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Reportagem: The Aristocrats @ Lisboa ao Vivo, Lisboa - 07/02/2020


No passado dia 7 de fevereiro, o Lisboa ao Vivo foi palco para o trio eclético The Aristocrats. Após o sucesso da sua primeira visita em solo nacional, os Aristocrats encontravam-se a apresentar os temas da sua mais recente obra, “You Know What…?”.

Ainda que esta não seja uma banda que pretende mover massas, o LAV encontrava-se com uma plateia bem composta, desde metalheads, a rockeiros, apaixonados do jazz, entre outros. Era uma noite que abrangia os mais diversos gostos musicais. O concerto estava planeado começar às 21.30, mas ainda não havia sinais da banda, apenas os murmúrios e a especulação que já se fazia notar entre os membros da audiência, interrompidos brevemente por um pedido para não utilizar os telemóveis durante o espetáculo, um fator que contribuiu para criar esta atmosfera mais íntima e pessoal entre a banda e os fãs, e que se fez notar mais tarde.

Às 21.45, a banda entrou em palco ao som de “Mule Train”, de Frankie Laine, pronta para o espetáculo. A música escolhida para dar início à setlist foi a frenética “Blues Fuckers”,  onde já se notavam algumas cabeças mais teimosas que tentavam acompanhar o ritmo da música, o que depressa se revelou uma árdua tarefa, enquanto Marco Minnemann guiava a banda por compassos e transições que fogem ao formato típico do jazz, como revela o título.
Terminada a primeira música, a banda era agora recebida por enormes aplausos e sorrisos, manifesto de um público entusiasmado e com razão… Quando vamos a um concerto esperamos sempre por uma boa atuação da banda, talvez algum espetáculo de luzes e, quem sabe, alguns adereços. Mas há certas bandas que nos presenteiam com algo mais… Nem sempre é fácil conseguir ter uma boa interação com o público, principalmente quando existem 2 horas e meia de concerto pela frente. Ao longo da noite, o baixista Bryan Beller fez a maior parte do diálogo, com cada membro a introduzir a faixa que escreveu, cativando a audiência com as histórias engraçadas por detrás de cada uma, fazendo todos rir e sentir-se em casa ou até como num café à conversa com 3 amigos (e talvez mais umas centenas de pessoas, a avaliar pelo tamanho da audiência). 
De maneira semelhante ao sentimento geral que se fazia sentir no LAV, também os críticos de música adoram os Aristocrats. No entanto, houve uma crítica negativa que sobressaiu e que os inspirou a escrever a próxima música, explica Bryan Beller. “D-Grade Fuck Movie Jam”é uma faixa que deixaria Jimmy Hendrix orgulhoso e acrescentemos-lhe ainda mais uns quantos toques de cowbell para tornar a faixa ainda melhor, porque… porque não? Segue-se “Spanish Eddie”, com uma melodia complexa e harmoniosa na guitarra de Guthrie Govan, numa faixa que é tanto divertida como versátil, misturando os géneros distintos flamenco e heavy metal numa única secção. Ainda pertencente à última obra “You Know What…?”, a próxima faixa “When We All Come Together” é a mistura inesperada, que não sabíamos que precisávamos, entre a música country e jazz, evolvendo o recinto num espírito festivo, que pedia o bater do pé e os copos no ar.

O concerto ainda não estava a meio e já se soltavam gargalhadas entre a audiência, respondidas pelos sorrisos abertos dos três músicos, exímios na sua arte, que se estavam claramente a divertir tanto quanto a audiência, fazendo aquilo que sabem fazer… música sem igual! Por falar em talento, “The Ballad Of Bonye And Clyde” era o próximo tema na lista e apesar de não ser uma faixa que exige particular velocidade ou destreza, as batidas em compassos mais regulares, o som misterioso da guitarra de Guthrie e as linhas de baixo matreiras de Bryan, criavam um ambiente que se podia esperar para o título da faixa, um som esquivo e genial. De volta às obras mais antigas, temos “Get It Like That”, que teve um dos momentos mais memoráveis da noite, tendo sido o tema dedicado ao grande mestre Neil Peart. Ao longo da faixa, Guthrie e Bryan sentaram-se nas cadeiras que lhes tinham sido colocadas e deram espaço a Minnemann para fazer a sua magia. Foi um solo de bateria hipnotizante e espantoso, é difícil colocar em palavras o quão impressionante Marco é por detrás do kit. Um polvo, dado que soubesse tocar bateria, não fazia melhor. A faixa ainda teve direito a um pequeno trecho da icónica “Tom Sayer”, que foi de arrepiar, tenho a dizer. Tal como referi, ainda que a plateia fosse bastante diversa no que toca aos gostos musicais, eram poucas as pessoas que não conheciam os Rush, oferencendo a Marco uma grande salva de palmas de sorriso na cara. Para quem já foi ao LAV, é possível que tenha reparado no decibelímetro que lá está presente. Sem querer levar a erro, penso que os valores mais altos que atingiu foi precisamente durante o solo e com os aplausos dos fãs.  Ainda antes de passar à próxima faixa, os fãs tiveram direito a um dueto de… esta nãoadivinham… uma galinha e um porco de borracha! Exatamente! Algo que ninguém estava à espera.
Mudando de tema, Guthrie divaga agora sobre algo que o deixa mais triste… “Last orders”, um conceito famoso no Reino Unido. São os últimos pedidos para quem ainda quiser algo do bar, que fecham perto das 23 horas. Claro que toda esta conversa pede uma cerveja! E, de Sagres na mão, a banda brinda com a audiência para dar entrada em “Last Orders”. Uma faixa fenomenal, destacando-se o som do baixo de Bryan que, por si só, criava o ambiente perfeito para nos perdermos na música e fecharmos os olhos em maravilha!

De volta à realidade… a setlist continua com “Kentucky Meat Shower”, este nome soa-vos familiar? A banda não deixou escapar nenhum pormenor e nada melhor que pegar num livro ilustrado para explicar à audiência de que se trata a música, proporcionando mais um entre os muitos momentos hilariantes da noite. “Desert Tornado” era a próxima faixa da autoria de Bryan Beller, retratando a sua fuga de um tornado. Se por um lado a bateria complexa e caótica retrata bem toda a turbulência e estragos causados pelo tornado, a guitarra e o baixo, com as suas melodias mais simples, que se complementam, pintam bem a paisagem oposta para onde Beller se dirigia, resultando numa faixa com notórias influências de metal, onde se podia soltar o headbanger presente. Em contraste, a faixa que se segue, “Flatlands” é uma balada incrível, que permitiu ao público soltar a sua voz para acompanhar a guitarra de Guthrie, num verdadeiro momento de aquecer o coração. No entanto, não nos deixemos enganar! Ainda há energia para mais uma faixa, que o digam os membros da audiência, ao rubro e sem vontade de deixar a noite ficar por ali… Não é para me gabar, mas realmente, o povo português dá uma boa plateia, apaixonados e entusiasmados, cantam com a alma e fazem-no bem, palavras dos próprios Aristocrats! Nem a propósito, Bryan pede ao público que cante com eles a próxima faixa, ou “entoem”, melhor dizendo. No encore, em “Smugllers corridor” é feita uma pequena brincadeira com as vozes da plateia, onde nos é pedido que alternemos entre a nossa bela voz lusitana (sim, porque aparentemente Marco Minnemann adora a nossa sonoridade, em contraste à alemã, onde tem origem), a voz alemã, os guturais do Heavy Metal e ainda o os falsettos para atingir as notas mais agudas.

Respondendo à questão de Frank Zappa, “O humor tem lugar na música?”. Sim, sem dúvida que sim! Penso que ninguém que esteve presente saiu do LAV com outra ideia. Um dos melhores espetáculos, dado por uma das melhores bandas.


Texto por Miguel Matinho
Fotografias por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Clap/Box