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Entrevista aos Stygian Crown


O que é que acontece quando se une Candlemass com Bolt Thrower? Nasce o Candlethrower! Um termo criado pelos Stygian Crown para descrever o seu som – uma mistura explosiva de doom e death metal, regada por limpos vocais femininos. Depois de uma promissora demo em 2018, a banda de Los Angeles lança o seu auto-denominado primeiro álbum, que pode muito bem ser, um dos melhores do género deste ano. Rhett (bateria), Andy (guitarra) e Melissa (vocais e teclado), responderam às nossas questões e explicaram o que é afinal esse som Candlethrower.

M.I. - Olá! Como estão? Obrigado pelo vosso tempo em responder às nossas perguntas!

Melissa - Acho que a banda no geral está a ir bem, considerando a pandemia... Estamos saudáveis, sobrevivendo e ansiosos para tocar ao vivo novamente.


M.I. - Parabéns pelo vosso álbum de estreia! É ótimo! Como tem sido o feedback até agora?

Andy - O feedback tem sido muito positivo. Estou tão feliz que as pessoas gostem deste álbum.
Melissa - A resposta tem sido incrível e extremamente positiva. É esse tipo de afirmação que nos dá a motivação para trabalhar ainda mais arduamente no nosso próximo álbum.


M.I. - Liricamente, do que se trata?

Melissa - As letras concentram-se na mitologia e na história antiga. Por exemplo, a faixa de abertura “Devour the Dead” é uma história sobre Ammit, a deusa egípcia que devorava os corações dos impuros.


M.I. - Qual a história por detrás do nome e da criação da banda?

Rhett - Criei o nome para homenagear duas bandas antigas que tive há anos: os MORGION que têm um álbum chamado Cloaked by Ages, Crowned in Earth e a canção Stygian Black Lotus dos KEEN OF THE CROW. Também tenho uma longa admiração por Robert E. Howard (escritor norte-americano, criador da personagem Conan, o Bárbaro). Na Ciméria, a terra da Stygia é a terra das serpentes. Então, ficou STYGIAN CROWN (“SERPENT CROWN”).


M.I. – O que é, exatamente, o som de “Candlethrower”? Este conceito foi pensado desde o início? Quando decidiram criar a banda, era para ter esse som, especificamente?

Andy - Quando o Nelson andava a escrever riffs para este disco, após a gravação da demo, percebemos que os riffs de guitarra tinham um elemento Bolt Thrower. As músicas ainda seriam doom, mas os riffs tinham algum impacto extra.


M.I. - Qual  a música da qual têm mais orgulho? Qual representa melhor o “Candlethrower”?

Melissa - “Devour the Dead” foi chamada de “Candlethrower” na sua primeira encarnação, por isso, diria que essa faixa foi o catalisador para o nosso som. Estou muito orgulhosa de “Through Divine Rite” em termos de composição vocal e performance.
Andy - Up From the Depths.
Rhett - Two Coins for the Ferryman.


M.I. - No vosso som, existem muitas influências que não são doom metal - Iron Maiden, Dio, Judas Priest... Que outras influências existem ainda mais distantes mas que contribuem para a vossa música? Qual é a música mais distante de doom que ouvem?

Melissa - Muitos artistas de metal tradicionais tiveram um papel de influenciar o género doom, Dio incluído. Black Sabbath são pioneiros desse som. Eu gostaria de pensar que somos uma banda que respeita as nossas raízes, ao mesmo tempo que coloca uma nova perspetiva no doom.
Rhett - Bolt Thrower. Mas acho que tudo que tu e a Melissa mencionaram, pode ter elementos de doom sem ser doom.


M.I. - Apesar de serem "catalogados" como uma banda de doom metal, Stygian Crown soa muito pouco convencional... A estrutura das músicas, o tom, a inclusão dos vocais limpos e naturais da Melissa... Esta é realmente uma banda/álbum doom? Ou mudaram de propósito para explorar coisas novas?

Melissa - O que é ótimo sobre o doom é que é altamente versátil. Numerosos artistas doom da nossa editora, Cruz Del Sur, apresentam vocais limpos - tanto masculinos como femininos - e exploram uma ampla gama de estilos. Em termos de som, o nosso álbum atinge um bom equilíbrio entre grupos seminais como Black Sabbath, Candlemass e Solitude Aeturnus, enquanto lança um som de guitarra agressivo que vem das nossas influências de death metal. Por isso, sim, este é um álbum doom - mas com um twist.
Rhett - Acho que ainda estamos a descobrir o nosso “som”. Todas as nossas músicas, até agora, foram de tentativa e erro. Acho que teremos uma compreensão melhor de nós mesmos no segundo álbum.


M.I. – Alguns elementos da banda tocam há 20 anos... Quais foram as maiores diferenças que sentiram no metal (especialmente doom nos EUA) nessas duas décadas?

Rhett - Quando eu estava nos MORGION, nos anos 90, éramos um em, provavelmente, 10-15 bandas doom nos EUA. Mas em Los Angeles, éramos os únicos do nosso estilo, além de MINDROT. Fazíamos concertos para públicos não muito entusiastas. Simplesmente não era um género com que as pessoas se importavam na época. Passámos muitos anos a ser ignorados ou postos de lado. Sinceramente, não olho para trás com muito carinho. Agora, só na Califórnia, existem centenas de bandas de doom.


M.I. - Pensam que existe mais "amor" pelo metal mais extremo na Europa do que nos Estados Unidos? As bandas europeias são mais reconhecidas pelo seu público?

Rhett - Acho que as pessoas têm a mente muito mais aberta na Europa. Existem bandas radicais que podem fazer carreira lançando discos regularmente, tocam em grandes festivais, obtêm apoio da cena local e dos seus pares. Nenhum desses fatores está disponível ou é uma opção nos EUA. Além disso, as cenas locais são instáveis ​​e o suporte dos nossos pares não existe. Além disso, sendo uma banda da área de Los Angeles, pagar para tocar é comum.


M.I. - A maioria dos membros está noutras bandas, nomeadamente Gravehill. Como reconciliam agendas?

Rhett - Neste momento não estou nos GRAVEHILL, por isso, STYGIAN CROWN tem prioridade. Estive muitos anos em GRAVEHILL, então, fazer uma pausa,  era mesmo necessário. Mas alguns de nós temos outras bandas... Apenas trabalhamos para um objetivo de cada vez. Agora, como não podemos tocar ao vivo, STYGIAN CROWN trabalham no segundo disco.


M.I. - Tendo um relacionamento de vários anos com uma editora por parte da maioria dos integrantes da banda, não foi mais fácil mantê-la para este novo projeto? Por que decidiram mudar-se para a Cruz Del Sur Music?

Rhett – A CDSR fez uma oferta. Simples! Prefiro que cada banda onde estou, tenha a sua própria editora em vez de estar com uma editora e um monte de bandas diferentes.


M.I. - Como é o processo criativo? Quem faz o quê? Todos contribuem em todos os aspetos (letras, riffs, etc.)?

Melissa - É muito pouco ortodoxo. Às vezes, o Nelson e o Rhett criam ideias cruas no estúdio e eu adiciono letras e melodias. Às vezes, eu componho melodias e letras de músicas no piano, que depois são desenvolvidas pelo Nelson e o resto da banda.


M.I. – O vosso guitarrista, Nelson Miranda… É um nome português. Qual é a ligação?

Rhett - Assim como Lady Gaga, ele nasceu assim.


M.I. - Os Estados Unidos estão constantemente nas notícias mundiais devido, de certa forma, ao estado esquizofrénico de como o país está a lidar com a pandemia de Covid-19. Por um lado, temos autoridades de saúde a tentar conter a pandemia, por outro lado, o governo tenta abrir a economia, entre estados que fecham e outros que abrem. Como é que isso influencia a música e os planos que tinham para este (e o próximo) ano?

Melissa - Estamos a aproveitar ao máximo uma situação muito desafiadora. Felizmente, retomámos os ensaios, por isso tenho esperança de que este seja o primeiro de vários passos para trazer a banda - e as nossas vidas - de volta ao "normal". Acho que estamos todos um pouco preocupados porque temos concertos em festivais na Europa no outono de 2020 e na primavera de 2021, apesar dos americanos não estarem autorizados a viajar para lá.
Andy – Já ultrapassei completamente este ano e tenho esperança de que em algum momento de 2021, haja algum tipo de concerto novamente. Quero que os EUA tenham isto sob controle para que possamos viajar para a Europa novamente, quando for seguro realizar concertos.
Rhett – A primeira vez que lancei um álbum, não o pude apoiar ao vivo. Não tenho expectativas. Tenho 1000 dólares em créditos de voo que não posso usar devido a digressões e festivais adiados. Faço o meu melhor para ser positivo e não vou perder o meu tempo a reclamar de política. Acho que toda a gente que tem bom senso, sabe o que precisa de acontecer.


M.I. - Como têm passado o tempo com esta situação pandémica? Continuam a juntar-se? Estão a trabalhar em novas ideias e novas músicas?

Melissa - Tenho criado alguns “embriões de canções” e trabalho na minha resistência vocal em casa. Também retomámos os ensaios, o que é ótimo!
Andy - Ensaiamos com máscaras e continuo a construir guitarras. O Nelson tem escrito riffs.
Rhett - Ensaio com STYGIAN CROWN, trabalho na música com alguns amigos para outra banda que irei lançar, eventualmente. Jogo PS4. Trabalho em casa. Sou chato.


M.I. – Têm planos de ir para o exterior? Alguma data para a Europa?

Melissa - Estamos agendados para o Hammer of Doom e Hell Over Hammaburg na Alemanha, bem como, Up the Hammers, na Grécia. Mas na verdade, não temos ideia se será seguro ou mesmo possível tocarmos nesses festivais devido às restrições de viajar.


M.I. - Conhecem alguma banda de metal portuguesa / sul europeia? É algo que ouvem?

Rhett - Os MORGION fizeram uma digressão pela Europa em 2003 e tocamos no Porto. Sinceramente, só conheço a banda MOONSPELL, da qual alguns deles foram ao concerto. Foi no exterior e estava incrivelmente frio. O vento do oceano estava gélido! Mas foi um ótimo concerto! Foi a minha data favorita dessa digressão, sem dúvida!


M.I. - Últimas palavras para os nossos leitores em (mas não apenas) Portugal?

Melissa - Esperamos conhecê-los em circunstâncias muito melhores!
Andy - Por favor, fiquem seguros e saudáveis e espero que este disco possa dar-vos 50 minutos de alegria.
Rhett - Obrigado pela entrevista, agradecemos o vosso tempo e atenção à nossa música!


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Entrevista por Ivan Santos