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Entrevista aos Sepultura


Uma das bandas mais populares com quase quatro décadas de trabalho, vem do nosso país irmão, o Brasil. Paulo Júnior, baixista, falou com a Metal Imperium sobre o novo álbum; convidados especiais; o regresso a Portugal num festival de verão e sobre um dos temas mais esperados... se haverá ou não reunião com Max Cavalera e Igor Cavalera. Isso e muito mais nesta entrevista!

M.I. - Obrigada por esta entrevista connosco e espero que esteja tudo bem contigo. 

Está tranquilo. Um pouco de jet lag, mas está tudo bem. Acabei de chegar de Amesterdão. 


M.I. -  É uma viagem de 36 anos, muito bem passados, em que são reconhecidos mundialmente. Como é que te sentes? Fala-nos um pouco sobre isso.

Sinto-me velho (risos). Não. Sinto-me super bem, superenergético, mesmo depois destes 36 anos. Como toda a gente sabe, estamo-nos a preparar para, dentro de alguns dias, o novo disco ser lançado. De seguida voltaremos a fazer um novo ciclo de tournées e uma nova fase dos Sepultura... estamos todos ansiosos e preparados para começar este ciclo.


M.I. -  Vocês são citados, por várias bandas, como uma das principais influências. O que fez com que isso acontecesse?

Para te dizer a verdade, não sei muito bem, mas acredito que seja a música em si. As nossas performances ao vivo ou o nosso jeito de ser no dia a dia, de onde viemos; talvez pela nossa linguagem e ritmo, que é um pouco diferente. Por natureza mesmo, por sermos brasileiros e vermos um pouco diferente o resto do Mundo, então acho que isso realmente influenciou outras bandas.


M.I. - Como descreves a sonoridade do vosso novo álbum “Quadra”? Que diferenças o álbum irá ter em relação ao anterior?

Eu acho que, pessoalmente, é uma escalada. É um “step-up”, é um degrau acima na nossa carreira em todos os sentidos. Musicalmente, pela complexidade com que este álbum acabou por ficar na sonoridade, e acho que é uma fase nova, uma caminhada nova, a seguir ao “Machine Messiah” e usamos toda a história dos Sepultura para nos influenciar a escrever este álbum. Por isso, é um pouquinho de cada, de todas as fases da história dos Sepultura. Usamos a própria banda, com este conceito do “Quadra”, para escrever este álbum. Então pode-se dizer que é um pouco da releitura da história, mas sempre respeitando o nosso passado, mas a trabalhar com o presente. Eu acredito que seja um pouco disso.


M.I. - Quais são as tuas músicas favoritas do novo álbum?

Não tenho (risos). Essa é a pior pergunta que me podes fazer. Não consigo escolher uma música. Acho que todas têm uma sequência. Todas fazem um sentido para que o álbum tenha todo esse contexto. É difícil, principalmente, porque ainda não tivemos oportunidade de tocar várias delas, a maioria, ao vivo. Então, na verdade, eu vou sentir isso mais, esse conforto, vamos dizer assim, depois de alguns meses de tournée.


M.I. - Emmily Barreto, dos Far From Alaska, é uma convidada neste álbum, no tema “Last Time”. Como surgiu a ideia de a convidarem? 

Coisas do Andreas Kisser e do Derrick Green. Eles andaram a fazer uma pesquisa e, no final, falamos sobre algumas pessoas, mas o Andreas já tinha a ideia de convidar a Emmily para fazer essa participação que, no final, acabou por me surpreender. Ficou melhor do que eu esperava realmente.


M.I. - A capa, criada por Christiano Menezes (Darkside Books), "representa as diferentes regiões, fronteiras, tradições de onde todos nós viemos e tivemos durante o nosso processo de vida". " Olhe para a moeda. Você dá importância ao dinheiro? Ele não está presente apenas na capa, mas na cabeça de todo mundo. Seja a regra do seu próprio jogo!", é um post na vossa página do Facebook. Porquê esta foto e citação?

É o contexto do álbum. A quadra é uma palavra em português que significa uma área demarcada e dentro dela temos uma série de regras e contextos que devemos seguir. E dentro desse conceito todo do “Quadra”, usamos a moeda como símbolo de escravidão desde o começo. Todos precisamos de dinheiro para sobreviver. Somos escravos constantes do dinheiro. Precisamos do dinheiro para nascer, para sobreviver, para criar, para estudar, até para morrer. Então isso simboliza tudo isso e tem todo um contexto, tem os limites, tem o desenho do mapa mundo, a folha do louro do Senado Romano. Tudo isso representa essa escravidão que, no final, nos prende durante toda a nossa vida. Não conseguimos fazer nada sem dinheiro.


M.I. - Como decorreu a gravação nos Fascination Street Studios com o produtor Jens Bogren? Porque escolheram trabalhar com ele novamente?

Como te disse, é uma fase, o seguimento de “Machine Messiah”, e sabemos que ficamos super felizes com todo o trabalho que foi feito e, ao entrar neste projeto novo, sabíamos que o Jens era a pessoa perfeita para completar esta equipa. Como já trabalhamos com ele antes, já sabíamos as possibilidades, em todos os sentidos, de como achar o som, de como trazer ideias, de como ajudar na arte da produção. Fomos para Estocolmo para gravar as baterias, depois fomos para casa dele em Örebro, onde tem o estúdio pessoal, onde praticamente vivemos, para fazer a gravação. Ele é um gajo que se deu super bem com os Sepultura, que entendeu muito bem a linguagem dos Sepultura, trouxe coisas novas e relevantes, não só para o “Machine Messiah”, mas também para o “Quadra”. Ele foi uma peça super importante para que todo o projeto acontecesse. Isso é onde se faz o projeto. O produtor que escolhes tem que ser parte integrante da banda, durante aquele processo, pois é preciso entender todo o conceito, transpor isso para o vinil ou CD que seja. Então essa parte, o Jens fez com carinho absoluto e o resultado está aí. Estamos super felizes com o que foi produzido e ele é o gajo que procurou levar-nos a todos ao limite. Acho que conseguiu.


M.I. - Este é o terceiro álbum dos Sepultura com o jovem talento Eloy Casagrande na bateria. O que achas que ele trouxe musicalmente à banda?

Ele trouxe a musicalidade, com certeza. Trouxe muita energia, um estilo muito peculiar de tocar. Para mim, ele é um dos melhores, senão o melhor, baterista de Heavy Metal que conheço e, com certeza, o melhor baterista com quem já toquei... sem desrespeitar o passado com o Jean, o Igor, o Roy, mas dizemos que o Eloy é um extraterrestre, ele não é deste mundo! Ele pôs os 3 velhos a trabalhar (risos). Além de músico excecional, tem muita bagagem musical. É um músico muito versátil. A criação para ele é muito fácil. Isso abre muito leque para fazerem-se coisas diferentes. Isso ajuda e complica muito, pois temos que tocar (risos).


M.I. - Vocês já têm mais álbuns com o Derrick Green como vocalista do que com o Max Cavalera. Quais são os vossos álbuns favoritos com o vosso atual vocalista? 

O meu álbum favorito? É o “Quadra”, neste momento. É o “filho mais novo” e, não desmerecendo a nossa história, o “filho mais novo” é o que estamos a curtir no momento, é o que está prestes a ser apresentado aos nossos fãs. Este é “o cara do momento”, como se diz no Brasil. Por isso, é esse o meu favorito.


M.I. - Na hora de escreverem música para um novo álbum, têm logo uma ideia concreta de como querem que os temas soem ou não fazem planos e tudo vos sai naturalmente?

Ultimamente, quando tens uma ideia, gravas, guardas partes para montar um quebra-cabeças. Nos últimos álbuns, temos procurado achar um conceito que, realmente, nos ajude a ter uma direção mais concreta, senão perde-se no momento de gravação. Quando tens um conceito já montado, pronto, com tudo pré-definido, é muito mais fácil ter uma direção mais concreta em vez de ficar perdido. Portanto é bom ter sempre um conceito. Pelo menos para os Sepultura, isso tem ajudado bastante a atingir o objetivo final.


M.I. - Há algum álbum na vossa carreira com o qual não tenham ficado completamente satisfeitos?

Não, acho que todos são importantes na carreira dos Sepultura. Cada um representa um período da história. Cada álbum que é gravado, representa aquele momento, as emoções, o que se está a passar naquela época da vida. Eu, particularmente, não gostaria de regravar ou refazer algumas coisas, porque representa aquela época. Eu prefiro deixar do jeito que está e continuar a viver o presente. Acho que cada álbum tem a sua importância e pronto. E cada um tem uma representação muito forte na história da banda.


M.I. - Os Slayer pararam recentemente de tocar ao vivo. Já alguma vez vos passou pela cabeça deixarem de tocar ou terminarem a carreira? Um dia terá de ser...

Ainda não. Eu sei que essa hora vai chegar, mas ainda temos motivação, vontade ainda de estar na estrada. Eu sei que já temos 36 anos de banda, completaremos isso no final do ano, é uma carreira longa. Sei que essa hora vai chegar, mas espero que ainda demore alguns anos. Ainda temos saúde e energia para estar nos palcos, que é o que mais amamos fazer. Para mim, é a parte melhor e mais importante. Lógico que um disco, como te disse, marca uma história, um período da vida, mas o bom, na minha opinião, é estar na estrada, estar a viajar por países para apresentar cada álbum, conhecer pessoas novas, culturas diferentes. Isso ainda está muito forte e presente na nossa carreira. Espero que fiquemos ainda alguns anos na estrada. Não sei quantos, mas nunca se sabe o dia de amanhã. Enquanto tiver saúde e força, acredito que continuaremos na estrada.


M.I. - Os Machine Head reuniram-se com os membros antigos para tocarem o seu primeiro álbum numa tournée. Sei que contam ficar muito tempo com o Derrick Green e o Eloy Casagrande. Mas já pensaram alguma vez juntarem-se ao Max e ao Igor para um concerto especial de celebração de algum dos vossos álbuns clássicos?

Não (risos). Resposta simples: não. Estamos concentrados no álbum novo, na tournée nova e ainda temos uma estrada muito longa para representar o “Quadra”. Isso nem nos passa pela cabeça.


M.I. - Acompanham o trabalho do Max e do Igor? 

Não. Não acompanho nada.


M.I. - Em julho vocês vão tocar em Portugal num dos grandes festivais portugueses, o VOA Heavy Rock Festival, num dia em que os System of a Down, Korn e Meshuggah também irão estar presentes. Vocês têm muitos fãs em Portugal. O que podemos esperar da vossa atuação? Vão tocar muitas músicas novas? 

A intenção é essa. Representar o disco novo, o máximo que podermos, mas quando se toca num festival, é um pouco diferente de quando se faz um espetáculo principal como cabeça de cartaz. Geralmente têm-se um tempo reduzido, aí tem que se preparar um reportório mais específico. A intenção é representar o “Quadra”. 


M.I. - Obrigada por esta entrevista e oportunidade. Há alguma coisa que ficou por dizer, que queiras dizer aos fãs portugueses?

Só quero dizer que estamos super felizes por voltarmos a Portugal. Gostaríamos de ir aí mais vezes, com certeza. Isso deve voltar a acontecer na tournée como cabeças de cartaz depois dos festivais de Verão europeus. Espero que gostem do novo álbum, que o curtam bastante e... não esperem reunião.

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Entrevista por Raquel Miranda