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In Flames - "Sounds of a Playground Fading" Review

Torna-se um pouco estranho tentar compreender a existência de uma banda sem os seus membros fundadores. É como que se estivéssemos a imaginar os Metallica sem Ulrich, os Slayer sem Kerry King e os Megadeth sem Mustaine... não é fácil assimilar isso. Pois foi exactamente o que aconteceu aos In Flames, após a saída do seu único membro fundador, o guitarrista Jesper Strömblad, quando decidiu abandonar a banda em Fevereiro de 2010, devido a problemas pessoais e de saúde. Na altura, este acontecimento fez estremecer as bases da banda, pois Strömblad era um dos principais compositores, dividindo a escrita com o outro guitarrista, Björn Gelotte. Iria ser bastante interessante ver qual a direcção que os In Flames iriam tomar a partir desse ponto, pois Strömblad contribuía com o material mais agressivo da banda, uma parte bastante importante na identificação da sua sonoridade global.

O disco anterior dos In Flames, “A Sense of Purpose” de 2008 foi um pouco desapontante, onde mostrava uma banda um pouco desorientada, originando que o disco fosse um pouco ambíguo e com falta de chama (neste meio, isso quer dizer temas memoráveis), o que era de estranhar, pois o “Come Clarity” de 2006 era um álbum bastante bom. Foi então com alguma apreensão que os seguidores aguardavam este novo lançamento. O resultado poderia ser desastroso, pois sem Strömblad e com toda a música a cargo de Gelotte (apenas a parte instrumental, pois liricamente todo o trabalho é feito por Anders Fridén), o resultado poderia ser ou um disco em que se afirmavam que tinham conseguido superar a saída de um membro importante ou criar um disco onde tudo o que tinham construído se iria desmoronar. O resultado? “Sounds of a Playground Fading”, um disco interessante, muito equilibrado e que é uma prova bastante válida da genuinidade / autenticidade da banda.

Uma coisa salta logo à vista: por muito que os fãs queiram, os In Flames já não são aquela banda que ajudou a criar o death metal melódico sueco, o chamado “Gothenburg metal”, juntamente com os Dark Tranquility e os At The Gates. Eles já deixaram de pertencer a essa elite desde 2002, na altura do lançamento de “Reroute to Remain”, onde decidiram seguir uma direcção diferente dos seus compatriotas, injectando uma nova abordagem e melodia na sua música que não se compactuava com o “standards” do death melódico sueco. Os In Flames são uma banda com uma identidade muito própria e embora saibamos que os seus discos serão sempre interessantes, existe sempre uma dúvida sobre qual a direcção que vão tomar no disco seguinte. E isso é perfeitamente natural para uma banda que já vendeu mais de 2,5 milhões de discos em todos o mundo: a necessidade constante de se actualizar, de se definir, mas mais importante, de escrever temas que sejam estimulantes para o publico e para a própria banda.

O décimo album, com treze novos temas gravados nos seus IF Studios e produzidos por Roberto Laghi e pela própria banda (uma produção limpa e poderosa) mostram uma banda coesa, capaz de escrever temas que soam bastante bem quer seja à primeira audição quer nas audições seguintes, não se diluindo ao logo do tempo.
A entrada do disco “Sounds Of A Playground Fading” é bastante interessante, a meio-tempo e com um refrão bem “catchy”, com as harmonias de guitarra que já são uma “trademark” da banda, bem salientes e as vocalizações de Anders Fridén num misto de limpo-gritado. O tema seguinte, “Deliver Us” (o primeiro single de avanço do disco) é um dos melhores temas do conjunto, fazendo lembrar um pouco “The Quiet Place” do disco “Soundtrack to Your Escape” de 2004. Muito interessante. “All for Me” desenvolve-se num ritmo lento e sombrio, com um bom solo. O quarto tema, “The Puzzle” é rápido e bem pesado, sendo que irá figurar de certeza no alinhamento das actuações ao vivo da banda. Os dois temas seguintes, “Fear Is The Weakness” e “Where The Dead Ships Dwell” são algo semelhantes entre si, num ritmo e construção já bem conhecido da banda. O sétimo tema, “The Attic” é um tema acústico, algo que os In Flames já nos tinham apresentado em discos como “Reroute to Remains”, mas neste caso, num tom bastante mais calmo e com Fridén com uma prestação a lembrar um pouco Bob Dylan. Uma boa malha e bem colocada no alinhamento, como que a fazer a transição para a segunda metade do disco, que abre com “Darker Times”, o melhor tema deste registo. Pesado, rápido, poderoso. Muito bom. Os dois temas seguintes, “Ropes” e “Enter Tragedy” são temas tipicamente In Flames, com um bom trabalho de guitarra e Fridén num registo vocal rasgado. “Jester´s Door” é algo novo no mundo da banda. Um tema estranho, assente numa batida electrónica e com Fridén numa versão “spoken-word” estilo Henry Rollins. Não é “de fugir”, é apenas diferente. As duas ultimas musicas do álbum, “A New Dawn” e “Liberation” são bons temas, e uma boa forma de concluir este disco.

“Sounds of a Playground Fading” é um bom disco, talvez não tanto como os reais fãs o pretendiam, mas é claramente um passo mais acertado que o anterior lançamento, onde pareciam um pouco perdidos. É claro que é mais um motivo de regozijo para os “haters”, aqueles que queriam que os In Flames lancassem o “The Jesters Race” ou o “Whoracle” parte 2, parte 3, parte 4 e por aí fora. Uma coisa é mais que certa: os In Flames são como os Metallica ou os Slayer: nunca iriam (e mesmo que o tentassem, não o conseguiriam fazer) lançar um “Master of Puppets” ou um “Reign in Blood” parte 2 . Simplesmente não faz sentido.

Nota importante neste disco é a reentrada de Niclas Engelin, mais conhecido pela banda Engel para o lugar de Strömblad. Engelin tinha já sido guitarrista da banda entre 1996-1997 (e esporadicamente ao longo dos anos), sendo que agora retorna de vez ao posto de guitarrista ao lado de Björn Gelotte, Anders Fridén, Peter Iwers (baixo) e Daniel Svensson (bateria). No entanto, Engelin não participou na criação deste disco, sendo apenas anunciado já com o disco gravado.

Com este disco, os In Flames mostram qual o caminho que querem continuar a seguir, independentemente do que aqueles que detestam a banda digam. Os que interessam são aqueles que conhecem e sabem quem eles são, pois é por eles que as bandas ainda existem. Ou como dizia Anders Fridén a uma conhecida publicação inglesa em 2008: “No dia em que deixarmos de sentir a energia do publico, é a altura de terminar”.

Acho que ainda não chegou a hora dos In Flames terminarem, pelo contrário. Vinte e um anos anos volvidos, é a altura ideal para um novo nascimento da banda, um reinventar do seu som e da sua atitude. Mesmo que seja sem os seus membros fundadores.

Nota:
7.8 / 10

"Sounds of a Playground Fading" track list:

1. Sounds Of A Playground Fading
2. Deliver Us
3. All For Me
4. The Puzzle
5. Fear Is The Weakness
6. Where The Dead Ships Dwell
7. The Attic
8. Darker Times
9. Ropes
10. Enter Tragedy
11. Jester’s Door
12. A New Dawn
13. Liberation


Review por João Nascimento