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Entrevista aos Primordial


Senhores do Metal irlandês, os Primordial lançaram recentemente mais um álbum, de nome “Redemption At The Puritan’s Hand”. Numa conversa em diferido, apresento-vos um Alan A. Nemtheanga directo e crente nas suas palavras, algumas vezes de acordo e outras vezes não tão de acordo… Mas o que se pede numa entrevista é esclarecimento. Vejamos, então o resultado.

M.I. - Primeiro, deixa-me congratular-te por mais um grande disco! “Redemption At The Puritan’s Hand” segue o mesmo caminho de “To The Nameless Dead”, uma vez que ambos foram considerados «álbum do mês». Sentes que isso seja relevante?

Relevante para quê? Não sei, apenas nos concentramos em tentar criar um álbum forte e o resto é com a imprensa e os fãs. Não fazemos álbuns de ânimo leve, por isso estou contente que os verdadeiros fãs continuem confiantes para que o resultado seja forte.


M.I. - Como fã e ouvinte, achei que “Redemption At The Puritan’s Hand” está mais profético do que qualquer trabalho dos Primordial. Pensas o mesmo?

Talvez seja. Não sou um pregador, mas desta vez existem, definitivamente, mais temas religiosos e sente-se a nossa própria mortalidade a pesar nas músicas. Após todos estes álbuns e todas estas letras escritas, tendo a reagrupar tudo depois de fazer um disco, tento olhar para o mundo de um ângulo diferente e, desta vez, debrucei-me sobre a morte e a espiritualidade; assim, como eu disse, parece natural essa tal abordagem. Talvez seja profético.


M.I. - O que é a Mão do Puritano e porquê receber redenção dessa figura?

Penso que, na vida, procuramos pela redenção que vem das pessoas, que vem das situações, que vem da tentativa de aspirar a algum tipo de estrutura dogmático-teísta para dar sentido à nossa vida e lidar com os fracassos constantes, o que é natural. A referência ao puritanismo significa como eu ou nós, os infiéis, vemos os fiéis. Como o puritanismo e o fanatismo pode oferecer às nossas vidas uma visão mais alargada, a qual aqueles sem deus não conseguem alcançar.


M.I. - Li a letra de “Lain With The Wold” e imaginei que fosse algum tipo de lenda ancestral. É isso?

Não. Pouco do que é tratado em Primordial é inspirado em lendas ou mitos, está tudo baseado na realidade e trata do mundo em que vivemos. Esse tema é inspirado no livro “Steppenwolf”, de Herman Hesse. É basicamente sobre quem tem instinto animal.


M.I. - Os Primordial misturam vários temas como Paganismo, Mitologia e assuntos Bíblicos. Devido a toda esta mistura, achas que os Primordial podem ser mal interpretados?

Será que somos? Existem poucas referências ao Paganismo. Afinal o que é Paganismo? E praticamente não há referências à Mitologia. Isso é um equívoco comum, porque somos muitas vezes colocados na cena do Metal Pagão e as pessoas, na realidade, não lêem as letras ou não lêem as «liner-notes» devidamente. Existem algumas referências «pagãs» muito simples neste álbum, existem no primeiro e existem em temas como “Golden Spiral”. Mas por exemplo, o “To The Nameless Dead” retrata mais a Primeira Guerra Mundial e a construção de nações no Séc. XVIII/XIX do que mitologia! Isso é claramente explicado nas «liner-notes»! “The Coffin Ships” é, por exemplo, uma música baseada em eventos actuais e não em mitologia.
Temas bíblicos, sim, existem alguns neste novo disco, uma vez que lida com fé e espiritualidade. Algumas pessoas podem, de facto, perceber-nos mal, mas, pessoalmente, acho que as referências são bem claras. Dito isto, prefiro que as pessoas falem e perguntem o que quero dizer do que não leiam as letras e falhem a mensagem da banda.


M.I. - Penso que, obviamente, recebem muitos e-mails por parte dos fãs e acredito que fales com muitas pessoas. Algumas delas bastante ansiosas por um novo álbum ou por um concerto em breve, não?

Sim, claro. Mas penso que sabem que têm de esperar, apesar de não sabermos o que nos reserva o futuro. Eu estou quase sempre disponível para discutir sobre tudo, quer seja na Internet, quer seja na zona do merchandise. Sou uma presença bem visível.


M.I. - Li no selo que vinha no CD, e citando a RockHard, que os Primordial são “a voz do Metal irlandês”. Usando estas palavras, será que a banda carrega algum tipo nos ombros devido a este tipo de declarações?

Não, isso não me incomoda nada. Não presto muita atenção a esse tipo de hipérboles, apenas faço a minha cena e falo o que me vai na cabeça. O Götz [Kühnemund] e o pessoal na RockHard sabem disso e se é isso que ele escreve, então sinto-me lisonjeado. Apenas carrego a bandeira e digo o que penso!


M.I. - Quorthon ainda é uma grande inspiração, não?

Claro. Bathory será sempre a banda que mudou a minha vida e a minha direcção musical, muito mais até do que qualquer banda ao lado de Iron Maiden! Penso que ele mostrou que podemos criar Metal épico num ângulo cultural sem comprometer.




Entrevista por Diogo Ferreira