About Me

Entrevista aos Tomorrow’s Rain

 

Muitas surpresas foram reveladas neste álbum, chamado “Hollow”, via AOP Records, no dia 11 de setembro. Querem saber porquê? Yishai Sweartz gentilmente conversou com a Metal Imperium e partilhou os seus pensamentos, medos, os convidados e o que o influenciou. 
Este é um álbum obrigatório e incrível. Comprem uma cópia!


M.I. - Olá, rapazes. Estou contente por conversar convosco. Vocês começaram com o nome Moonskin, com o vocalista Yishai Sweartz e o produtor, Maor Applebaum, que mais tarde se mudou para LA e trabalhou com Yngwie J Malmsteen e Mayhem. 
Porquê a mudança? Poderiam, por favor, falar mais sobre vocês, enquanto banda e a cena Metal em Israel?

Bem, nós somos os Tomorrow’s Rain, de Tel Aviv, Israel. Eu formei a banda em 2002, com o Maor Appelbaum (atualmente famoso pela masterização em LA) e o guitarrista Raffael Mor. A minha banda anterior, Nail Within, separou-se logo após o álbum de estreia, via Listenable Records, enquanto que o Maor tinha a sua banda anterior, os Góticos Sleepless, que se separaram. Estávamos numa séria crise, tendo de enfrentar o golpe da realidade e do sonho devastado. Começamos a compor músicas passo a passo e era óbvio desde a primeira música, que seria um reflexo dos nossos sentimentos naquela época e a nossa vida estava longe de ser normal e equilibrada, depressão, bebida, ansiedade, stress e ataques de pânico, stress, etc.
A razão pela qual demorou tanto é: quando começamos (como Moonskin) em 2002, a banda foi a nossa salvadora. Nós escrevemos algumas músicas, demos alguns concertos, abrimos para os Epica, aqui em Tel Aviv. Depois começamo-nos a sentir mais normais nas nossas vidas pessoais, menos deprimidos, nós os dois casamo-nos, e tive vontade de ter a minha vida no caminho certo. Sentia-me muito melhor e sentia que não podia subir ao palco, noite após noite, e cantar canções sobre a minha dor e os meus demónios interiores, enquanto me casava, prestes a ser pai (a melhor coisa que já me aconteceu) e sentir-me mais feliz, soaria a falso, iria ser como ir trabalhar, por isso disse ao Maor que não queria continuar com isto, porque não queria fingir. Era uma forma de pensar puramente artística.
Paramos por volta de 2006.
Em 2010, a minha vida sofreu uma mudança séria novamente. Divorciei-me, sentia-me muito triste pelo fim desse relacionamento e a única coisa na minha cabeça, era proteger o meu filho. Estava destroçado, e virei-me para a melhor salvação que conheço: música... cancões… e a banda.
Contactei o Rafael e disse 3 palavras “vamos lá”! É isso, simples quanto isso. E num dia, depois de termos estado no estúdio e um mês depois de termos aberto para os Dark Tranquility, começamos a escrever o material que ouves agora no álbum.
Desde então, escrevemos os álbuns e tocamos com os Paradise Lost, Rotting Christ, Swallow The Sun, Kreator, Tribulation e estávamos prestes a tocar com os Tiamat e Samael e a loucura do Covid 19 começou, infelizmente…


M.I. - O vosso álbum “Hollow” foi lançado via AOP Records, no dia 11 de setembro. Foi produzido, misturado e masterizado por Dory Bar Or. Como se conheceram? De que forma é que ele vos ajudou? Deu-vos alguns conselhos?

Dory é meu amigo há 25 anos, músico talentoso, ótimo guitarrista e gostei da ideia de trabalhar com ele.


M.I. - Falemos das sessões de gravação: as vozes foram gravadas no EG Studio pelo Dory Bar Or. As guitarras e baixo foram gravados no Raffael Mor Studio. Os teclados foram gravados no Shiraz Weiss Studio. A bateria foi gravada no Bardo Studio por Ofer Froind. Porque é que usaram estúdios diferentes? O Dory achava que em cada estúdio, poderiam fornecer e desenvolver o som perfeito?

Para podermos sentar-nos num ambiente descontraído, em vez de sermos cobrado à hora, por um técnico nervoso que não dá a mínima importância para a banda que está a gravar.... 


M.I. - Quantas músicas escreveram antes de se  decidirem por estas? Serão apresentadas no próximo álbum? O que foi mais difícil para vocês: letra, música ou melodia?

No segundo álbum, usaremos apenas novas músicas atualizadas. O que não era bom o suficiente para o debut, ficou sem ser gravado por um motivo, então, é claro que não vamos usar no futuro e vamos escrever músicas cada vez melhores e não usar sobras antigas.
Começamos a escrever as músicas há anos. 2 das canções estão connosco desde os primeiros dias, mas a maioria do material foi escrito nos últimos 3 anos. Foi uma longa jornada para gravar, tantos músicos convidados e lembrando que também gravamos o álbum inteiro em hebraico, assim como para uma edição especial dentro do mercado israelita. Então, gravamos cerca de 18 canções e as partes dos músicos convidados, como Sakis ou Greg etc., foram todas feitas em hebraico por famosos músicos de rock de Israel. Os nomes não são conhecidos fora de Israel, mas os músicos convidados hebreus, como Micha Shitrit, Ricky Gal, Eran Zur, Shlomi Bracha e Avi Balleli, são todos artistas rock muito conhecidos em Israel, desde os anos 80, com álbuns que venderam de 15.000 a 80.000 unidades, em Israel apenas.


M.I. - “É um álbum cheio de tristeza. Sombrio até ao fim, com riffs enormes e vingativos, permeando a escuridão pesada.” Qual a história por trás das canções?

Escrevo apensa sobre a minha própria vida. Eu venho de uma formação poética, lancei um livro de poemas em 1993, chamado “Rage Prophet", em Israel, aos 18 anos. Então, escrever para mim sempre foi a maneira de expressar as coisas que sinto. Escrevo canções desde os 12 anos, mesmo quando escrevo sobre Warrel Dane em "Into The Mouth Of Madness". Escrevo sobre os meus sentimentos durante o último ano da vida dele e o dia em que ele faleceu. Ler as letras do álbum é uma viagem para o meu coração, mas é claro que as pessoas levam a música para onde desejam e é ótimo. É o poder da arte, na minha opinião.
Mas a letra de “Hollow” é basicamente a história da minha vida, por mais dolorosa que seja, mas também é uma história sobre força, sobre enfrentar os medos. Escrever as músicas deste álbum é um ótimo exemplo de como usar essa dor para uma causa boa e criativa, e é mais importante do que quantos discos vendes ou quantos bilhetes e t-shirts vendes. É a capacidade de acordar de manhã sem sentir ataques de pânico, sem querer ficar na cama o dia todo.


M.I. - Vocês também fizeram uma cover de uma música de Nick Cave: “The Weeping Song”. Porquê essa música e não outra? Esta contém os elementos essenciais que procuravas?

É a nossa homenagem ao Nick Cave e a toda a cena do rock gótico escuro dos anos 80. Eu cresci com Bauhaus, New Model Army, Sisters Of Mercy, The Mission, Joy Division, Cocteau Twins, etc., etc. e essas bandas tiveram um grande impacto nos Tomorrow's Rain. Então, é nossa maneira de dizer "nós saudamos-vos".


M.I. - Também há uma versão em hebraico do álbum. Foi difícil de fazer a tradução? O que foi mais difícil? Cantar em inglês ou na língua materna?

Não. Não foi difícil… nós gostamos da viagem.


M.I. - Também têm alguns convidados importantes: Fernando Ribeiro (Moonspeell), Aaron Stainthorpe (My Dying Bride), Anders Jacobsson (Draconian), Spiros Antoniou (Septicflesh), Jeff Loomis (Arch Enemy), Gregor Mackintosh (Paradise Lost), para nomear alguns. Foi difícil escolher os convidados? Quem teve a ideia de contactá-los? Qual foi a opinião deles sobre este álbum?

A minha ideia era recebê-los de braços abertos na nossa casa e fazer com que cada um deixasse algo seu na nossa arte. Pensamos em cada parte e demos a cada convidado exatamente as partes em que achei que eles se encaixariam melhor. Por exemplo, em "Misery Rain", eu tinha uma parte falada, que contava uma história muito pessoal e cada vez que a cantava no estúdio pensava “será ótimo ter o Fernando, dos Moonspell” a fazer esta parte, na mesma maneira, em que ele fez de forma semelhante no “Wolfheart”, que é um álbum que eu adoro. Então convidei o Fernando e ele fez essa parte. Para o Jeff Loomis, nós convidamo-lo para uma música sobre Warrel Dane. O Warrel era um amigo meu e, na verdade, deveria ter produzido o “Hollow”. Por isso, convidar o Jeff Loomis para tocar nesta música pessoal e memorial para o seu amigo de longa data e parceiro, foi uma ótima ideia, etc. etc. acho que reconheces facilmente o solo especial do Greg Mackintosh na "In The Corner Of A Dead End Street" e o mesmo vai para o Aaron, dos My Dying Bride na “Fear”. Todos eles deram-me uma pequena parte deles e, por isso, irei agradecer-lhes eternamente.
A maioria deles são, na verdade, amigos que conheço há muitos anos. Conheci o Sakis, dos Rotting Christ, em 1993, e sempre mantive o contacto. Ele e os Rotting Christ são uma família para nós, também o Anders, dos Draconian, Spiros, dos Septicflesh, Mikko, dos Swallow The Sun e, claro, Kobi, dos Orphaned Land são amigos de há muitos anos. Além disso, Jeff Loomis, embora eu o tenha conhecido pessoalmente apenas em 2003 ou 2004, acho eu, mas já faz 17 anos. O tempo voa rápido. Os Paradise Lost tocaram aqui muitas vezes e abrimos para eles duas vezes e foi assim que conheci o Greg pessoalmente. O Aaron, dos My Dying Bride, é, na verdade, o único que conheci pessoalmente há cerca de 2 anos, mas sou um grande fã dos MDB desde 1991. Ele foi uma das pessoas que sempre quis ter como convidado num álbum. Fizemos todas os contactos por e-mail, mas escrevíamos muito um para o outro e não apenas sobre música. Ele é definitivamente uma pessoa que considero um amigo e é uma grande honra para nós, enquanto banda, tê-lo a cantar connosco.


M.I. - O design da capa foi feito por Ziv Lenzner e tem uma vibração Doom fantástica. Como é que o contactaram e qual é a mensagem por trás disso?

Eu lembro-me de mim mesmo sentado na frente do computador, a verificar sites de muitos designers e artistas de álbuns de Metal e Gótico e 99% parecem iguais. Podes substituir o logotipo e pronto, e eu estava à procura de algo diferente, algo que lembrasse a vibe das capas dos álbuns dos Joy Division, Bauhaus, e até do início dos Darkthrone ou do álbum de estreia dos Danzig, um forte elemento que crie a vibração certa. Então Ziv Lenzner veio à minha mente. Ziv não é um designer de Metal, mas um anatomista e artista em Tel Aviv. Nós crescemos juntos e ele liderava uma banda de Death Metal em 1990-1991, eu sabia que ele entenderia exatamente o que eu queria, liguei-lhe e aqui estamos nós...  Ele fez exatamente o que eu tinha em mente. Não havia necessidade de discutir muitas coisas. Dei-lhe a ideia e a referência e por ser da mesma “escola”, ele sabia exatamente o que fazer.


M.I. - “In The Corner Of A Dead End Street” é como uma cena de um filme. Qual o tipo de filme? Foi difícil criar as filmagens?

É a segunda música que escrevemos, uma música sobre medos internos, paranoia, ataques de pânico e sair desta confusão com o equilíbrio certo, mas também é uma história sobre força, sobre enfrentar os medos. Escrever as músicas deste álbum é uma ótima ferramenta, como usar essa dor para uma causa boa e criativa, e é mais importante do que quantos CDs vendes ou quantos bilhetes ou t-shirts vendes. É a capacidade de acordar de manhã cedo sem sentir ataques de pânico, sem querer ficar na cama o resto do dia.


M.I. - “Into the Mouth of Madness” tem um significado muito pessoal: a perda de um bom amigo. Foi difícil escrever ou essa música ajudou a aliviar a dor?

É sobre o meu amigo Warrel Dane (Nevermore), a estreia dos Nevermore foi lançada em 95 e eu estava totalmente envolvido nisso, os anos passaram-se e eu contactei-os para tocar aqui. Foi assim que conheci o Warrel, depois que a banda se separou, contactei o Warrel para tocar as músicas do "Dead Heart" em Tel Aviv com uma banda local, e foi quando realmente nos aproximamos. Ele passou alguns dias aqui, fomos para o estúdio tocar algumas coisas dos Black Sabbath, comemos e bebemos muito, íamos ver lugares na parte antiga da cidade etc. etc. Ele estava sóbrio nessa altura e mesmo quando os Nevermore tocaram cá alguns anos antes, conversamos sobre o álbum dos Tomorrow's Rain, naquela época ainda em processo de composição, conversamos sobre as ideias para gravar um álbum de covers de canções de rock gótico e eu ofereci-lhe algumas ideias, conversamos sobre ele vir para Israel novamente por 2 semanas para produzir o álbum. Cerca de 2 anos depois, contactei os Sanctuary para tocarem aqui, principalmente para apoiá-lo, mas quando ele veio, percebi em minutos que não estava "connosco", não estava em boa forma, foi triste de ver, e percebi que ele não ia conseguir produzir o álbum, mas o mais importante: eu estava preocupado com ele, estava com medo de que algo ruim estivesse para acontecer, senti isso.
Alguns meses depois, eu estava no carro com a minha (agora ex) namorada e de repente recebi uma mensagem no WhatsApp de um amigo nosso, nos Estados Unidos, a dizer "O Warrel faleceu há algumas horas". Esta música é para ele, eu sinto falta dele, nós convidamos o Jeff Loomis para tocar aquela guitarra incrível!


M.I. - “Fear” encontra profundidade sublime nas suas passagens acústicas e suaves e riffs pesados. Que tipo de medo? A pandemia em que vivemos atualmente?

Medo da vida!


M.I. - “Misery Rain” dá arrepios até ao fim da espinha. Rafael Ortega trabalhou convosco em todos os vídeos. Como conheceram o trabalho de Rafael?

Tomer da banda israelita Subterranean Masquerade falou-me sobre ele. O Rafael fez todos os nossos vídeos. Ele é ótimo.


M.I. - Quais são as tuas principais influências enquanto escreves o material?

Vida, sentimentos, medos e outros artistas e músicas de que gostamos.


M.I. - Que países gostarias de visitar, para apresentar o vosso trabalho, com uma tournée? Terão outra banda para andar em tournée convosco?

É muito cedo e muito otimista para falar sobre uma tournée agora. O mundo está sob ataque e ninguém sabe o que o futuro trará, mas eu gostaria de visitar todos os lugares em que temos fãs, mas é difícil imaginar tournées no momento.


M.I. - Obrigada por conversares connosco. Alguma palavra em particular que gostarias de partilhar com Portugal e com o mundo do Metal em geral?

Recebemos muito apoio e ótimos feedbacks de Portugal nos últimos 2 anos. Quero agradecer por nos apoiarem! Além disso, olá para os nossos amigos dos Moonspell e principalmente para o Fernando, ele é uma grande alma, eu adoro-o! E “Wolfheart” é o orgulho de Portugal para sempre - que grande clássico! Vejo-vos lá e espero tocar para vocês no futuro! Felicidades.

For English version, click here

Entrevista por Raquel Miranda