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Entrevista a Jakko Jakszyk

Jakko Jakszyk é, desde 2013, o vocalista de um nome que dispensa apresentações - King Crimson. Um caminho que começou com a fundação da 21st Century Schizoid Band, um grupo composto por ex-membros de… King Crimson. À banda quinquagenária, Jakszyk levou irreverência e uma nova forma de tocar, reconhecida pelo gigante Robert Fripp.
Quando não está a trabalhar com a banda ou em nome próprio, está a remasterizar álbuns de rock clássico (Emerson Lake e Palmer, Jethro Tull…).
 Um virtuoso da guitarra, um homem profundo, com histórias comoventes, bem retratadas nos seus trabalhos a solo, altamente pessoais. Depois de “Waves Sweep the Sand” (2009) - uma miscelânea de canções que sobraram do álbum anterior (“The Bruised Romantic Glee Club”, de 2007) – lança este ano, “Secrets & Lies”. É acerca deste lançamento, que esta lenda do rock progressivo aceitou responder às questões da Metal Imperium.


M.I. -  Olá! É uma honra ter-te a responder às nossas perguntas! Como está a tua vida agora? Excluindo a espera pelo lançamento do novo disco, é claro.

Bem, é estranho, como de facto é para todos neste momento.
Muitos planos em espera para um futuro desconhecido. Crimson deveria fazer uma digressão pelos Estados Unidos neste verão. Isso foi adiado para o próximo ano. Eu deveria fazer um concerto solo no Festival de Edimburgo, que também foi cancelado, é claro. Também esperava fazer alguns concertos para destacar o novo álbum no início do próximo ano. Mas tudo se foi.
Passo o tempo no estúdio a escrever, para mim e outros, pois assinei um contrato de três álbuns.


M.I. -  Sempre tiveste ligações com King Crimson. Era apenas uma questão de tempo antes de te juntares a eles?

Bem, retrospetivamente, é claro que pode parecer assim.
Nunca tinha falado com o Robert até que ele me ligou um dia, quando eu estava a ensaiar com a 21st Century Schizoid Band. Fiquei bastante chocado. Ele queria saber como tudo estava a correr.
Ele riu-se quando lhe disse. Ficámos ligados devido ao facto de que agora estar a trabalhar com estes tipos com quem ele havia trabalhado.
Depois disso, ele tocou no meu último trabalho solo e, então, fizemos um álbum juntos (com o Mel Collins, o Tony Levin e o Gavin Harrison) chamado “A Scarcity Of Miracles”. Também misturei o “Thrak” com ele, por isso acho que não foi uma grande surpresa quando ele ligou em 2013 para me informar que estava a formar King Crimson e gostaria que fosse o vocalista e guitarrista.
A maior surpresa foi o Robert ter anunciado a sua reforma da música no ano anterior.


M.I. - Como é tocar ao lado de um virtuoso como Robert Fripp? No início, deve ter sido enervante.

Bem, antes mesmo de começarmos a ensaiar, sentamo-nos no meu estúdio a discutir quais as peças que poderíamos tocar, de todo o repertório de Crimson. Quando ele sugeriu “Larks Tongues In Aspic Part 1”, fiquei muito animado, mais como fã do que qualquer outra coisa. Já que Crimson não tocava isso há décadas.
No entanto, ele disse-me que algumas das partes (particularmente, as linhas de execução cruzadas rápidas após os riffs pesados ​​de abertura) eram complicadas de tocar na nova afinação que ele estava a usar, mas como eu tocava na afinação padrão, deveria tocá-las!!!!!
Se achas que tocar ao lado do Robert é enervante, deverias tentar tocar as suas partes difíceis com ele sentado ao lado.
Para ser justo, ele não tem sido nada além de encorajador. Agora toco coisas que pensei que nunca seria capaz de tocar num milhão de anos.


M.I. -  Quando tocas com King Crimson, há muita improvisação? Alguma vez deu errado?

Temos algumas músicas em que sabemos como começa e como termina e o que está no meio depende da magia da sala naquela noite.
Não me lembro de nada que desse errado.
No entanto, algumas das peças mais modernas de Crimson são muito complicadas, interligadas e parecem um quebra-cabeça musical. Uma noite, no Red Bank, em New Jersey, enquanto tocava “Construction Of Light”, o Tony Levin chegou cerca de duas batidas antes do tempo. Foi um acidente de carro completo. Continuámos a tocar ou, pelo menos, os bateristas e o Tony tocaram. Eventualmente, o Tony voltou para a parte em que deveríamos entrar.
Houve um suspiro coletivo de alívio. Contudo, o Robert e eu pensamos que estávamos de volta ao início e os bateristas pensaram que estávamos no final da música onde aquela secção volta novamente.
Portanto, arrancámos a derrota das garras da vitória.


M.I. -  Como é tocar com três bateristas? Qual deles, normalmente, o resto da banda segue? Porque, muitas vezes, os ritmos são diferentes, certo?

Bem, o Gavin Harrison faz todos os arranjos incríveis e intrincados de bateria. Esse era o plano do Robert com os três bateristas. Para o Gav ficar no comando e organizar as peças.
Por isso, quando há três bateristas a tocar, é realmente como se fosse um só baterista com 12 membros. Não há duplicação, todas as partes se encaixam umas nas outras.
Como consequência, se alguém na banda (incluindo o Robert) se perder, o Gavin é o primeiro que procuramos em busca de pistas. Francamente, ele é incrível.


M.I.- King Crimson, em digressão, costuma mudar o set list a cada concerto. Ao mesmo tempo, costumam dar concertos de três horas! Não é complicado conciliar tantas músicas?

Er ... Sim.
Principalmente, no início da tour. É quando a lista muda de forma mais significativa. Recebemos o set list da noite à hora do almoço, por isso, temos algumas horas para entrar em pânico e tentar lembrar como vai uma música específica que não tocamos há algum tempo. Em seguida, examinamos essas novas adições nos testes de som.


M.I. -  O que distingue o teu som e música, como Jakko Jakszyk, de King Crimson?

Bem, como ouvi Crimson durante os meus anos de formação musical, acho que faz parte do meu DNA musical. No entanto, também tenho muitas outras influências. Por isso, as músicas desse álbum que escrevi especificamente para Crimson (mas que decidimos não estarem incluídas no repertório) soam diferente do que soariam se tivessem sido ensaiadas e “Crimsonisadas”.
Estas são as minhas versões dessas canções, por isso, os arranjos estão sujeitos ao meu ouvido. Suspeito que, também, muito mais vocais.


M.I. -  O que podemos esperar de “Secrets & Lies”? Será um trabalho tão pessoal como “The Road to Ballina”, por exemplo?

Bem, é mais um registo convencional do que isso. As músicas possuem estrutura e secções. Mas parte do assunto é extraído de uma fonte semelhante. Por isso, sim, em termos de temáticas, é em grande parte tirado de momentos e incidentes pessoais.


M.I. -  O teu último trabalho a solo foi há mais de dez anos (“Waves Sweep the Sand”, 2009). Quais são as grandes diferenças entre esse e “Secrets & Lies”?

“Waves Sweep The Sand” não era um álbum, propriamente dito, mas mais uma coleção de pedaços que não fizeram parte do álbum anterior “The Bruised Romantic Glee Club”.
Por isso, é com esse álbum que deve ser feita a comparação.
Acho que este álbum é mais focado. Acho que certamente progredi em como foi feito e como soa.


M.I. -  “Secrets & Lies” era uma necessidade, fazer algo fora de King Crimson, ou era algo que estava a fermentar há algum tempo?

Bem, tenho escrito principalmente para Crimson, pois é o meu trabalho diário. Algumas das coisas que apresentei ao Robert não funcionaram, mas eu estava convencido de que tinham mérito e não queria que se perdessem. Além disso, escrevi coisas que nunca pensei serem adequadas para Crimson. Thomas Webber, da Inside Out, estava muito ansioso para que eu fizesse um álbum a solo, por isso em parte, foi a sua confiança e incentivo que me pressionaram a fazê-lo. E depois de começar, aquilo ganhou vida própria.


M.I. -  Com o passar dos anos, ora fazias parte de uma banda, ora decidias seguir o teu caminho a solo. O que preferes? És mais um jogador de equipa ou um lobo solitário? O que é mais fácil: fazer um álbum sozinho ou com uma banda? Eu sei que te consideras um pouco ditatorial...

Bom, acho que FUI ditatorial quando era mais jovem. Mas adoro estar numa banda.
Quando se trata de uma gravação, é claro que gosto de fazer o que quero e isso pode ser difícil quando tens outras personalidades atirando opiniões.
Fiz alguns discos colaborativos com o Gavin e, embora tenhamos gostos e opiniões semelhantes, há momentos em que simplesmente não concordamos. Isso pode ser complicado, mas às vezes são essas diferenças que tornam algo único e especial.
Dito isso, quando tens acesso ao tipo de músicos que tenho a sorte de ter, não ditaria o que deveriam tocar. Na verdade, isso faz parte da alegria de fazer o álbum. Transformar uma faixa de bateria programada em algo que o Gavin inventa, é sempre uma alegria. Ele, frequentemente, leva a música para um lugar que eu nunca teria concebido. O mesmo com o Tony Levin. Ele vem com essas peças incríveis que eu não teria pensado.


M.I. -  Ao longo da tua longa carreira, colaboraste com artistas e bandas de renome, dos mais variados estilos. Existe um género que não tens coragem de tocar? Aquele que sabes que se tentasses nada de bom sairia.

Ha! Bom, não acho que me sentiria confortável a tocar country e western. Mas tenho certeza de que nunca ninguém me pediria isso. Por isso, acho que estamos seguros.


MI.- Inglaterra sempre foi um viveiro de grandes artistas e bandas. Provavelmente, os melhores do mundo. Com quem sonhavas dividir o palco?

Tive muita, muita sorte de ter trabalhado com tantos dos meus heróis de infância. Dos quais não sobraram muitos. Sou, no entanto, um grande fã de Kate Bush e Peter Gabriel.
Os dois vieram ver Crimson (a Kate, por três vezes!) e foram muito elogiosos, mas nenhum dos dois entrou em contato, por isso, tenho certeza de que continuará a ser apenas um sonho!


M.I. -  Música à parte, também gostas de trabalhar com comédia. Já apareceste em programas de televisão, festivais de comédia... Foi uma carreira perdida ou é apenas algo que gostas de fazer de vez em quando?

Era ator quando era mais jovem. Estava no National Youth Theatre. Eu adoraria atuar mas, provavelmente, já é um pouco tarde para explorar essa carreira.


M.I. -  Depois que toda essa loucura pandémica terminar, há planos para concertos ao vivo? Em próprio nome ou num projeto conjunto.

Sim. Adoraria fazer alguns concertos a solo e planeei fazer isso. Também tinha um concerto individual no festival de Edimburgo, baseado em "The Road To Ballina" em agosto, antes da pandemia cancelar todo o evento.
Tenho, também, outras ideias nas quais estive a trabalhar com alguns amigos.


M.I. -  Alguma última palavra para os nossos leitores?

Ei. Obrigado pela entrevista. Espero que seja uma leitura interessante e vos incentive a ouvir o álbum.


M.I. -  Deixa-me mais uma vez agradecer por responder às nossas questões. Continua a fazer o que fazes de maneira brilhante e fica seguro!

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Entrevista por Ivan Santos