Ill é uma banda de Atmospheric Black/Doom Metal da Bélgica que ressurgiu das cinzas de Quaedt em 2013, reforçada com ex-membros de Natan.
Os Ill lançaram o seu segundo álbum auto-intitulado em 2021 pela Sounds Of Hell Records e têm tudo a ver com atmosfera, preferindo a qualidade à quantidade. O álbum foi gravado durante o confinamento em 2020 e as músicas lidam com visões sombrias e lutas internas, como vícios e vontade de matar.
O Wolf tirou algum tempo para partilhar detalhes sobre o álbum com a Metal Imperium. Fiquem a conhecer melhor esta banda belga de metal extremo...
M.I. – Antes de mais, muito obrigado por dedicarem um tempo para responder às nossas perguntas.
Sem problemas, obrigado pelo pedido de entrevista.
M.I. - Ill é uma banda de Atmospheric Black/Doom Metal que surgiu das cinzas do Quaedt em 2013. Por que optaram pelo nome ILL? Quem/o que está doente?
Quando formamos a banda, estávamos à procura de um nome curto e forte. Um dos membros veio com o nome Ill, e nós gostamos. Procuramos se não havia bandas significativas com esse nome e ficamos com ele. Também era perfeito para um logotipo. E acima de tudo, achamos que o nome da banda se encaixa perfeitamente na nossa música. Portanto, NÓS estamos doentes...
M.I. - Quais são as principais diferenças entre o álbum de estreia “Tabescas Utinam dei Volentibus” e o segundo álbum “Ill”?
Acho que as composições de “Tabescas Utinam Dei Volentibus” foram um pouco mais experimentais em geral. Talvez também um pouco mais psicadélico. O segundo álbum é um pouco mais direto, acho. Ambos os álbuns foram produzidos com um orçamento muito baixo e têm um som bastante orgânico. O que é algo que gostamos.
M.I. - Por que decidiram lançar um segundo álbum auto-intitulado ao invés do primeiro? Isso aconteceu porque “Ill” é perfeito para descrever o estado do mundo neste momento ou já o tinham em mente?
Não tínhamos um título de álbum em mente ao compor as músicas ou entrar no estúdio. E como estávamos a gravar enquanto a histeria do corona estava a acontecer, achamos que esse seria um título adequado para este álbum. O mundo está de facto numa situação doentia, portanto não foi muito improvável escolher este título.
M.I. - As letras deste álbum foram escritas pelo vocalista Vladimir, e tratam de visões sombrias e lutas internas como vícios e vontade de matar. Quem ou o quê é que ele sente vontade de matar?
Ele despreza a humanidade e a sociedade, e isso dá-lhe ideias mórbidas. Uma outra inspiração dele é a sua luta contra o vício em drogas e reabilitação. Ele está “limpo” há vários anos, no entanto. Ele ainda visita um psiquiatra regularmente e toma medicamentos prescritos para os seus problemas mentais. Acho que é tudo o que posso dizer sobre as letras.
M.I. - As músicas do álbum foram escritas pelos guitarristas Dood & DaniHell e a composição musical e arranjos pela banda completa. Foi um processo difícil ou fácil?
Eu considero que foi um processo bastante fácil. Eu tenho tocado em bandas continuamente com o DaniHell desde 2002 e com o Dood desde 2004. Com o Vladimir e o Stof, eu estive em bandas intermitentes, respetivamente, desde 2001 e 2004. Isso significa que nos conhecemos bem como músicos desde que fizemos muito de música juntos e partilhamos muita experiência ao vivo e em estúdio ao longo dos anos. Os guitarristas (sendo DaniHell e Dood) trouxeram as ideias para os riffs e também ideias para as composições. Acho que cerca de 2/3 dos riffs de guitarra foram escritos por Dood, os outros 1/3 por DaniHell. Trabalhamos nisto como uma banda para encontrar os arranjos de cada membro nos seus instrumentos e finalizar a composição como banda.
M.I. - O álbum foi gravado no confinamento do corona em 2020. Quão complicado ou fácil foi quando comparado ao primeiro álbum? A banda reuniu-se no estúdio ou as decisões foram tomadas online?
Não, somos horríveis quando se trata de estar online. Nós reunimo-nos no estúdio para as gravações. Eu pessoalmente adoro gravar a bateria tocando junto com os guitarristas como “guitarras piloto”. E para as sessões de pós-produção (edição/mistura/masterização), havia principalmente 1 ou mais membros da banda envolvidos com o engenheiro de estúdio também.
M.I. – Os Ill têm tudo a ver com a atmosfera e preferem a qualidade à quantidade. Como definem uma música de qualidade? Que critérios deve seguir?
Tem que parecer certa para nós. Trabalhamos nas coisas até que toda a banda esteja satisfeita. Algumas músicas foram deitadas fora no processo de composição ao preparar este álbum. Não existe uma “regra escrita”, mas a música deve ser atmosférica. Mas não sei se isso é realmente um critério.
M.I. – As vossas letras são escritas na vossa língua nativa. Por que optam por fazer assim considerando que podem não ser compreendidas por tantas pessoas como se estivessem escritas em inglês?
Porque o Vladimir se sente muito livre ao escrever e atuar em flamengo, e nós simplesmente não nos preocupamos com o que os de fora querem entender. Por outro lado, acredito que a atmosfera que o Vladimir traz com o seu canto pode trazer a mesma atmosfera que a letra que ele está a cantar naquele momento. Mas isso não significa que ele cantará sempre em flamengo. Uma das músicas em que estamos a trabalhar para o próximo disco está em inglês, por exemplo. No nosso primeiro álbum, o nosso vocalista anterior escreveu e cantou em flamengo, inglês e alemão. A linguagem não é realmente um problema para nós, isso depende do escritor das letras. Além disso, na cena BM, acredito que seja bastante comum ter letras em idiomas diferentes.
M.I. - A última faixa do álbum é “Marche Funèbre” que também é o nome do hino da marcha fúnebre de Chopin. Como surgiu a ideia de fazer a vossa própria interpretação dessa faixa? Quão desafiador foi fazê-lo?
Na verdade, na tracklist do álbum, a faixa chama-se “Dodenmars”, que também significa marcha fúnebre em flamengo. Mas voltando à tua pergunta: estávamos a pensar num final fixe para o álbum, e gostamos dessa peça de Chopin. Por isso pedimos à Sonja Tavormina para organizar e gravar isso para nós. Sonja é uma harpista talentosa que toca harpas acústicas e semiacústicas. Ela gravou para nós, e colocamos alguns vocais com efeitos sobre ela. Acho que é a versão mais sombria que já ouvi daquela marcha fúnebre.
M.I. - Musicalmente, quais bandas/álbuns vos inspiraram para “Ill”?
Para mim, pessoalmente, acho que é muito difícil dizer. Eu ouço uma grande variedade de estilos musicais e bandas muito diferentes. Gosto de BM bruto, mas também de música Death/Doom, coisas de vanguarda, rock clássico, mas também gosto de música clássica instrumental e coros clássicos, ou Goran Bregovic & His Wedding and Funeral Orchestra, alguma música folclórica ou apenas Sòlstafir ou Primordial. Inconscientemente, acho que nos inspiramos em várias coisas que ouvimos, mas não posso dizer que fui mais inspirado por esta ou aquela música para este álbum.
M.I. - O álbum é bastante interessante, inovador e apresenta vários elementos vanguardistas e jazzísticos. Como ficou assim? Foi vossa intenção o tempo todo ou foram adicionando elementos até que soasse perfeito? Todos os membros da banda estavam em sintonia com a decisão?
É apenas algo que fazemos e vem naturalmente. O DaniHell tem uma grande influência nesse aspeto da nossa música. Ele tocava numa banda de jazz/funk há muito tempo. Ele tem isso no seu jeito de tocar e compor, e é por isso que ele precisava de estar na banda. Todos os membros estão bem sincronizados com tudo que é lançado, caso contrário trabalhamos nisso até que todos estejam satisfeitos com o resultado final.
M.I. - Admito que é preciso mais de uma vez para entrar no clima do álbum, porque a cada escuta se descobrem novos detalhes e é incrível ter um álbum que continua a dar-nos cada vez mais. Que reações receberam?
Isso é algo típico para música como essa, acho. Eu chamo-lhe o elemento Pink Floyd dos Ill. Ouvir álbuns tantas vezes, e reconheces algo que nunca notaste antes. As reações são um pouco mistas, mas principalmente positivas. Sempre há quem goste de música do coração, assim. Mesmo que demore algumas rodadas para chegar a esse ponto. E sempre há quem espere um som moderno, mais nítido e mecânico, ou uma música menos “fora da caixa”.
M.I. - A capa inclui um pássaro, algumas árvores e raios psicadélicos... qual o significado de tudo isso? Qual é a sua ligação com o álbum?
A capa do álbum é a parte 1 de 3. As demais partes estão ilustradas no livreto. Na capa, o corvo aproxima-se de um ursinho de peluche com raios a sair dos seus olhos. Esses raios encaixam-se no aspeto psicadélico ou experimental da nossa música. Na segunda parte da obra, o corvo está a destruir e comer o ursinho de peluche. Isso significa a destruição da inocência. Na terceira parte o corvo jaz morto ao lado dos restos do ursinho. De alguma forma, foi a queda do corvo. Na paisagem ao fundo há uma árvore, com uma pessoa pendurada numa corda. Essa pessoa pendurada lá é um elemento da música “Vals Ontwaakt”, onde alguém quer escapar enforcando-se. Tudo isso representa o mundo fodido em que vivemos.
M.I. - O álbum já saiu há sete meses e já o tocaram ao vivo. Como foram os concertos? Como é que os fãs reagiram às novas músicas?
Fizemos apenas 2 concertos locais desde o lançamento do álbum. O concerto de lançamento do álbum foi num local muito agradável, mas com restrições muito estúpidas. Havia apenas uma quantidade limitada de pessoas permitidas no local, e elas tinham que se sentar nas mesas com uma máscara facial. Era uma visão muito estranha do palco. O concerto em si correu muito bem. Depois, tocamos no Bokkenrijderfest, e foi um concerto louco também. Em primeiro lugar, até ao dia do concerto, não sabíamos se o Dood tocaria ao vivo connosco, já que ele não estava a ensaiando connosco devido a uma infeção por corona e ao tempo de quarentena após a infeção. No final, ele tocou e ensaiamos algumas músicas no palco quando as portas ainda estavam fechadas. O outro aspeto louco desse concerto foi que, naquele fim de semana, novas restrições de corona foram ordenadas pelo governo. De uma só vez, todos os locais tinham que fechar às 23h, e tivemos que mudar o horário do evento, e foi um golpe para nós quando se trata da quantidade de visitantes. Imediatamente, tivemos que tocar às 19h. De qualquer forma, aquele concerto não foi a nossa melhor experiência ao vivo, embora o público tenha reagido de forma positiva. Mas é assim que acontece. Aceita-se o que vem.
M.I. - Considerando que muitos concertos foram cancelados devido à pandemia, acredito que vocês não tenham conseguido promover o álbum adequadamente. Estão a pensar fazê-lo este ano?
Estamos a planear alguns concertos este ano, tendo em mente que tudo pode ser em vão, dependendo do que “eles” (governo ou quem quer que seja) decidam. Esperamos fazer alguns concertos, e neste momento, há esperança de que isso aconteça.
M.I. – Os Ill tocaram alguns concertos exclusivos na Bélgica e na Alemanha ao longo dos anos, com bandas como Valborg, Ostrogoth, Gamma Bomb, Sardonis, Natan, Mother, Insanity Reigns Supreme, Marche Funèbre, Necrotic Woods, Myrkvid,... estão ansiosos por voltar à estrada?
Nós adoraríamos promover o nosso novo álbum, e estamos ansiosos para fazer alguns concertos e ou mini tournées aqui e ali.
M.I. - Têm escrito material novo nestes meses entre o lançamento do álbum e agora? A pandemia tem sido uma fonte de inspiração para vocês?
Sim, estamos a escrever material novo com certeza. Se continuarmos assim, podemos gravar algo ainda este ano. Embora isso possa ser demasiado otimista.
A pandemia em si não é uma fonte de inspiração para mim pessoalmente, é apenas uma situação estúpida.
M.I. - Sintam-se à vontade para partilhar algumas palavras finais com os fãs e leitores da Metal Imperium.
Em primeiro lugar, quero agradecer-vos, Sónia, e Metal Imperium pela entrevista. Foi um prazer. Aos leitores da Metal Imperium: apoiem o underground! Continuem a ir a concertos, na medida do possível, e continuem a comprar produtos de bandas underground. Não tomem nada como garantido, o mundo está numa situação estranha e incerta.
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Ouvir os Ill no BandCamp
Entrevista por Sónia Fonseca
