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Entrevista aos Bismarck


Nem só Black Metal se toca na Noruega… os Bismarck são uma das exceções à regra e estão a fazer um trabalho fenomenal. Após da estreia com o brutal “Urkraft” em 2018, a banda está prestes a lançar o seu mais recente álbum “Oneiromancer”. O baixista e liricista Anders Vaage conversou com a Metal Imperium e garantiu-nos que o novo álbum supera o anterior, portanto mantenham-se atentos e leiam a entrevista aqui.

M.I. - Conta-nos um pouco sobre o nome da banda. O que significa?

É algo que inventamos há muito tempo, nessa altura, estávamos muito interessados na estética alemã do final do século XIX. O nome é retirado do chanceler alemão, mas não pretende ser uma homenagem a ele como pessoa ou ao que ele fez, apenas soa pesado e encaixa bem na nossa música.


M.I. - Com todas as bandas que existem, por que sentiram a necessidade de criar os Bismarck? O que é que Bismarck tem para oferecer?

Diz-me tu! Nunca sentimos que o mundo precisava de nós, somos apenas amigos que fazem música e, numa determinada altura, decidimos divulgá-la para ver se alguém gostava. Aparentemente, as pessoas gostaram e aqui estamos nós.


M.I. - A banda tem estado em destaque desde a sua formação... Por que é que isso aconteceu? Acreditas que o facto de serem noruegueses vos concedeu um estatuto de culto que não teriam caso não fossem?

Acho que não. Quando se trata de stoner doom, acho que as bandas norueguesas lutam mais do que as bandas americanas e britânicas, até bandas suecas. Os fãs de black metal que vêm à Noruega todos os anos para os grandes festivais de metal querem todo esse pacote norueguês de black metal e não se importam muito com o tipo de música que tocamos. Precisamos de levar a nossa música para o exterior para alcançar um público mais amplo.

Nós recebemos alguma atenção bem cedo e muito disso veio das pessoas que não gostavam de stoner, sludge, doom, até metal. Disseram-nos que éramos mais pesados do que praticamente tudo que tinham ouvido mas de uma maneira muito diferente. Era exatamente isso que pretendíamos.


M.I. - A banda é inspirada por uma grande variedade de géneros e estilos - desde o melódico melancólico até ao rock psicadélico dos anos 60 e 70, o black metal norueguês e a música folclórica do Médio Oriente... Cita algumas bandas / álbuns que influenciaram o som dos Bismarck.

Há muita coisa realmente. Neste álbum, estávamos muito virados para a música do Médio Oriente, em particular da curda. Eu poderia mencionar Shahram Nazeri e Seyed Khalil Alinezhad como dois músicos que nos introduziram na tradição, e dali em diante fomos para a música sufi, norte-africana etc. Quanto às influências mais óbvias, estávamos a ouvir o novo The Body, Sunn O))) e álbuns de Sleep que foram lançados enquanto gravávamos, assim como os antigos de Pantera e Mayhem. Também estávamos a "redescobrir" os álbuns principais dos Isis, que estavam na gaveta há muito tempo.


M.I. - Os mantras intransigentes e difíceis de Bismarck e as escapadas psicadélicas agitaram as coisas no underground norueguês depois da banda ter lançado o aclamado álbum de estreia "URKRAFT" em agosto de 2018. Como é ser uma banda "diferente" na Noruega? Tocar um estilo que não é tão comum lá?

Existem algumas bandas que fazem o mesmo que nós, mas não exatamente. Caímos entre duas cadeiras a maior parte do tempo; é muito stoner para o pessoal do pós-metal, muito post metal para os puristas do stoner, as vozes são demasiado brutais para os adoradores dos Sabbath, enquanto são demasiado lentas para o público do metal extremo. No entanto, muitas pessoas - as menos puristas, acho - parecem apreciar o ecletismo.


M.I. - O que atraiu os Bismarck ao Doom metal?

Eu acho que isso seria uma pergunta para cada membro da banda. Estávamos todos no mesmo tipo de música quando nos conhecemos. Não necessariamente doom metal, mas música lenta, pesada, drónica e repetitiva. Começamos a tocar e saiu assim.


M.I. - Vocês lançaram "Urkraft" em 2018 e gravaram "Oneiromancer" em 2019... de onde vem toda a criatividade? Não sentiram necessidade de fazer uma pausa e recarregar as baterias?

Na verdade, "Urkraft" já estava em produção há muito tempo quando foi lançado, e algumas das músicas remontam aos primeiros ensaios que tivemos três anos antes. Então tínhamos muito material novo para um novo álbum e perguntamos ao Chris Fielding, que misturou o nosso primeiro álbum, se estava interessado em produzi-lo. Ele disse que sim e ajudou-nos a montar um álbum com o que tínhamos. A resposta esmagadora que recebemos ao "Urkraft" também foi muito inspiradora para nós. Quando tens a sensação de que tens ali algo bom, é mais fácil construir sobre isso.


M.I. - Alguns fãs acham que é difícil superar "Urkraft"... o que podemos esperar de "Oneiromancer"? Na vossa opinião, supera o álbum anterior ou não?

Pensamos que supera o "Urkraft". O segundo álbum é sempre difícil, isso é um facto bem conhecido, mas pessoalmente acho que progredimos muito e fizemos exatamente o que nos propusemos a fazer. Quando criamos "Urkraft", não tínhamos ideia, foram apenas algumas músicas que fizemos e passamos muito tempo a tentar ter uma pós-produção coerente. No entanto, saiu bem e estamos orgulhosos do resultado, mas o processo de fazê-lo foi bastante caótico. “Oneiromancer” é mais pensado, tanto no material quanto na produção, e parece enorme!


M.I. - Um “oneiromancer” é alguém que adivinha através da interpretação dos sonhos. Por que escolheram esta palavra para ser o título do novo álbum?

Eu decidi-a há um bom tempo atrás, antes de escrever qualquer letra. Estava a ter alguns sonhos bizarros na época e, intrigado com tudo, comecei a ler sobre a interpretação dos sonhos. “Oneiromancy” apareceu num livro que li e parecia o título perfeito para o novo álbum. Tornou-se tema para a letra também.


M.I. - O novo single "The Seer" tem a imagem de uma fénix. Qual é o seu significado?

Na verdade, é um simurgh, considerado um purificador do mundo na religião persa antiga. As letras são visões do velho mundo destruído na guerra purificadora e de um novo mundo renascido, e o simurgh representa isso.


M.I. - "The Seer" foi lançado a 19 de fevereiro... como têm sido as reações até agora?

Até agora, ouvimos apenas coisas boas. As pessoas realmente parecem gostar do novo som.


M.I. - Qual o significado da boca flamejante na capa do álbum?

São magos persas com fogo sagrado que sai de dentro.


M.I. - A primeira faixa é intitulada "Tahaghghogh Resalat". Pesquisei no Google, mas não consegui encontrar uma tradução. Acredito que a linguagem usada é a farsi mas o que é que ela representa no contexto do álbum?

É o título pinglish, ou seja, farsi escrito em caracteres latinos. Significa “a profecia / missão está cumprida” e remete para “The Usher”, a última faixa de “Urkaft”.


M.I. - A primeira faixa do álbum foi cantada inteiramente em farsi pelo talentoso vocalista Armin Amookhteh. Por que decidiram usar uma faixa nesse idioma?

Como mencionei acima, o título remete para “The Usher”, que tem uma sensação do Médio Oriente, e queríamos continuar onde deixamos as coisas no último álbum. Pensamos que seria porreiro ir ainda mais longe e ter as vozes na faixa de abertura cantadas num idioma do Médio Oriente. Tenho um amigo do Irão que me ajudou a traduzir as letras e, depois de procurar intensivamente um cantor iraniano, encontramos o Armin. Ele veio ao estúdio que estávamos a usar em Bergen e improvisou a coisa toda no local. Foi realmente um daqueles grandes momentos de gravação!


M.I. - Tendo em consideração o título do álbum e o título das músicas, podemos assumir que os tópicos abordados nas letras estão todos ligados a sonhos e previsões?

De facto estão, mas não de maneira conceitual. Não há uma narrativa coerente, é mais um fio conector. Além disso, a mitologia antiga, em particular os persas, é um tema recorrente.


M.I. - Quão supersticiosos são os Bismarck?

(Risos) provavelmente muito mais do que gostamos de admitir.


M.I. - Acreditas em poderes sobrenaturais? Se pudesses escolher um, qual seria e porquê?

O que Tony Iommi tem!


M.I. - O produtor do @hailconan, Chris, teve a gentileza de vos “emprestar” a sua voz monstruosa para as partes mais pesadas... como surgiu a ideia?

Bem, ele parece um minotauro e, como o tínhamos no estúdio, não podíamos deixar a oportunidade passar. Ele e o nosso cantor Torstein juntos são brutais.


M.I. - A banda trabalhou com os incríveis talentos de Chris Fielding do @skyhammer_studio e Leif Herland do @polyfon_studio. Por que usaram dois estúdios diferentes?

Tivemos muitas ideias para este álbum e passamos quase 6 meses a gravar. Como o Chris está na Inglaterra e nós na Noruega, era mais conveniente dividi-lo e gravar alguns bits aqui e outros lá. Basicamente, o Chris gravou a fundação - a bateria, a guitarra e o baixo - e as partes mais experimentais foram gravadas aqui. Finalmente, fizemos a mistura no Skyhammer.


M.I. - As duas capas dos vossos álbuns incluem "ondas"... linhas onduladas... é uma maneira de ter uma conexão entre os dois álbuns?

Essa é uma observação interessante. Não é intencional da nossa parte, e usamos designers diferentes em "Urkraft" e "Oneiromancer". Mas nunca se sabe; se tocares os nossos discos o mais alto possível, seria mais ou menos impossível traçar uma linha reta.


M.I. – Os Bismarck já têm vários concertos planeados para este ano. Onde vão tocar? Alguma hipótese de virem a Portugal?

Convidem-nos e nós vamos! Portugal é um país lindo.


M.I. - Se pudesses escolher as bandas para irem em tournée convosco, quais escolherias e por quê?

Bem, depende de onde encontramos o nosso público. Num cenário de sonho, os Electric Wizard, Earth, Sleep e Isis (reunidos) fariam uma tournée juntos e decidiriam levar-nos! Mas, de maneira mais realista, devemos fazer algo com os Conan em breve. Sempre funciona melhor se nos damos bem tanto a nível social quanto musical.


M.I. - Conheces a cena metal portuguesa?

Para ser honesto, não realmente, além dos Moonspell, é claro. Gostaríamos de conhecer, porque, provavelmente, existe uma cena underground interessante que não conhecemos.


M.I. – Deixa os teus pensamentos finais aos leitores da Metal Imperium, por favor.

Acho que devem manter-se seguros e saudáveis acima de tudo nestes tempos loucos. Lembrem-se de ouvir o nosso álbum quando sair no dia 17 de abril. Se gostam de vinil, façam uma pré-encomenda da edição limitada através do Bandcamp ou Apollon Records antes que esgote!

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Entrevista por Sónia Fonseca