About Me

Reportagem: Pyogenesis e Basalto @ Metalpoint, Porto - 15/02/2020


O evento iniciou-se, à hora prevista, quando o trio de Viseu, formado por António Baptista na guitarra, Nuno Mendonça no baixo e João Lugatte na bateria, subiu ao palco e, sem cerimónia, começou a despejar a torrente de acordes lentos de doom sabatiano corrompido, que lhes é característico. 

Os Basalto são uma espécie de mais um filho bastardo de Black Sabbath, afetado por alguma epidemia, que podre e moribundo rasteja esgoto fora, emanando um miasma mortífero. É uma viagem sofrida por um imaginário decadente aquela a que nos submete o coletivo. As composições provenientes do álbum de 2019 “Odor” adornadas por vocalizações guturais mórbidas resultaram bem ao vivo e pareceram infetar lentamente o pouco público presente, do qual uma parcela considerável, curiosamente, pareceu se ter deslocado ao Metalpoint só para ser submetido a este tratamento. O som da sala foi o apropriado e, apesar dos riffs não serem memoráveis e as canções dificilmente identificáveis entre elas, o ambiente criado não deixou ninguém desiludido. Digna de destaque foi prestação do baterista cujos fills interessantes funcionaram como pequenas bolsas de ar por entre riffs sufocantes. 

Entretanto quatro indivíduos vestidos a rigor subiram ao palco, pouco tempo depois de terminado o set da banda de abertura. As almas presentes, sem dúvida a tentar fazer valer a noite de sábado, independentemente do concerto do momento, continuavam a despejar cerveja garganta abaixo. A maioria não parecia estar preocupada e, muito menos, fazer ideia do que poderia acontecer a seguir. Após uma pequena introdução, “Steam Paves Its Way (The Machine)” abriu o espetáculo. Acordes rechonchudos carregados de balanço, interrompidos repentinamente por um refrão orelhudo, recheado de interessantes melodias vocais, desenvolvidas pelo frontman Flo Schwartz nesta nova reencarnação do projeto, atacou e acredito que agarrou os presentes. A relativa pouca afluência pouco impacto teve na atitude dos Pyogenesis e, especialmente, em Flo Schwartz, que gritou, cantou à capela, irrompeu plateia adentro, interagiu como se em frente a milhares se encontrasse e até a “discos pedidos” cedeu, sem medo, e com sorriso nos lábios. 

Os Pyogenesis vestiram várias roupagens estilísticas ao longo dos seus já 28 anos de carreira e nunca o medo de experimentar e arriscar pautou os seus lançamentos. Por esse facto talvez tenham pago e continuem a pagar um elevado preço. Desde doom/gothic metal até ao pop/punk rock nunca houve um só catálogo e um só publico para eles. A habilidade de criar composições incrivelmente memoráveis nunca os abandonou e experienciá-los ao vivo poderá ter ajudado a orientar tudo isto, até para os mais céticos. Para mim, recente fã assumido, fez sentido a interpretação de canções de diversas eras lado a lado como “Blaze, My Northern Flame” e “Undead”, “Will I Ever Feel The Same” e “It´s on Me”. “I Have Seen My Soul” e “Every Single Day” (a última a pedido do público). 
Passava da uma e meia da manhã, quase duas horas de espetáculo depois, numa sala como Metalpoint, a banda estava a descer do palco depois do encore pedido pelo público, muito do qual tinha acabado de a conhecer. Algo de especial aconteceu nesta noite. Magia e irreverência do Rock n’ Roll irradiou de Pyogenesis, uma banda destemida, descomprometida, confiante, competente, motivada e com um grande repertório de canções antigas e recentes. Corajosa foi também, e mais uma vez, a Rocha Produções por promover um espetáculo desta entidade pouco reconhecida em solo nacional e nos proporcionar um momento para, sem dúvida, recordar.


Texto por David Silva
Fotografia por Emanuel Ferreira
Agradecimentos: Rocha Produções