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Akhlys - “Melinoë” Review

 

Uma das poucas coisas boas a ser retirada do ano de 2020 foi a generosa oferta em termos de lançamentos musicais, a qual, felizmente para nós, distingue-se por não ser uma daquelas previsíveis situações de muita parra e pouca uva. Pode-se assim dizer que houve muitos bons lançamentos em 2020, pena seja que quase não tenha havido oportunidades para os poder presenciar ao vivo…

É tarefa dificil convencer alguém que 2020 não tenha sido assim tão mau, foi um ano que se quer deixar para trás, é verdade, mas se houve algumas coisas boas e “Melinoë” é uma delas. E porquê? Porque este álbum não é um trabalho que vá ser facilmente esquecido, nem em 2021, nem em 2031.

Quem se cruzou com “The Dreaming I”, em 2015, sabe que esta é uma banda a ter debaixo de olho e o mesmo continua a ser válido cinco anos depois. O primeiro tema: “Somniloquy”, não perde tempo em atropelar o ouvinte com uma derrocada de black metal ríspido e intenso, densamente atmosférico e bastante assombrador. O ouvinte não tem como escapar ao vórtice de atmosferas oníricas e igualmente dissonantes. É precisamente aqui na dissonância que está o grande trunfo dos Akhlys, pois a mesma não é composta por estruturas tão rigorosamente complexas que seja preciso saber resolver quatro equações antes de tocar um riff, nem tão pouco, algo demasiado bizarro e cacofónico que puxem a banda para os reconditos do metal mais extremo e inacessível; muito pelo contrário, a dissonância que os Akhlys oferecem é composta por teclados e riffs de guitarra perfeitamente perceptíveis e harmoniosos que conseguem dar destruição e instabilidade, sempre aliadas a uma viagem hipnótica e contemplativa que quando o disco termina de rodar, sentimo-nos como que acordados de um sonho (ou pesadelo, dependendo da sensibilidade de cada um). 

Dito isto, permanece a dúvida sobre se o disco é enganadoramente distorcido, embora cheio de elementos melodiosos ou se serão essas melodias que são enganadoras ao comporem um álbum de natureza opressiva, através de um black metal atmosférico de generosa audição? Este é o tipo de questão que é deixada ao critério de cada ouvinte e que torna este disco em algo especial, que nos vai certamente trazer um sorriso sempre que nos predispusermos a tocar no botão de “play”. 

Regressando ao assunto com que se abriu esta review, 2020 pode ter privado a comunidade metaleira dos espetáculos ao vivo, mas a grande quantidade de lançamentos veio apaziguar esta saudade de atuações, que ainda perdura (e há de perdurar durante mais uns tempos). É através de discos como este “Melinoë” que somos recordados do que é que um álbum forte deve fazer para se destacar: proporcionar uma experiência memorável que, seja em tempos de pandemia, seja no tempo que for, será sempre recordado e apreciado não pelo contexto em que surge, mas sim pelo que proporciona.

Nota: 9/10

Review por Tiago Neves