O evento iniciou-se, à hora prevista, quando o trio de Viseu, formado por António Baptista na guitarra, Nuno Mendonça no baixo e João Lugatte na bateria, subiu ao palco e, sem cerimónia, começou a despejar a torrente de acordes lentos de doom sabatiano corrompido, que lhes é característico.
Entretanto quatro indivíduos vestidos a rigor subiram ao palco, pouco tempo depois de terminado o set da banda de abertura. As almas presentes, sem dúvida a tentar fazer valer a noite de sábado, independentemente do concerto do momento, continuavam a despejar cerveja garganta abaixo. A maioria não parecia estar preocupada e, muito menos, fazer ideia do que poderia acontecer a seguir. Após uma pequena introdução, “Steam Paves Its Way (The Machine)” abriu o espetáculo. Acordes rechonchudos carregados de balanço, interrompidos repentinamente por um refrão orelhudo, recheado de interessantes melodias vocais, desenvolvidas pelo frontman Flo Schwartz nesta nova reencarnação do projeto, atacou e acredito que agarrou os presentes. A relativa pouca afluência pouco impacto teve na atitude dos Pyogenesis e, especialmente, em Flo Schwartz, que gritou, cantou à capela, irrompeu plateia adentro, interagiu como se em frente a milhares se encontrasse e até a “discos pedidos” cedeu, sem medo, e com sorriso nos lábios.
Passava da uma e meia da manhã, quase duas horas de espetáculo depois, numa sala como Metalpoint, a banda estava a descer do palco depois do encore pedido pelo público, muito do qual tinha acabado de a conhecer. Algo de especial aconteceu nesta noite. Magia e irreverência do Rock n’ Roll irradiou de Pyogenesis, uma banda destemida, descomprometida, confiante, competente, motivada e com um grande repertório de canções antigas e recentes. Corajosa foi também, e mais uma vez, a Rocha Produções por promover um espetáculo desta entidade pouco reconhecida em solo nacional e nos proporcionar um momento para, sem dúvida, recordar.
Texto por David Silva
Fotografia por Emanuel Ferreira
Agradecimentos: Rocha Produções