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Entrevista aos Epica


Desta vez, a Metal Imperium teve o privilégio de conversar com o Mark Jansen, guitarrista e vocalista dos Epica. Super carismático, respondeu às nossas perguntas sobre “Omega”, o oitavo álbum, a ser lançado em breve no dia 26 de fevereiro de 2021, pela Nuclear Blast. Ele explicou por que escolheram o nome do álbum, a orquestração, os instrumentos e como a pandemia afetou o processo criativo.
Ele é um conceituado músico na cena Metal, estudou psicologia e até nos deu alguns bons conselhos sobre esta pandemia. Um verdadeiro cavalheiro!

M.I. - Olá, Mark. Espero que tenhas tido um bom Natal, com boa saúde.

Sim! Tive um Natal muito bom. Um pouco diferente de todos os anos anteriores, obviamente. Mas dentro das coisas que foram possíveis, foi muito bom.


M.I. - Omega é uma letra da Grécia antiga e também o nome do vosso oitavo álbum de estúdio. Porque é que escolheram esse nome? Interessas-te por civilizações antigas? Que parte te fascinou mais? História, psicologia ou mais coisas?

Omega é a variação do Ponto Omega, que é uma teoria, de um padre francês, que diz que tudo e todos estão destinados a ir por uma espiral em direção a um ponto final de unificação. Seria assim, se contasses com o Big Bang. Tudo começa por um ponto de unificação e, no final, tudo volta a um ponto de unificação. Achei que era uma teoria bonita, mas Ponto Omega não nos soava muito bem. Portanto, consideramos apenas Omega como título, em vez de Ponto Omega.
Sim! Adoro civilizações antigas, porque acho que podemos aprender muito com civilizações antigas e realmente acho que, às vezes, civilizações antigas tornaram-se tão avançadas e, por alguma razão, foram lançadas no tempo, quase que exterminadas e a humanidade teve de começar novamente. Porque, como vês, na História, as pirâmides do Egito são construídas, tão bem trabalhadas. Não é possível construir isso por pessoas que não fazem ideia do que estão a fazer. Acho que andamos em círculos e, cada vez que uma civilização fica muito avançada, como estamos agora, algo acontece, e temos de começar de novo. 
É a sabedoria das civilizações antigas que me atrai mais, mas também a arte dos edifícios. Acho que estou sempre à procura da sabedoria que as pessoas tinham naquela altura.


M.I. - Cinco anos passaram entre “The Holographic Principle” e este álbum. O que faz com que este álbum se destaque mais do que os anteriores? São as letras, a orquestração ou a instrumentação?

A orquestração devo dizer, gostei desta forma. Trabalhamos com uma orquestra, em Praga. Quando a orquestra toca toda junta, ganha vida, porque no “The Holographic Principle”, tivemos uma orquestra, mas cada secção foi gravada em diferentes dias. Tivemos a secção dos violinos, dos instrumentos de sopro, percussão. Tudo gravado em dias diferentes. Mas quando tocam todos juntos, acho que é ainda melhor e adoro ouvi-los a tocar a música. Literalmente, a orquestra destaca-se muito neste álbum “Omega”. Também tentamos, no processo de mistura, manter o balanço intacto. Algumas vezes dar prioridade aos guitarristas, outras à orquestra, em vez de o tempo todo ter tudo em “destaque”. E isto assim dá muito mais espaço e dinâmica.


M.I. - Doze canções foram escritas e escolhidas desta vez. Está claro que vocês são compositores incríveis. Já que estudaste psicologia na universidade e já se conhecem há muito tempo, foi difícil escolher as músicas que se adequariam a cada um de vocês? Que tema representa cada membro?

Sim! Se tivesse de escolher para cada membro uma música, que representa cada membro da banda, diria: para a Simone, “Rivers”, talvez do novo álbum, porque acho que a voz da Simone soa muito bonita em baladas. Para o Ariën, diria “Martyr Of The Free World”. É uma canção heavy e o Ariën vem de uma banda de Death Metal. Ele gosta de tocar rápido. Também é uma das suas canções: “Martyr Of The Free World”. Para o Rob diria “The Skeleton Key”, porque ele escreveu essa canção e mostra as capacidades em que eu não presto e ele sobressai. Diria que “Beyond The Matrix”, é a melhor canção que ele escreveu e é uma das canções mais fortes dos Epica. Em geral, quando a tocamos ao vivo, as pessoas adoram. O Coen é o tipo que é realmente um bom escritor/compositor de baladas. Diria que uma das baladas que ele escreveu, adequar-se-ia a Coen. “Rivers” foi escrita pelo Rob, mas a maioria das baladas são escritas pelo Coen. Para mim, "Kingdom Of Heaven" seria adequado para mim, porque adoro canções longas e posso enlouquecer nas canções longas, em todas as direções. É caótica, mas estruturada. É exatamente como sou, na minha vida. Sou caótico, mas também estruturado, ao mesmo tempo, o que soa a contrariedade, mas podem-se tornar mais fortes, de uma maneira positiva. Às vezes, tudo isso pode resultar numa grande bagunça (risos), mas normalmente é um ponto forte.


M.I. - Que temas foram mais desafiantes de cantar e gravar? Têm material suficiente para fazer outro álbum? Talvez um EP?

Acho que “Omega” foi mais desafiante para cantar, porque tentei uma abordagem diferente ao princípio, mas o Isaac não estava satisfeito com o resultado e queria-o de uma maneira diferente. Então tentei de uma maneira diferente e resultou bastante bem. Mesmo que não tenha sido um grande desafio, foi o mais desafiante, porque correu tudo muito bem. Todas as outras coisas que gravei, todos adoraram imediatamente. Foi só uma parte em “Omega”, que experimentei com um tipo de voz diferente, mas ele não gostou, e regravei-o. Mas o resto, devo dizer, foram gravações fáceis. Correu muito bem. 
Não! Desta vez, só temos uma canção, que foi deixada de fora e, mais cedo ou mais tarde, lançaremos essa música também. Mas não escrevemos muitas canções extra desta vez. Concentramo-nos totalmente nas músicas do álbum.


M.I. - Já que moram em diferentes países e esta pandemia não ajudou, como discutiram o processo das canções e música? Foi um desafio encontrarem-se, nestes tempos conturbados, e gravarem este álbum?

As canções e música que discutimos, foi antes da pandemia, quando estivemos juntos. Não tivemos dificuldades com isso. Estivemos frente a frente, a discutir tudo, a trabalhar nas músicas. A pandemia atingiu, quando estávamos quase a acabar de gravar o álbum, por isso, não aconteceu numa má altura para nós. Na verdade, tivemos bastante sorte, por termos concluído as gravações. Eu tive de faltar às gravações acústicas, porque estive em confinamento, em Itália, na minha casa. Foi uma pena. Tive de ver, através da Internet, como é que eles estavam a gravar tudo, para as quatro faixas acústicas. Foi muito triste não poder estar lá, por causa do meu confinamento. Todos tivemos de lidar com as regras locais. Aqui em Itália, tivemos confinamento severo, na época.
Não! Não foi um momento difícil, porque como eu disse, a maioria das coisas estavam acabadas. Foram só as minhas vozes e as da Simone, no final, que não foi possível gravar no estúdio. Tive de gravar a minha parte, no meu estúdio caseiro. E a Simone teve de gravar as partes dela, num estúdio perto do sítio onde ela mora, perto de Estugarda. Foi o único desafio. Para o resto, tudo correu como qualquer outro álbum.


M.I. - O Arien é, sem dúvida, um animal na bateria e toca divinalmente. Foi ele que fez a parte dele? Que baterias usou desta vez para criar o seu som?

Sim, sim, sim! Ele até escreve algumas canções. Ele também é compositor, mas adora as suas baterias. Tem sempre a sua própria abordagem. Quando programamos as canções que ele escreve, com as nossas próprias baterias, deixamos sempre uma porta aberta para a sua própria interpretação, porque ele tem sempre boas ideias, que acrescenta. Ele é totalmente livre com a sua bateria. Claro, que quando algo não se adequa, dizemos sempre: “Arien, aqui não se encaixa! Isto é o que nós esperamos!”. Ou o Joost! Ele tem sempre ideias claras, do que ele quer para a bateria, também. Mas o Arien tem muita liberdade com a sua bateria. Acho que ele é um ótimo baterista. Acho que lhe devemos dar esta liberdade, senão ele sente-se como em confinamento (risos). 
Acho que ele tem um contrato de bateria. Ele usa o kit que lhe é fornecido no seu contrato. Eu não conheço o contrato que ele tem de momento. É melhor verificares no website, o equipamento que ele usa, no estúdio.


M.I. - Para as partes de guitarra e baixo, o Issac, tu e o Rob usaram amps modernas ou vintage? Vamos ouvir alguns sons, para criar algum tipo de atmosfera? Fizeram um guia, para lembrar linhas, que soariam bem, tanto no estúdio como ao vivo?

Tudo vintage! Porque as amps modernas, mesmo que sejam boas, usámo-las, por exemplo, ao vivo e em certas situações, mas para o álbum, é o vintage que funciona melhor. Usamos os nossos Bogner e Bogner Überschalls. São as amps que usamos. Podemos usá-las ao vivo, mas para concertos ao vivo, usamos amps digitais. Realmente ainda acho que o vintage é imbatível.
Sim, sim! Especialmente em “Rivers”! A canção “Rivers” é escrita em sons. E os sons dão-te o estado de espírito. Em algumas canções, alguns sons são mais importantes do que outros. Por exemplo, nas canções mais pesada, há mais energia que interessa e, nas canções mais calmas, há mais sons que constroem a opressão e a disposição que obténs. Por isso, depende da canção, para onde o ênfase vai, ou mais nos sons ou na energia.
Sim! Tiramos linhas, sem dúvida neste álbum, mais do que nos outros álbuns. Quando temos de ir tocá-las ao vivo, a energia tem de ser cósmica para a multidão. Analisamos que canções no passado, funcionam melhor para festivais, por exemplo. Como “Beyond The Matrix”, “Cry For The Moon”, este tipo de canções. E tentamos no novo álbum, escrever mais algumas nesta direção, para termos um monte de músicas que soem muito bem em festivais, por exemplo. 


M.I. - Vamos falar sobre a orquestração? A “City of Prague Symphonic Orchestra” foi escolhida para o desafio e foi a primeira vez que tiveram uma orquestra inteira. Quão especial foi e porque escolheram esta e não outra?

Esta já fez muitas gravações. Ficamos impressionados com eles e com a sua qualidade. Há duas razões, na verdade. Em primeiro lugar, a sua experiência. São uma das melhores orquestras do mundo. E, em segundo lugar, se tivéssemos gravado com a mesma qualidade, com uma orquestra, na Holanda, teríamos gastado quatro vezes mais dinheiro. E simplesmente não temos esse dinheiro. Por isso, queríamos a mesma qualidade, para o orçamento que tínhamos.


M.I. - Vocês ainda adicionaram mais instrumentos, para dar uma sonoridade mais especial. Podes dizer alguns nomes, por favor?

Por exemplo, a cítara. É um dos meus instrumentos favoritos de sempre. Além disso, gosto de instrumentos de sopro. Não especificamente um instrumento da secção dos instrumentos de sopro, mas quando os instrumentos de sopro tocam juntos, torna-se tão grandioso, dá-me sempre arrepios. Adoro também um da secção dos violinos, o violoncelo. Adoro o violoncelo, é simplesmente um lindo instrumento.


M.I. - Também têm um coro de crianças. Qual foi a parte mais agradável deste processo?

O Coen estava lá nas gravações, juntamente com o produtor Joost, mas à parte das histórias que ele contou, foi agradável de ver as crianças a divertirem-se, a cantar todas as partes. Por isso é que não foi um processo muito rigoroso, pois as crianças deveriam divertir-se. É o que as crianças deviam fazer nas suas vidas. Eles devem simplesmente usufruir. Eles estavam a divertir-se, a brincar um bocado e, depois, concentravam-se em cantar. Quando tens um coro de crianças, é um som que nunca consegues alcançar com um coro de adultos, porque é um som único, que só consegues alcançar com crianças.


M.I. - Joost van den Broek, é, mais uma vez, o produtor. Visto que já trabalharam com ele durante muitos anos, não tiveram dificuldades. O que queriam alcançar desta vez, em que ele vos tenha ajudado?

O produtor Joost é um elemento importante da banda. Ele é um tipo espetacular! Não é só um bom produtor, como também é alguém que mantém um horário, e mantém toda a banda dentro do horário. Ele tornou-se também num grande misturador. Ele tornou-se num “tudo em um” (risos). Sem dúvida, vamos trabalhar com ele no próximo álbum, de novo.


M.I. - “Abyss of Time” é o primeiro single e vocês trabalharam com os Grupa 13. Em que sítio é que o vídeo foi filmado e foram vocês que criaram os trajes?

Os trajes pertencem aos Grupa 13. Eles focaram-se nos trajes e fizeram o trabalho todo. Só tivemos de criar a história com eles. Tudo o resto, foi tratado por eles. Nós chegamos à Polónia, e eles trataram das localizações e das roupas. Só tivemos de fazer a nossa parte do trabalho. E quando conseguimos o primeiro resultado do vídeo, fizemos alguns comentários, eles adaptaram, mandaram-no de volta, até todos estarmos satisfeitos, até tudo ficar pronto.


M.I. - “The Wolves Within” é o próximo single e disseste que esta canção é baseada numa antiga história de uma luta entre dois lobos. É também uma lição sobre nós próprios. Achas que, apesar desta pandemia, as pessoas estão mais miseráveis? Como criaram os efeitos?

Esta é a primeira canção do álbum, que escrevemos. Foi a primeira música e e terminamos o álbum com todas as outras músicas.
Sim! Notei claramente que alguns dos meus amigos, estavam a sofrer e também vi online, que algumas pessoas estão muito tristes. Acho muito importante, mais do que nunca, que apoiemos os nossos amigos e tentemos animá-los, mesmos que não possamos vê-los fisicamente, muitas vezes. Há outras formas de estar lá para os nossos amigos. Acho que alguns dos meus amigos estão tão devastados, que até dizem que não há razão para viver. É muito difícil, também para mim, ouvir esse tipo de coisas. É muito triste que tudo esteja focado na Covid-19, o tempo todo. Mas vejo um grande problema crescente que é a saúde mental das pessoas. Este problema está a ficar cada vez maior. Por alguma razão, não se discute este problema e se continuar da maneira que está, receio que muitas pessoas suicidas cometerão suicídio. É muito importante que isto seja abordado também, porque não é só Covid, Covid, Covid. É também lidar com a saúde mental das pessoas e dar-lhes uma razão para viver, a felicidade na vida... em vez do tempo todo a tristeza do Covid, Covid. Percebi que muitas pessoas estão realmente a sofrer com isso.
Os efeitos do vídeo foram feitos por um tipo holandês que é animador. O seu segundo nome é Knol e ele já tinha feito outros vídeos de animação, com que tínhamos ficado impressionados, e pedimos-lhe que fizesse um para nós. Enviamos os detalhes para lá e para cá, mas ele trabalhou cerca de três meses neste vídeo para fazê-lo. É uma enorme quantidade de trabalho, mas o resultado é muito bonito.


M.I. - Vocês gravaram 4 faixas acústicas. "Abyss o' Time" é a versão pub irlandesa de “Abyss Of Time”, e até fizeram um vídeo disso. O que foi mais desafiante? Cantar em espanhol?

(risos) Cantar em espanhol pode ser difícil para a Simone, que não é uma falante nativa de espanhol, mas ela teve a melhor professora que poderia ter: a Marcela Bovio. Ela é do México. A sua língua materna é espanhol. Ela ajudou a Simone e, juntas, fizeram isso funcionar.


M.I. - Mais uma vez, a "The Epic Apocalypse Tour" foi adiada para 2022. Pensamentos sobre isso? Acontecerá?

Eu não sou o Nostradamus (risos). Claro que quero que aconteça. Está para lá do nosso controlo. Para nós, estamos basicamente à espera que aconteça, como todas as bandas. Todas as vezes temos de adiar, porque a pandemia está a demorar mais do que é esperado. Na verdade, eu era um dos tipos, que disse, no início, que ia demorar, esta pandemia. Todas as pessoas estavam mais otimistas, e planearam com antecedência. Infelizmente, é um grande problema esta pandemia. A única coisa que podemos fazer, é esperar pacientemente e, com sorte, a menor quantidade de pessoas morrerá disto. Isso é o mais importante agora e, quando for novamente possível fazer concertos, estaremos mais do que prontos.


M.I. - Obrigado mais uma vez pela entrevista e Feliz Ano Novo, Mark. Palavras para Portugal e para os fãs?

Feliz Ano Novo e muito obrigado. Muito obrigado a todos por já nos apoiarem há tantos anos. Já tivemos tantos concertos incríveis em Portugal. Passei tantos bons momentos com vocês, pessoal. Agora é um momento difícil e todo o mundo tem dificuldades, neste momento, mas vamos manter o espírito positivo. E, quando tudo isto acabar, estaremos de volta e celebraremos com todos vocês.

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Entrevista por Raquel Miranda