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Reportagem: The Last Internationale, The Quartet of Woah e Hill's Union @ Lisboa ao Vivo, Lisboa - 14/02/2020


Os The Last Internationale encontram-se em autêntico estado de graça. Tudo por mérito deste tão aguardado segundo álbum, Soul on Fire, lançado no passado ano. Foram precisos cerca de cinco anos para que se tirassem as dúvidas sobre se We Will Reign, o primeiro trabalho destes nova iorquinos, tinha sido um tiro de sorte, ou se, pelo contrário, existe qualidade indiscutível neste duo. Nós optamos pela segunda hipótese e o público português, que quase encheu a sala do LAV, confirmou que tínhamos razão. A acompanhá-los neste concerto estiveram os The Quartet of Woah e os Hill´s Union. 

Agradável surpresa estes Hill´s Union. Com músicas de caráter vincadamente político e revolucionário, este trio encaixou que nem uma luva no espetáculo desta noite. Com o objetivo claro de dar a conhecer Joe Hill, poeta e sindicalista, condenado à morte e executado nos Estados Unidos há cerca de cem anos, a ele deve esta banda o nome e a linha orientadora que rege a sua sonoridade. O concerto começou precisamente com um hino antifascista, logo seguido de “Fall Now (Fascists)” que até fez lembrar um pouco Lou Reed. Muita poesia nas letras, sempre apelando à organização, revolução e luta de classes. Houve ainda lugar para “Last Train to Nuremberg”, um original de Pete Seeger, cantor que os Hill´s Union tanto apreciam, para terminarem com o lema “We Will Rise and We Will Be Free”. Rock muito simples, descomplicado e muito agradável.

Quando os The Quartet of Woah entraram em palco eram já quase 23h00 e a sala do LAV estava bem composta para os receber. Já habituados a estas andanças eles quiseram aproveitar bem a meia hora de atuação de que dispunham, frisando precisamente isso assim que entraram. Pouca conversa e mais barulho foi o que prometeram e tiveram toda a vontade de cumprir, não fossem os inúmeros problemas que assolaram a sua atuação e que levaram à troca de cabos por mais de uma vez. Tocando temas dos seus dois álbuns, tiveram oportunidade de dar a escutar uma música nova que irá figurar num próximo lançamento. A sua atuação foi uma autêntica descarga de energia de onde se destacam a energia de Gonçalo, que com a sua guitarra parece entrar em despique com o teclado de Rui Guerra. As vozes destes dois também se combinam muito bem, dando-nos uma sonoridade que tanto nos pode fazer lembrar uns Deep Purple, ou uns The Doors, rock n´roll do bom, portanto. A atuação dos The Quartet of Woah terminou com “U Turn”, numa autêntica jam que permitiu a Gonçalo soltar-se novamente e percorrer outras zonas do palco, tal como ele tanto gosta de fazer. O público aplaudiu.

A sala estava praticamente cheia quando Delila Paz e Edgey Pires subiram ao palco para iniciarem a sua atuação. Que entrada, logo com “Hard Times”, uma das suas mais acarinhadas composições que pôs logo toda a gente a dançar. Edgey mostrou toda a sua rebeldia, não parando de percorrer todo palco acompanhado da sua guitarra, enquanto Delila, com o seu baixo e a sua voz rouca cantava com muita alma. As suas composições são puro rock e nelas podemos escutar várias vezes a palavra “Revolution”, tal como aconteceu com o tema seguinte “Life, Liberty, and the Pursuit of Indian Blood”. Deram-se os habituais agradecimentos e de seguida sucedeu um dos momentos mais eletrizantes da noite com a interpretação do tema “Soul on Fire”, em que todo o público cantou ou procurou acompanhar Delila, prolongando a música como se não quisesse que ela acabasse.
“Wanted Man” antecedeu mais um momento que certamente se tornará inesquecível para quem ali esteve nesta noite. Sozinha, apenas com o seu teclado, Delila interpretou “Running For a Dream” e depois, dedicada ao seu “irmão” Cornell, o clássico dos Audioslave “Like a Stone”. Houve quem optasse por ouvir estes dois temas de olhos fechados, deixando-se levar por aquela fantástica voz. Arrepiante, é como eu a caracterizo.

“5th World” e “Hit´em With Your Blues” foram interpretados com um quarto elemento em palco. Miguel encarregou-se do baixo, deixando que Delila se preocupasse simplesmente em cantar. “Need Somebody”, já com a banda em formato trio novamente, estava destinada a ser a última música para aquela noite, mas a pedido do público, houve ainda tempo para mais dois temas: “Unk” e “1968”, esta última com todo o público a ser convidado a subir ao palco para dançar, pular e até cantar com a banda. Memorável.


Texto por António Rodrigues
Fotografia por Daniela Jácome Lima
Agradecimentos: Banzé