente do que é considerado talvez o estilo habitual. Temos nele todos os momentos e camadas de Slipknot que os fãs apreciam, mas também temos novas coisas que foram incorporadas, tendo elevado a banda a outro nível.

“Insert Coin” é a faixa de abertura do álbum. Um nome bastante interessante, que com certeza nos remete para a típica expressão de “inserir a moeda”. Será este álbum o começo de um jogo? Uma aventura talvez? Esta faixa é um instrumental que por si só já reflete o trabalho excelente do sampler Craig e do DJ residente Sid Wilson, a meu ver, um dos mais carismáticos membros da banda. Esta música está diretamente conectada com a “Unsainted”, que é o primeiro single deste álbum, partilhando também alguns temas melódicos com a “Solway Firth”. “Unsainted” foi o single escolhido pela banda para promover este álbum, embora possamos considerar que é a faixa mais simples. Apesar de ser guiada pelo riff e pela melodia principal, o seu refrão é como se fosse um bolo de chocolate - impossível de resistir. Aborda o tema da religião e amor próprio, o que é bastante curioso, pois Corey Taylor consegue sempre transmitir (e muito bem) as suas mensagens. “Birth of the Cruel” é a terceira faixa do álbum e mantém os tópicos anteriormente mencionados. É, sem dúvida, mais pesada que as anteriores. 

“Death Because of Death” é um instrumental que serve para fazer apenas a passagem de uma faixa para a outra, um pequeno interlúdio. Segue-se depois uma das faixas mais interessantes do álbum, “Nero Forte”, que se destaca não só por ser um dos temas mais sólidos a nível de performance e letra, mas também pela forma como Corey escreveu o breakdown (liricamente falando):

(Why) Why was it easy for you?
(Did) Did I deserve the abuse?
(I) I can't believe I let it
(Not) Not what I wanted
(See) See through your bullshit
(Your) You're so dramatic
(True) True to your form of
(Face) Every consequence
(Un-) Unintimidated
(-til) 'Til the very end
(It) It'll never happen
(Was) Was it all a lie?
(Too) Many motherfuckin'
(Late) That's what you do best
(Lie) That's what you do best
(Lie) That's what you do best
That's what you do best

Num toque subtil, mas de génio, foram acrescentadas palavras antes de cada verso que, quando lidas de forma conjunta, obtemos “Why did I not see your true face untill it was too late”. Todas essas palavras individuais são gritadas pelo Tortilla Man e Shawn Crahan, enquanto Corey diz o verso após cada palavra berrada. No fim, temos duas vezes os berros novamente de Shawn e Tortilla Man - “Lie” - e Corey com “That’s what you do best”, complementando assim a música e a sua mensagem. A genialidade deste vocalista é surpreendente. “Critical Darling” poderia facilmente ter sido também outro single, mas os Slipknot decidiram deixar esta pequena surpresa escondida. Shawn Crahan disse, numa entrevista recente, que esta música seria a próxima “Wait and Bleed” e que iria angariar novos fãs para a banda. Podemos considerar este tema um híbrido entre os Slipknot de antes e os Slipknot de agora. 

“A Liar’s Funeral” é talvez a faixa que mais se destaca, tendo uma melodia fantástica, quase deixando o ouvinte num estado de transe. Apesar da faixa transbordar tristeza e profunda dor, Corey consegue dar-nos aquela sensação como se de facto houvesse sofrimento ali. Esta música é um tesouro e os Slipknot conseguiram, mais uma vez, transmitir tudo o que queriam. Destaco ainda o excelente trabalho de Mick Thompson (guitarra) e de James Root (guitarra solo) entre o riff principal e os solos que acompanham a música. “Red Flag” representa o habitual de Slipknot e “What’s Next” é mais um interlúdio com a temática do álbum. “Spiders” apresenta um tipo de som que a banda nunca fez, algo diferente, mas inesperadamente bom. Tem um toque especial que só ouvindo é que se consegue entender. É de referir também o solo de guitarra do James Root, que é simplesmente melódico e curto (embora pareça que não tenha uma estrutura “organizada”). Já a aproximarmo-nos da reta final, temos a “Orphan”, um comboio a 200 km/h que nos atropela, mais um clássico. Segundo Corey, o tema fala de quando ele andava pelas ruas dos EUA numa das piores fases da vida dele. “My Pain” mantém este tema e começa a mudar a atmosfera do álbum. “Not Long for This World” apresenta uma sonoridade mais próxima de uma balada, com os seus momentos rasgados e fortes, colocando-nos num ambiente mais obscuro. 

Por fim, o segundo single oficial e última faixa – “Solway Firth” – uma música poderosa, onde podemos ouvir os detalhes de cada músico. Devo realçar o trabalho do baterista Jay Weinberg, que conseguiu captar toda a essência dos Slipknot ao longo de todo o álbum. A título de curiosidade, “Solway Firth” foi escolhida como faixa oficial da série The Boys. 

Este álbum veio modificar os Slipknot, não necessariamente de forma negativa. A banda prova que o poder de sempre continua com eles, mas desta vez com uma nova faceta.

Nota: 9/10

Review por Bruno Madail